Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Entre a mediocridade e a subserviência
Alguns dirão que é um exagero e que estou inventando ou vendo algo que não existe. Mas um pouco de atenção ao que a elite moçambicana tem oferecido mostrará que não é mentira.
Há elites e elites. Há os que gostam de ser considerados bem-sucedidos e intelectuais de gabarito.
Há os que se declaram e são considerados empresários de sucesso. Abundam plagiadores que acabam sendo convidados permanentes dos debates televisivos.
Há escribas de todo o tipo, desde os que escrevem por encomenda aos que tentam remar contra a maré monocromática.
Há esquemas que devem ser furados através da subserviência e do seguidismo para que se ganhe algum que dê para empurrar mais um dia. Este é um retrato verídico, embora não total, de Moçambique com as suas elites e intelectuais.
Muito do que se questiona e se reclama no domínio sociopolítico e económico teria outros contornos se tivéssemos uma intelectualidade e elites com outra fibra.
Se antes era considerado indisciplina e um perigo questionar os “iluminados dirigentes”, depois tornou-se de bom-tom concordar com os mesmos e jamais criticá-los.
Depois
de alguns de pluralismo político, teremos todos esquecido dos dias de ontem, em
que a influência do partido único era determinante para tudo. Quem tinha a faca
e queijo na mão eram os “dirigentes”. Quem pensava eram eles e quem podia falar
eram eles.
Na busca da supremacia e da hegemonia política, o regime moçambicano utilizou, através dos tempos, diferentes instrumentos e mecanismos. A coerção bruta terá sido utilizada durante algum, mas depois foi abandonada, porque a opinião pública internacional ficava ofendida. De um duro sistema político que desembocou num Estado policial assustador. Só quem não viveu os tenebrosos tempos das “guias de marcha e da vigilância popular” exercida pelos grupos dinamizadores não possui elementos de comparação para aferir o que significava aquele tipo de regime ou de situação. As alegações de que havia que defender a soberania são válidas, mas não encerram o assunto, pois houve uma clique que se aproveitou de factos conjunturais para instalar uma ditadura sangrenta em Moçambique.
E os que se apoderaram e “privatizaram” Moçambique foram assessorados e legitimados por parte da intelectualidade que existia. De elite intelectual apoiante sem reservas da oligarquia dominante emergiu gente muito poderosa e intocável.
Uma situação de mendicidade generalizada produziu seguidistas à escala industrial. O acesso a qualquer coisa, desde a educação à saúde, ao emprego e à progressão na carreira passou a ser associado à pertença ou filiação partidária num partido que se pretendia puro e imaculado. Esta áurea de pureza foi sendo construída através dos intelectuais servilistas que alinhavam com “os eleitos”.
Moçambique foi-se tornando num “dumbanengue” em que se trocavam favores numa escala determinada pelos detentores do poder.
A escolha entre a subserviência e a verticalidade deve ser feita para que surja uma verdadeira elite em Moçambique.
Existe uma história recente de adulteração ou de omissões graves da verdade histórica que contribuíram para escamotear a verdade.
Construíram falsos heróis e fizeram todo um povo engolir trapaças.
Uma mediocridade generalizada ao nível das instituições governamentais alastrou-se para o domínio privado e também não poupa aquilo que noutros quadrantes se chama “elite”.
Sofre-se de falta de soluções porque os que deveriam pressionar nesse sentido estão conluiados com quem desnatura o país.
Quando a “intelectualidade” se esquece propositadamente de que Moçambique teve os seus “gulags”, é perigoso. Quando a elite político-financeira local ignora ou pretende vender a ideia de que M’telela não existiu, estamos realmente numa grave situação de lavagem cerebral violenta de toda uma sociedade. Reconciliar os mortos e depois aceitar fazê-lo para com os vivos é um passo que deve ser dado com urgência.
Temos uma elite que até fica bem na fotografia, mas sem substância nem esqueleto. Andam muitos aperaltados e exigindo tratamento preferencial sem que nada o justifique. A cada quinta-feira, há quem tem coragem de exibir falsificadores da história de ego inflamado clamando serem videntes ou depositários de uma verdade que nunca teve qualquer relação com ela.
Perguntemo-nos o que fizeram individualidades que chegaram a presidentes da CNE após terem sido reitores de universidades públicas?
Conseguiram conferir ou dar credibilidade à Comissão Nacional de Eleições? Conseguiram eliminar o espectro da fraude? Conseguiram realizar eleições justas, livres e transparentes? Infelizmente a resposta é um rotundo “Não”.
Não tenhamos vergonha de dizê-lo, porque corresponde à verdade: a maioria dos nossos escritores, poetas, intelectuais, empresários, pastores, declamadores são subservientes e condicionados pela “barriga”.
Não é só a CNE/STAE/CC que tem culpas no cartório para o desenlace que houve em Outubro de 2014, mas muito mais gente.
