quinta-feira, 24 de novembro de 2016
escapou à morte por escassos minutos várias vezes.
Guadalupe é uma freira de ideias fortes. Chegou à Síria antes da guerra civil e viu de perto a região tornar-se um inferno. Garante que "a primavera árabe foi uma grande mentira".
Quando chegou à Síria, ainda antes do início da guerra civil, estava num país calmo. “Mais do que qualquer país do Médio Oriente”, sublinha. Teve de regressar, por motivos de saúde, mas ainda quer voltar à Síria. Entretanto, tem passado por vários países para contar o seu testemunho, que é uma história do Médio Oriente muito diferente daquela a que o Ocidente está habituado. A religiosa defende que a primavera árabe foi “uma grande mentira”, e que não há, atualmente, “oposição moderada” nem “rebeldes sírios”. “A única defesa do povo é o exército nacional, do regime” de Bashar al-Assad, acrescenta.
Além da Síria, Guadalupe já esteve em países como o Egipto, a Jordânia, a Tunísia ou a Palestina
Os testemunhos que já tem dado um pouco por todo o mundo são absolutamente impressionantes. Fala da forma como se apanhavam pés e mãos nas ruas de Aleppo, depois de mais uma bomba, de forma como as pessoas se habituam à queda de mísseis… Sente que num local como a Síria se dá menos valor à vida humana?O que é certo é que os grupos fundamentalistas espezinham a vida…
E no Ocidente damos menos valor às vidas do Médio Oriente?Creio que se conhece pouco o que se passa, e quando acontece um atentado na Europa fala-se uma semana disso nos meios de comunicação, mas na Síria e no Iraque há mortos todos os dias. Todos os dias. Sobretudo cristãos, mas morrem todos os tipos de pessoas. Há cristãos que morrem de forma atroz, crucificados, enterrados vivos. Isso não vemos nos meios de comunicação.
Estava à espera do que encontrou ao chegar à Síria?Não! Não, não, não! Eu fui para a Síria quando ainda era um país tranquilo, seguro, calmo, pacífico. Mais do que qualquer país do Médio Oriente.
Estava na Síria na altura das primaveras árabes…Antes. Conheci a Síria assim durante muitos anos. Eu na altura estava mal de saúde e pedi para ir para a Síria, para a nossa comunidade em Aleppo, por ser uma sociedade muito tranquila, de boa convivência entre cristãos e muçulmanos.
Como viveu a primavera árabe na Síria?A primavera árabe é uma invenção, artificial, que, para os árabes, não tem nada de primaveril. Foi uma coisa inventada a partir de fora, não foi uma revolta popular, nem começou nas ruas. Foi planeada num escritório, por gente de fato e gravata, ao detalhe. Fazia-se a primavera árabe, país após país, chegava-se à Síria, tirava-se o presidente, fazia-se uma guerra civil, manipulavam-se os meios de comunicação social para convencer o Ocidente da necessidade de apoiar a oposição. Tudo uma grande mentira.
E a vida mudou para as pessoas.Sim. Para as pessoas, a guerra foi totalmente inesperada, não tinha sido algo preparado pelo povo. Nem é uma guerra em que participe o povo. A única participação do povo é com vítimas.
O seu trabalho na Síria também teve de mudar, calculo.Claro. Antes, tínhamos uma paróquia, em que fazíamos trabalho pastoral, e tínhamos – ainda temos – uma residência para estudantes universitárias. Claro que, com a guerra, intensificou-se o apoio às famílias cristãs, sobretudo, mas também às não cristãs, também às muçulmanas, que ficaram sem nada, e precisavam do mínimo para comer, e ficaram sem casa. E depois era preciso o consolo e o apoio às famílias que enfrentam a morte. É que por serem cristãos, já estão condenados à morte.
“A primavera árabe é uma invenção que não tem nada de primaveril”
Como é que uma freira como a irmã Guadalupe deixa a Argentina para acabar na Síria?Porque sou missionária, pertenço a uma congregação que se chama Família Religiosa do Verbo Encarnado, uma congregação fundada na Argentina, que tem missionários em todo o mundo. Temos sacerdotes e irmãs, e temos missões em locais difíceis. O nosso fundador, o padre Carlos Buela, dizia sempre: “Temos de ir aos locais onde ninguém quer ir”. Claro que a Síria não é um lugar lindo para escolher para ir em missão, mas é por isso que queremos estar nesses lugares.Os testemunhos que já tem dado um pouco por todo o mundo são absolutamente impressionantes. Fala da forma como se apanhavam pés e mãos nas ruas de Aleppo, depois de mais uma bomba, de forma como as pessoas se habituam à queda de mísseis… Sente que num local como a Síria se dá menos valor à vida humana?O que é certo é que os grupos fundamentalistas espezinham a vida…
E no Ocidente damos menos valor às vidas do Médio Oriente?Creio que se conhece pouco o que se passa, e quando acontece um atentado na Europa fala-se uma semana disso nos meios de comunicação, mas na Síria e no Iraque há mortos todos os dias. Todos os dias. Sobretudo cristãos, mas morrem todos os tipos de pessoas. Há cristãos que morrem de forma atroz, crucificados, enterrados vivos. Isso não vemos nos meios de comunicação.
Há cristãos que morrem de forma atroz, crucificados, enterrados vivos. Isso não vemos nos meios de comunicação.
Estava na Síria na altura das primaveras árabes…Antes. Conheci a Síria assim durante muitos anos. Eu na altura estava mal de saúde e pedi para ir para a Síria, para a nossa comunidade em Aleppo, por ser uma sociedade muito tranquila, de boa convivência entre cristãos e muçulmanos.
E a vida mudou para as pessoas.Sim. Para as pessoas, a guerra foi totalmente inesperada, não tinha sido algo preparado pelo povo. Nem é uma guerra em que participe o povo. A única participação do povo é com vítimas.
[A primavera árabe] foi planeada num escritório, por gente de fato e gravata, ao detalhe. Não foi uma revolta popular, nem começou nas ruas.
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