"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
terça-feira, 29 de março de 2016
Central eléctrica flutuante em Nacala, mais um negócio pouco claro da EDM que não resolve o défice energético do Norte de Moçambique
Os Presidentes de Moçambique e da Zâmbia inauguraram, no passado dia 19, com muita pompa e promessas de energia de mais qualidade uma central eléctrica flutuante que está ancorada no Porto de Nacala. Acontece que quase a totalidade da electricidade que vai ser produzida pelo navio MV Karadeniz Powership Irem Sultan é destinada ao país vizinho e do negócio, que aconteceu sem concurso público, só se sabe que vai dar lucro mas ninguém revela quanto custa aos moçambicanos nem qual é o impacto desta fonte de energia não limpa ao nosso meio ambiente.
Desde finais de 2010 que a empresa estatal que detém o monopólio da distribuição de energia no nosso país, a Electricidade de Moçambique(EDM), opera em défice energético particularmente porque a Hidroeléctrica de Cahora Bassa(HCB) já não tem mais energia disponível para o mercado nacional, devido aos compromissos futuros assumidos com a África do Sul e o Zimbabwe, e que serviram de garantia para o empréstimo do pagamento da reversão da barragem do Estado português para o moçambicano.
A solução da EDM tem sido adquirir electricidade à produtores independentes de energia eléctrica que a vendem por um custo bem mais alto do que o da “nossa” HCB, que é de 3,5 dólares norte-americanos por quilowatt/hora(kWh).
“A tarifa de energia da barcaça está na ordem dos 14,0 dólares norte-americanos por kWh mas será custeada pela Zambia”, explicou Sérgio Parruque, o director comercial da estatal moçambicana,em entrevista por correio electrónico (email).
Oficialmente 111 megawatts(MW) de energia serão produzidos na central eléctrica flutuante, que é propriedade da empresa turca Karadeniz Powership Co., que conecta-se com as linhas de transporte de energia de Nacala e daí é distribuída até Tete onde conecta-se às torres zambianas, pelo meio alimenta também as províncias de Nampula, Cabo Delgado e Niassa.
“(...) Dada a sua localização geográfica (física), os consumidores da Electricidade de Moçambique irão obter vantagens consideráveis, pois ela irá melhorar a estabilidade do sistema eléctrico de transporte na região Norte e aumentar a fiabilidade de abastecimento de energia aos consumidores domésticos e Industriais da mesma região”, esclareceu o director comercial da EDM.
Ainda de acordo com Sérgio Parruque, “a EDM irá cobrar pelos serviços de utilização da Infraestrutura de transporte de energia de Nacala, obtendo uma receita de 24 milhões de dólares norte-americanos durante 2 anos que será acrescido ao custo de energia à Zambia. Portanto podemos considerar que há um beneficio mutuo para Moçambique”.
Acontece que a Zâmbia está comprar 100 MW, dos 111 MW que vão ser produzidos por esta central flutuante turca, o que quer dizer que sobram apenas 11 MW para os moçambicanos.
Só a cidade de Nacala-Porto tem um défice energético de 30 MW, portanto não é verdade que a região Norte vai ter “energia de melhor qualidade e maior segurança energética” como declarou o Presidente Filipe Nyusi no acto oficial, ladeado pelo seu homólogo Edgar Lungo.
Entretanto o @Verdade apurou que em termos práticos a energia que será vendida à Zâmbia será proveniente da Hidroeléctrica de Cahora Bassa e a energia produzida por esta central flutuante irá ser usada para cobrir os 100 MW que deixarão de ser transportados de Tete para as três províncias do Norte de Moçambique, o que a confirmar-se poderá efectivamente melhorar a qualidade da energia fornecida, contudo o défice energético mantém-se.
O Executivo de Nyusi, a EDM e até mesmo a empresa turca não revelam quanto custa o aluguer desta central eléctrica flutuante contudo, olhando apenas para o preço que a energia por ela produzida será vendida, cerca de quatro vezes mais cara do que a HCB vende, não se consegue perceber a viabilidade deste negócio que aconteceu sem concurso público, mais um entre os muitos realizados pela companhia estatal de energia moçambicana.
Para gerar energia esta central flutuante da Karadeniz Powership Co., que está no Porto de Nacala desde meados de Fevereiro, usa óleos de combustíveis pesados com baixo teor de enxofre, um derivado de petróleo. Não são conhecidos estudos do impacto ambiental desta central eléctrica, não foi possível apurar se a barcaça dispõe de sistemas de tratamento das emissões atmosféricas ou se possui locais de armazenamento temporário dos óleos usado e resíduos combustíveis líquidos.
O drama da energia sem qualidade, e o défice energético, está longe de estar resolvido no Norte, assim como no Centro e no Sul do nosso país.
A chamada “linha Centro-Norte” devido a sua extensão, de cerca de 1000 quilómetros, regista perdas de pelo menos 5% da energia que transporta.
As previsões da EDM indicam que ao ritmo actual a escassez de energia só no Corredor de Nacala será de 180 MW, em 2017, poderá aumentar para 250 MW, em 2021, e a solução passa não só pela construção de novas fontes de energia mas também pela renovação das actuais linhas de transporte que estão obsoletas.
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