Há uma máquina a reclamar desmontagem minuciosa para a que a democracia tao propalada tenha alguma hipótese de vingar entre nós.
Aquele que homologou os resultados eleitorais e toda a sua máquina devem ser removidos ou reformados urgentemente.
Há que avançar para a desmistificação do que jamais foi verdade, e sabemos que isso é a suposta existência de cidadãos especiais, donos de Moçambique, paparicados por uma fauna acompanhante incorporando sociólogos, biólogos, economistas, anglicanos e quejandos.
Deixemo-nos de peneiras e de snobismos despropositados.
A paz e a dignidade dos moçambicanos vale muito mais do que os pretensiosismos de quem quer que seja. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 21.03.2016
Na busca da supremacia e da hegemonia política, o regime moçambicano utilizou, através dos tempos, diferentes instrumentos e mecanismos. A coerção bruta terá sido utilizada durante algum, mas depois foi abandonada, porque a opinião pública internacional ficava ofendida. De um duro sistema político que desembocou num Estado policial assustador. Só quem não viveu os tenebrosos tempos das “guias de marcha e da vigilância popular” exercida pelos grupos dinamizadores não possui elementos de comparação para aferir o que significava aquele tipo de regime ou de situação. As alegações de que havia que defender a soberania são válidas, mas não encerram o assunto, pois houve uma clique que se aproveitou de factos conjunturais para instalar uma ditadura sangrenta em Moçambique.
E os que se apoderaram e “privatizaram” Moçambique foram assessorados e legitimados por parte da intelectualidade que existia. De elite intelectual apoiante sem reservas da oligarquia dominante emergiu gente muito poderosa e intocável.
Uma situação de mendicidade generalizada produziu seguidistas à escala industrial. O acesso a qualquer coisa, desde a educação à saúde, ao emprego e à progressão na carreira passou a ser associado à pertença ou filiação partidária num partido que se pretendia puro e imaculado. Esta áurea de pureza foi sendo construída através dos intelectuais servilistas que alinhavam com “os eleitos”.
Moçambique foi-se tornando num “dumbanengue” em que se trocavam favores numa escala determinada pelos detentores do poder.
A escolha entre a subserviência e a verticalidade deve ser feita para que surja uma verdadeira elite em Moçambique.
Existe uma história recente de adulteração ou de omissões graves da verdade histórica que contribuíram para escamotear a verdade.
Construíram falsos heróis e fizeram todo um povo engolir trapaças.
Uma mediocridade generalizada ao nível das instituições governamentais alastrou-se para o domínio privado e também não poupa aquilo que noutros quadrantes se chama “elite”.
Sofre-se de falta de soluções porque os que deveriam pressionar nesse sentido estão conluiados com quem desnatura o país.
Quando a “intelectualidade” se esquece propositadamente de que Moçambique teve os seus “gulags”, é perigoso. Quando a elite político-financeira local ignora ou pretende vender a ideia de que M’telela não existiu, estamos realmente numa grave situação de lavagem cerebral violenta de toda uma sociedade. Reconciliar os mortos e depois aceitar fazê-lo para com os vivos é um passo que deve ser dado com urgência.
Temos uma elite que até fica bem na fotografia, mas sem substância nem esqueleto. Andam muitos aperaltados e exigindo tratamento preferencial sem que nada o justifique. A cada quinta-feira, há quem tem coragem de exibir falsificadores da história de ego inflamado clamando serem videntes ou depositários de uma verdade que nunca teve qualquer relação com ela.
Perguntemo-nos o que fizeram individualidades que chegaram a presidentes da CNE após terem sido reitores de universidades públicas?
Conseguiram conferir ou dar credibilidade à Comissão Nacional de Eleições? Conseguiram eliminar o espectro da fraude? Conseguiram realizar eleições justas, livres e transparentes? Infelizmente a resposta é um rotundo “Não”.
Não tenhamos vergonha de dizê-lo, porque corresponde à verdade: a maioria dos nossos escritores, poetas, intelectuais, empresários, pastores, declamadores são subservientes e condicionados pela “barriga”.
Não é só a CNE/STAE/CC que tem culpas no cartório para o desenlace que houve em Outubro de 2014, mas muito mais gente.
Há uma máquina a reclamar desmontagem minuciosa para a que a democracia tao propalada tenha alguma hipótese de vingar entre nós.
Aquele que homologou os resultados eleitorais e toda a sua máquina devem ser removidos ou reformados urgentemente.
Há que avançar para a desmistificação do que jamais foi verdade, e sabemos que isso é a suposta existência de cidadãos especiais, donos de Moçambique, paparicados por uma fauna acompanhante incorporando sociólogos, biólogos, economistas, anglicanos e quejandos.
Deixemo-nos de peneiras e de snobismos despropositados.
A paz e a dignidade dos moçambicanos vale muito mais do que os pretensiosismos de quem quer que seja. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 21.03.2016
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