Assumiu Bobbio, em 1984, no seu livro “Il futuro delia democrazia: Una difesa delle regole dei gioco”, que «A democracia não goza no mundo de óptima saúde». O que me tem constado nos últimos anos é que a doença que aquele reconhecera era daquelas crónicas, pois se tem prolongado até hoje. As formalidades ofuscam a substancialidade, os representados não se revem nas opções dos representantes e o clima de "faz de conta" quase que já não suporta esconder tal manha. Feliz ou infelizmente, após tal reconhecimento Bobbio acrescentara no seu tom denso e lógico «mas não está à beira do túmulo».
É imbuído no mesmo espírito da filosofia popular em tempos vivida por Bobbio, que me disponho, nestas linhas, a tecer fortuitos dizeres sobre o tema em epigrafe.
A resolução ora aprovada pela Assembleia da República vem provar mais uma vez que a democracia, quando manipulada impiedosamente, permite tudo, já que algo que não conta com o consenso maioritário de uma nação a coberto de formalidades impostas pela democracia permita cenários como este, em que um grupo de pessoas aparentemente conscientes decide sacrificar a honra de todos.
Embora tentem me convencer que não, a resolução ao ser aprovada encerrou, a meu ver, a existência de uma infracção e ainda mais a questão das responsabilizações dos que puxaram a nação para esta situação, pois quando aceitámos que foi tudo legal assumimos que nada de errado aconteceu, portanto não há necessidade de se responsabilizar quem quer que seja. Mas oh, que fazer? É mais uma chatice da democracia.
Por Miguel Luís
@VERDADE - 02.05.2017
Por Miguel Luís
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