20/08/2019
Com o título "Mateus Pinho Gwenjere - o padre revolucionarista", foi terça-feira lançado na cidade da Beira, um livro que retrata a vida e obra daquele prelado que, para além da igreja, acabou engrenando na política do país como forma de lutar contra o colonialismo português. Da autoria do escritor Joio Baptista Truzão, o livro que contém 338 páginas divididas em duas partes, nomeadamente vida religiosa e política do padre Gwenjere, fala do quão foi a sua luta pela liberdade e defesa do seu povo, principalmente na sua terra natal Murraça, distrito de Caia, na província de Sofala. Aliás, quando foi ordenado padre no início de 1960, Mateus Gwenjere, trabalhou durante algum tempo em Murraça.
O docente e chefe do departamento de Ciências Políticas na Universidade Católica de Moçambique (UCM), Samuel Simango, considerou no acto de apresentação da obra ter sido rica a contribuição que o padre Gwenjere deu em prol da consciencialização de muitos jovens para aderirem a luta de libertação de Moçambique. Simango referiu que no livro existem menções de que em Março de 1977 a Frelimo apreciou positivamente o trabalho meritório desenvolvido pelo padre Mateus Pinto Gwenjere na luta pela libertação de Moçambique. Segundo ele, também faz menção da sua fuga para se juntar ao então movimento de libertação, porque a sua continuação na então província ultramar era insuportável para os portugueses que não queriam que ele se juntasse à Frelimo.
Já Caetano Baptista, também docente, disse que ainda criança e nos seus primeiros anos na escola, ouvia do padre Gwenjere, assim como aprendeu a cantar canções revolucionárias que evocavam a figura dele como um "leão" dada a sua contribuição para a libertação de Moçambique. "Eu não conhecia esta outra parte da história até que em 2012 quando decidi fazer o meu trabalho final do curso em ciências políticas na Universidade Católica de Moçambique, escolhi o tema que tem a ver com a vida e obra do padre Gwenjere. Nessa altura, cheguei a perceber que tudo o que aquele padre queria, era ver o povo moçambicano feliz e bem e esses pensamentos certamente que incomodavam certas pessoas que acabaram o apelidando com nomes feios depois da sua morte”, disse Baptista.
"Durante a realização da minha monografia descobri também que várias vezes o administrador de Caia, naqueles anos entre 1964 por aí, não conseguia fazer desmandos contra a população por intervenção do padre Gwenjere” contou. "Numa das vezes o padre Gwenjere recebeu um grupo de mulheres que saía de Caia até a Murraça que iam ao encontro dele para denunciar os maus tratos que estavam a ser perpetrados contra os seus maridos nas celas do comando na vila sede do distrito de Caia", sublinhou.
"Posto isso, o padre seguiu juntamente com as mulheres para Caia a fim de perceber o que realmente estava a acontecer para estarem presos aqueles homens onde ficou a saber que era mesmo pelo atraso no pagamento de impostos. Ao ouvir isso, o padre pediu aos guardas as chaves da cela em que se encontravam encarcerados os homens abriu e soltou a todos. Em trocas ele ficou dentro da cela até à chegada do administrador', explicou Caetano Baptista. Ele contou ainda que quando era mais novo "fomos ensinados pelos dirigentes deste pais a cantar na escola que o padre Gwenjere e outros que não concordavam com ideais dos dirigentes da Frelimo na altura eram leões e racistas, porque não queriam o bem do povo, quando no fundo eles é que são leões que mataram usaram violência, torturaram todos aqueles que não concordavam com os seus pensamentos"
Durante o lançamento do livro "Mateus Pinho Gwenjere - o padre revolucionarista", também falou Benjamim Madjambe, que disse que o padre Gwenjere foi a melhor pessoa que conheceu em toda a sua vida.
"Era normal na Tanzânia eu ser detido quando ainda criança, estando lá ao serviço do partido e num dos episódios o padre pediu para ficar preso no meu lugar, isso não era só comigo, pois ele lutava contra todas as injustiças perpetradas pelos líderes da Frelimo contra os seus companheiros e mesmo por causa desta discórdia, o padre veio a ser sequestrado e morto e os seus restos mortais não sabemos onde estão enterrados", referiu Madjambe
Já o autor da obra, João Baptista Truzão, disse sentir-se realizado por ver o trabalho por si feito durante muito tempo já nas mãos do povo. "Sinto-me realizado em mostrar ao povo a verdadeira história sobre o padre Gwenjere e não a anterior que não constitui a verdade", sublinhou. "Eu vivi com o padre Gwenjere, estive com ele na revolução achei que tinha uma obrigação de dizer o que foi realmente aquela figura incomparável", frisou. Segundo ele, o livro começou a ser escrito em 2009 por três pessoas e cada um tinha o seu capítulo, mas o objectivo era o mesmo "trazer a verdadeira parte da história sobre o padre Gwenjere". Mas, os outros, segundo o autor, não avançavam vai daí que ele decidiu avançar sozinho com a investigação.
"Em 2017 decidi levar as coisas a sério, fui a Portugal, à Torre do Tombo em Lisboa, para com base em alguns documentos lá existentes investigar. Para além da experiência que eu já trazia de ter vivido e convivido com ele e foi com base nisso que foi fácil para mim elaborar o livro e agora estamos aqui a trazer o produto já pronto para ser consumido pelo povo moçambicano e não só", argumentou Truzão.
De referir que o livro teve a sua primeira publicação na África do Sul sob a chancela de uma editora privada e o seu formato original é em Inglês.
Segundo o autor escrever o livro na língua inglesa facilitou com que o mesmo estivesse concluído mais rápido do que imaginava, porque *se fosse em português haveria de levar mais tempo", reconheceu.
DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE – 15.08.2019
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