18/08/2019
A consultora Eurasia considera que o Governo de Moçambique só vai voltar à mesa das negociações sobre a dívida oculta em março do próximo ano, o que atrasa um eventual programa do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O primeiro-ministro de Moçambique, Carlos Agostinho do Rosário, intervém na conferência de imprensa sobre o anúncio da suspensão do Banco Mundial de alguns empréstimos após a descoberta de perto de 1,4 mil milhões de dólares de divida oculta, em Maputo, Moçambique, 28 de abril de 2016. O Governo moçambicano reconheceu na terça-feira a existência de uma dívida fora das contas públicas de 1,4 mil milhões de dólares (1,25 mil milhões de euros), justificando com razões de segurança de infraestruturas estratégicas do país. ANTÓNIO SILVA/LUSA Lusa
A consultora Eurasia considera que o Governo de Moçambique só vai voltar à mesa das negociações sobre a dívida oculta em março do próximo ano, o que atrasa um eventual programa do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Só quando o Parlamento moçambicano retomar a atividade oficial, em março de 2020, é que os debates sobre as propostas de reestruturação deverão começar", escrevem os analistas numa nota sobre a evolução de várias economias africanas.
Na nota, enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas liderados por Darias Jonker acreditam que "o imbróglio jurídico sobre o escândalo da dívida vai provavelmente adiar a reestruturação da dívida", que está em curso e que já mereceu um acordo por parte dos credores da dívida soberana.
"Isso, por seu turno, vai adiar um programa do FMI e prejudicar a estabilidade macroeconómica a médio prazo", acrescentam, notando que "os procedimentos legais simultâneos na África do Sul, em Moçambique, nos Estados Unidos e no Reino Unido evidenciam a complexidade da situação e a resposta confusa do Governo moçambicano".
Os analistas esperam que o antigo ministro das Finanças Manuel Chang, atualmente detido na África do Sul, permaneça no país "nos próximos 12 a 18 meses enquanto os Estados Unidos e Moçambique continuam com os seus pedidos individuais de extradição".
As revelações e a troca de acusações entre alguns dos envolvidos no processo "fortalecem o argumento de que os títulos de dívida soberana e os dois empréstimos comerciais são corruptos e não devem ser honrados pelo Governo moçambicano, mas as autoridades ainda estão dispostas a cumprir o pagamento dos títulos soberanos e de um dos empréstimos comerciais" feito às duas empresas públicas que contraíram empréstimos sem os reportarem oficialmente.
A descoberta de empréstimos contraídos com aval do Estado, no valor de mais de 2,2 mil milhões de dólares (2 mil milhões de euros), mas sem registo nas contas públicas e sem divulgação aos parceiros internacionais levou os doadores a cortarem a assistência internacionais e as agências de rating a descerem a opinião sobre o crédito soberano.
Em consequência, aumentou o rácio da dívida pública sobre o PIB, o que arredou o país do financiamento internacional, atirando Moçambique para 'default' e para uma crise económica e financeira que ainda persiste.
LUSA – 18.08.2019
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