"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sábado, 20 de maio de 2017

"E quando os lambe-botas falam da trégua, romantizam-na. Floreiam-na."


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Cartas ao Presidente da República (53)
“Um erro não chega a ser erro, até que a pessoa se recuse a corrigi-lo”, (John Kennedy)
Bom dia, Presidente Nyusi. Há cada vez mais um séquito de aduladores seus que tenta, a todo custo, imbecilizar o povo. A partir das redes sociais até aos debates radiofónicos o assunto é o mesmo: o Presidente Nyusi está a trabalhar, por isso que baixaram os preços dos combustíveis, a LAM já pode voar para o espaço europeu, e blá, blá, blá… Francamente, o povo não quer saber o que foi, como foi, mas apenas de que malha é tecida a sua vida no presente.
O Presidente ainda tem muito por fazer e por onde explorar politicamente sem ser pelo discurso estafado do “nós fizemos”, “nós conseguimos”. Esta repetição tende a normalizar o absurdo. Do Presidente da República o povo espera acções concretas e não a reencarnação de um personagem de uma comédia barata, com um guião fraco como esse das capoeiras públicas.
O seu exército de fieis, Presidente, parece querer passar ao povo a ideia de que o Presidente Nyusi é o melhor. Razões? Só a súcia dos camaradas é que as conhece.
Sempre vê Sol onde há nuvens. Vê fartura onde há miséria. Às vezes acho que estamos em dois Moçambiques; um dos camaradas e aduladores (o próspero) e outro do povo (dos My Love e toda a miséria subjacente).
O que os beija-mão tentam transmitir ao povo (não sei se é a seu mando, Presidente) é um insulto à inteligência popular. O debate político, em Moçambique, se tornou mesquinho, para não dizer que é inexistente.
Há analistas medíocres que tentam construir narrativas de baixo jaez para enganar o povo, enquanto eles se lambuzam das migalhas que caem da mesa opulenta do poder.
Até aqui, arrisco a dizer, muitas das decisões tomadas pelo seu Governo, Presidente, são espontâneas. Parece não haver foco. E mesmo as decisões que nos obrigam a elogiá-las, ainda não sentimos o seu efeito. Por exemplo, diz-se que o Metical está a se fortalecer face ao Dólar.
A pergunta é: o que isso significa em termos práticos às famílias pobres de muitos moçambicanos? Se nem o Tseke têm à mesa…
E quando os lambe-botas falam da trégua, romantizam-na. Floreiam-na.
Jamais procuraram saber quais foram os motivos que nos empurraram à guerra. E é aqui onde jaz o erro, porque enquanto não se fizer uma reflexão precisa sobre o que falhou em vários acordos de paz, que os sucessivos Governos da Frelimo assinaram com a Renamo, sempre desembocaremos na mesma instabilidade.
Ou seja, em todos os intervalos eleitorais, teremos guerra!
Os aduladores do Presidente da República tudo o que fazem é uma tentativa vã de proibir o povo de interrogar. Há toda uma necessidade de nos interrogarmos, como povo, se, efectivamente, este é o Moçambique que queremos.
O que nos devia preocupar, sobremaneira, é o porquê o líder da Renamo, o senhor Afonso Dhlakama, ainda continua nas matas de Gorongosa, depois de nos ter concedido uma trégua ilimitada. O que lhe impede de vir à cidade? O que lhe motivou para nos dar essa trégua? Alguém sabe? Será que não se vai indispor, qualquer dia desses, e nos voltar a arrancar essa paz que, ao que tudo indica, anda nos seus bolsos?
Para mim, esses debates radiofónicos, de analistas políticos lunáticos, deviam centrar-se em coisas sérias. O que fazem quando lá estão é aldrabar ao povo e a eles mesmos. Acham que o País vai melhorar a partir das suas lucubrações medíocres? Se Moçambique tende a entrar nos carris (não sei se é verdade), o Governo e quem o chefia, não estão a fazer nada que lhes mereça aplausos. É sua tarefa. Aliás, tarefa essa que me parece que têm dificuldades de levarem a bom porto.
Por isso que querem aplausos em cada finta, sem terem marcado golos.
Moçambique está a perder por Vinte a Zero. É para aplaudirmos isso?!
O discurso de divisionismo, de exclusão, em nada nos vai ajudar como País. A trombeta nos chama, não um chamado para empunhar as armas, embora delas precisemos; não um chamado para a batalha, embora estejamos entrincheirados; mas um chamado para suportar o peso de uma longa e incerta luta, ano após ano, numa luta contra os inimigos comuns do homem: tirania, pobreza, doença e a própria guerra.
É disto que cada moçambicano se devia orgulhar!
E esta não é a hora de os moçambicanos se perguntarem o que o País pode fazer por eles, mas o que eles podem fazer pelo País!
DN – 19.05.2017

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