31/08/2019
Por Edwin Hounnou
O regime político tem várias maneiras de como controlar os órgãos de comunicação independentes, sem a gente se aperceber com muita clareza da artimanha e labirintos a que se socorre para combater o pensar diferente. A luta pela afirmação dos órgãos de comunicação não agregados ao regime é muito importante e ajuda a consolidar o Estado de Direito e Democrático.
É preciso não se deixar cair na cilada. Tenho visto órgãos pelos quais nutro simpatia e respeito a enveredarem-se por caminhos tortuosos de combater instituições e pessoas singulares que, de alguma forma, ajudam a despertar a consciência da cidadania e moçambicanidade pela qual sempre me bati. Isso não é salutar. Não ajuda tão-pouco a construir o país que almejamos como justo.
O espírito de pertença a uma nação e a um povo é, antes de tudo, tarefa reservada às escolas, famílias e aos órgãos de comunicação social independentes, sabido que os órgãos públicos têm outras missões como, por exemplo, enaltecer o partido no poder, engrandecer o governo e seus mais altos dirigentes e ofuscar os adversários do partido Frelimo.
Os órgãos de comunicação social independentes têm muito trabalho útil a fazer para o bem da sociedade moçambicana ao invés de se ocupar em atacar pessoas e instituições que se batem pela justiça, igualdade social e preservação do bem comum.
O regime político da Frelimo esfrega as mãos quando vê a gente a se degladiar. As nossas lutas internas, por vezes, sem nenhuma necessidade, deixa o regime bastante contente que não pára de jogar petróleo sobre a fogueira para que fiquemos enfraquecidos.
O regime quer que todos lhe façamos genuflexão (dobrar o joelho) como se faz a uma entidade divina e cantar-lhe hossanas. Recuso -me a desempenhar papel de marionete. A 09 deste Agosto (Sexta-feira), um prestigiado semanário da nossa praça escrevia nos termos seguintes: “Em Manica, o MDM apostou em Inácio Charles Baptista (o colunista Edwin Hounnou), um político que usa a capa de analista para lançar farpas ao regime". Mais adiante, o mesmo semanário dizia que “Em Nampula, o partido no poder dá posição notável ao “analista" e jurista António Boene, colocado em segundo lugar, depois de Margarida Talapa".
Analisando, nota-se uma diferença entre os dois personagens. O primeiro é considerado apenas um político que se esconde por detrás de um nome diferente para lançar farpas ao regime enquanto o outro é político.
A quem serve esta maneira de pensar? Este modo de pensar é uma das formas de ser subserviente ao regime. Atacar quem perturba o regime é servir o regime. Não há dúvidas quanto a isso. Ser controlado pelo regime tem várias formas. Há uma maneira boçal de controle dos media como o que o partido no poder tem feito com o Noticias, Rádio Moçambique, TVM e Domingo.
Existe uma outra mais subtil que receber recados para atacar este ou aquele porque é incômodo, perturba, é chato. Os convites a jantares, acomodação garantida quando se vai às províncias com pocket money gratuito, acesso fácil aos governantes faz parte da estratégia do regime para comprar jornalista para que escrevam a seu favor.
Há governantes que não hesitam em fazer favores a jornalistas para que tenham uma vida folgada e não alimentarem “inveja" pela riqueza fácil dos dirigentes do partido governamental.
Não quero entrar em pormenores da postura desse tipo de jornalismo. Foi assim que o mesmo semanário em causa escreveu, na capa, no penúltimo dia da campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 2018 que “Daviz Simango é arguido na morte de Mahamudo Amurane".
Não é preciso ser um grande analista para entender o alcance dessa maneira de escrever. Simango não teve a oportunidade de dizer a sua versão dos factos nem o semanário se preocupou em ouvi-lo para o contraditório. Não é preciso ser um adivinho para perceber o alcance da intenção subjacente a esse tipo de jornalismo. Este ataque – desnecessário e gratuito – não me fará recuar a minha visão sobre o país.
A minha luta contra as injustiças, o roubo do bem comum, a discriminação no acesso a recursos vai prosseguir. Os insultos, a descaracterização e os ataques não me farão, de forma alguma, desfalecer. Já passei e tenho estado a passar por momentos de grandes dificuldades criadas pelo regime de corruptos e de bandidos, mas, aqui estou firme em pedra e cal.
Não há nenhum vento capaz de me demolir das convicções que tenho vindo a defender porque penso que a minha luta seja luta justa e digna. Não lanço farpas para ninguém. A minha luta faz parte do grande movimento dos moçambicanos oprimidos e discriminados por um regime injusto, assassino e ditador.
Não é uma luta isolada de um político que lança farpas ao regime, enquanto escondido por detrás de um outro nome. Tenho coragem suficiente de matar a cobra e mostrar o pau. Não sou nem nunca fui de esconder a cabeça com medo de represálias ou algo parecido. Não vale este tipo de “ajudazinha" ao regime!
Correio da manhã - 29/08/2019
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