21/06/2017
Saúdo solenemente a todos que se encontram neste exacto momento a ler esta magna carta. Em primeiro lugar, é de salientar que redijo a presente carta com a tinta vermelha das lágrimas que o povo do meu país, o povo que votou em mim, tem derramado diariamente.
Meus esfomeados cidadãos, excelências…
Meus pobres irmãos, excelências…
Meus homólogos parasitas, aliás, deputados da minha bancada parlamentar. Excelências…
Minha nação, isto é, minha matéria-prima, excelências…
Para começar, quero esclarecer que escrevo a presente carta com o objectivo de narrar, isto é, revelar o que está por de trás da minha barriguda e bronzeada figura. Sim, quero mostrar-vos o avesso moribundo desta lisonjeada pessoa que tanto respeitam, honram e chamam por Sr. Deputado: representante do povo.
Sei e reconheço que é raro um criminoso do meu escalão profissional confessar os seus próprios crimes, mas decidi faze-lo para ver se o povo do meu país deixa de adormecer e toma uma atitude severa perante a injustiça que nós, os políticos, temos patrocinado no meu país e em todo o mundo.
Primeira confissão: sou um grande mentiroso
Meu povo, analfabeto povo, confesso sem nenhuma vergonha e nem ressentimento que durante a campanha eleitoral menti para poder ganhar o teu voto. O que esperavas ou podes esperar de um verme como eu???!!! Eu, o teu magnífico sr. deputado, tenho a língua torta e nunca digo verdades. Fui bem treinado para cuspir veneno e te embebedar psicologicamente. E claramente, durante a campanha eleitoral, tu, povo do meu país, acreditaste cegamente em mim. Prometi um Everest de coisas que naquele momento já sabia que nunca iria cumprir. A única coisa que eu queria era o teu voto e assim que já o adquiri faço o que me apetece.
No dia da tomada de posse, vim às câmaras desses ‘’robots’’ que vocês chamam de jornalistas ou repórteres e jurei cuidar de ti, mas tudo aquilo foi apenas uma absoluta mentira. Agora, tu já sabes disso: no parlamento tomo decisões que só favorecem a mim e ao meu partido. No parlamento só estou para servir os meus interesses, aliás, tu já conheces a lei da selva: cada um por si e ninguém por todos.
Segunda confissão: sou um grande criminoso
Além de ser mentiroso, sou um grande criminoso; até porque estas duas palavras rimam. Eu patrocino roubos, sequestros, assassinatos entre outros crimes que tu, cidadão, conheces muito bem. Presta atenção, quero te revelar um segredo: na minha mansão existem muitas armas de fogo, desde Kalasnikov, AK 47, etc., que os grandes ladrões deste país usam na calada da noite para perpetrar vários crimes. Sabias que esses malfeitores são meus funcionários?
Sabias que muito sangue já foi derramado neste país por detrás da minha sombra? Sabias que de dia sou o tal deputado e a noite sou o capitão do esquadrão da elite? Sabes em quantas cabeças já primei o gatilho? Incontáveis.
Confesso ter matado muitos que se diziam ser honestos. Por exemplo: já decapitei vários jornalistas, procuradores, juízes que tentaram investigar os meus passos. E nada nem ninguém me poderá condenar, porque todos que têm essa competência dependem de mim para terem os seus magros salários, logo, dependem de mim para viver. Além disso, gozo de imunidade judicial e sendo assim, abrir um processo contra mim é vender o seu corpo a um faminto leão. Está claro, contra mim ninguém se levanta. Afinal de contas, quem é o manda Chuva?
Terceira confissão: sou um grande ladrão e um ambicioso psicopata
Caro cidadão, eis a minha terceira confissão. Sou um ladrão por vocação e por mérito. Ambicioso de corpo, alma e mente. Os subsídios que nascem do suor do povo não me são suficientes. A única coisa que me vem à mente quando o dia nasce é pensar na melhor forma de roubar mais dinheiro do bolso do povo. Já sou rico demais, e, ainda quero acumular mais bens. Não interessa se acabo acumulando todo o dinheiro deste país nas minhas contas bancárias. O que quero é ser o homem mais rico do mundo.
Povo, deves perceber a fórmula do canibalismo: a política é a fábrica, o político é o operário e o povo é a matéria-prima. A corrente de ligação entre eles chama-se democracia.
Já pedi vários empréstimos e doações do FMI e do Banco Mundial em nome do povo. E, em contra partida, o povo nunca se beneficiou de nenhuma parcela. Desviei tudo para beneficiar aos meus familiares e amigos. O dinheiro que era para construir mais escolas direccionei à minha fábrica de explosivos e armamento.
O dinheiro que devia ter aplicado na construção de mais hospitais usei para expandir as minhas plantações da "Cannabis sativa". E o dinheiro que devia ter aplicado na expansão da rede de abastecimento de água potável usei para comprar novos ‘’Mercedes’’ para os meus filhos (os reis da ostentação na praça).
Estas são as confissões que, tinha para revelar nesta carta. Cidadãos do meu país, sinto muito por não poder mencionar outros segredos meus. Talvez na próxima carta os mencionarei. Aliás, por favor, não se esqueçam de votar no meu partido nas próximas eleições, pois vocês sabem e sempre gritam: o povo é que está no poder. Mas, assim se enganam, porque com ou sem o vosso voto sempre estarei no poder.
Assinado pelo deputado:
Incógnito Abutre da Nação
@VERDADE - 21.06.2017
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