sexta-feira, 30 de agosto de 2019
O líder da autoproclamada Junta Militar da RENAMO diz que "vai morrer muita gente" se políticos insistirem em fazer a campanha eleitoral, que começa amanhã.
O líder da autoproclamada Junta Militar RENAMO voltou esta sexta-feira (30.08) a ameaçar com uma acção militar, colocando em causa a segurança da campanha eleitoral, que tem início no sábado.
"Não haverá eleições" caso o Governo não negoceie os acordos de paz com o grupo antes das eleições gerais de 15 de outubro, disse Mariano Nhongo, general da RENAMO, em entrevista à agência de notícias Lusa, um dia antes do início da campanha eleitoral.
"Se insistirem em fazer campanha, vai morrer muita gente", avisou.
O também fundador da Junta Militar do principal partido da oposição disse que não vai assistir ao "arruinar" da democracia com a implementação dos acordos assinados a 6 de agosto entre o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Ossufo Momade - acordos que o grupo classifica de "secretos" e "fruto de um ato de traição", alegando terem sido rubricados à revelia de órgãos do partido.
"Pensa que ao rejeitar [a renegociação] nós vamos para onde?" - questionou o líder da junta, salientando: "somos moçambicanos e continuamos com as armas".
"Comissão mista"
Em declarações à Lusa, Mariano Nhongo anunciou a formação de uma comissão mista, de deputados e generais da RENAMO, para iniciar a renegociação dos acordos nos próximos dias, mas não avançou detalhes sobre os canais de diálogo.
"Já convidei os deputados para formar a comissão que vai negociar com o Governo", disse em declarações por telefone a partir da Serra da Gorongosa, centro do país, acrescentando que um grupo dos parlamentares deverá dirigir-se a uma base do grupo para concertação.
Nhongo espera que a nova comissão o oficialize como novo negociador válido no diálogo com o Governo e inicie diligências para o adiamento das eleições gerais, revisão da lei eleitoral e realização de novo recenseamento.
Sobre os assuntos militares, prosseguiu Mariano Nhongo, a comissão deverá renegociar os acordos de paz e de cessação das hostilidades militares, procurando o enquadramento condigno dos guerrilheiros na polícia, na Unidade de Intervenção Rápida (UIR), em todos os setores do exército e no Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), seguindo os pontos já acordados pelo líder histórico, Afonso Dhlakama, falecido em maio de 2018.
"A Junta Militar tem os pontos [de agenda] para obrigar o Governo a regressar aos que ele tinha assinado com o falecido presidente Afonso Dhlakama" observou.
Ainda segundo o líder da Junta Militar, o grupo ainda não encetou contactos diplomáticos com Portugal e Ruanda, países que o grupo considera exemplos de democracias e cuja mediação solicitou publicamente, além da Cruz Vermelha Internacional, para assistir o novo processo de desmobilização, desarmamento e reintegração social.
"Plano de ataque"
Entretanto, Mariano Nhongo denunciou um plano de ataque de tropas governamentais às bases do grupo na Serra da Gorongosa ao qual ponderou responder.
"Quem quer guerra é Nyusi e Ossufo. Quando houver guerra em Moçambique, o povo moçambicano que pergunte a esses dois homens", disse Mariano Nhongo, considerando que os dois líderes traíram o espírito dos acordos alcançados por Afonso Dhlakama.
A Junta Militar, que contesta desde junho a liderança de Ossufo Momade, elegeu por sua iniciativa, na última semana, Mariano Nhongo como presidente interino da RENAMO à revelia da estrutura oficial do partido.
Contactado pela Lusa, o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, distancia-se da oposição interna.
"Não temos e nunca tivemos nenhum contacto com a junta militar. Nós [órgãos do partido] devemos obediência a Ossufo Momade, eleito presidente da RENAMO", concluiu.
DW – 30.08.2019
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