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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Banco de Moçambique não revela quem são os membros do partido Frelimo accionistas do falido Nosso Banco

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Escrito por Adérito Caldeira  em 21 Novembro 2016
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O Banco de Moçambique(BM) afirmou nesta sexta-feira(18) que não existe qualquer correlação entre os aumentos das taxas de referência e a falência do Nosso Banco, SA(ex-BMI Banco Mercantil e de Investimentos), assegurou ainda, através da sua Administradora Joana Matsombe, que “o nosso sistema bancário está estável, sólido e goza de uma boa saúde” e os “outros bancos estão bem”, tal como havia garantido em Outubro após a intervenção no Moza Banco. Todavia a administradora do pelouro de Emissão e Mercados recusou-se a nomear os pequenos accionistas da instituição bancária que são importantes membros do partido Frelimo entre eles o antigo Presidente Armando Guebuza, parentes do ex-Presidente Chissano, Teodato Hunguana, Mariano Matsinha, e até o marido da antiga primeira-ministra Luísa Diogo.
Joana Matsombe começou a conferência de imprensa, que tinha o propósito de tranquilizar os depositantes, informando “que não há razão para pânico porque o nosso sistema bancário está estável, sólido e goza de uma boa saúde. O nosso sistema bancário está bem capitalizado, tem liquidez para satisfazer as necessidades do mercado, os seja dos seus clientes. O nosso sistema bancário é bem gerido e tem uma boa carteira de crédito, ou seja a maioria das pessoas, singulares e colectivas, que contraem empréstimos pagam”.
Após recordar os motivos que levaram a instituição reguladora da actividade bancária a revogar a autorização para o exercício de actividades do Nosso Banco, SA, Matsombe tentou acalmar os moçambicanos com conta bancária, há informações não oficiais que durante a semana finda muitos terão levantado as suas poupanças, explicando que o antigo BMI é “um banco muito pequeno apenas com 5116 clientes particulares e 987 empresas, com 1% apenas dos activos totais do sistema bancário.”
Por outro lado a administradora do BM sugeriu que os depositantes podem aferir que um banco é bom para depositar lendo os seus relatórios e contas, “as pessoas tem que realmente procurar ler esses relatórios e por aí pode-se aferir quais sãos os bancos que estão bons e quais os bancos que não estão”.
Joana Matsombe desmentiu ainda as informações que têm sido veiculadas por analistas, e amplificadas através das redes sociais, dando conta da saúde financeira pouco abonatória dos restantes 18 bancos que existem no mercado moçambicano. “Andam aí rumores de números, dizendo-se que são rácios de solvabilidade, não tem nada a ver com aquilo que é a verdade, porque como nós acabamos de dizer em média o nosso sistema bancário tem como rácio entre 14 a 15%, não precisam de correr para ir buscar o vosso dinheiro. Quem já foi é melhor devolver, porque o dinheiro está seguro no nosso sistema bancário” declarou.
“Aqueles números, alguns deles, eram mesmo fabricados porque a ideia era vender aquele que seria o próximo, ouvi aqui o que o próximo era o BCI mas naqueles números parece que o próximo era o UBA. Mas nós estamos aqui a afirmar que do ponto de vista de capitalização os bancos estão bem. Tivemos problemas com estes dois e foi por isso que se tomaram as medidas que se tomaram, em relação aos outros bancos estão bem”, acrescentou Matsombe.
A administradora do pelouro de Emissão e Mercados apelou a comunicação social a ajudar “no resgate da confiança do público, porque também não é correcto que as pessoas comecem a tirar o dinheiro dos bancos e estão a por a onde nos colchões? O dinheiro fica mais inseguro ainda, as pessoas vão ser assaltadas e vão perder esse dinheiro. Aqueles que já tiraram o dinheiro devolvam esse dinheiro para o banco, andam a tirar dinheiro dos bancos e vão precipitar a queda de outros bancos.”
Guebuza, Chissano... até Luísa Diogo entre os pequenos accionistas do Nosso Banco
Porém, instada a identificar quem são os pequenos accionistas do Nosso Banco, SA, - para além do Instituto Nacional de Segurança Social(INSS), da Electricidade de Moçambique(EDM), da SPI - Gestão e Investimentos, S.A.R.L., e do cidadão ruandês Alfred Kalisa - Joana Matsombe, visivelmente incomodada, afirmou que “eu não posso dizer quem são, são muitos, é uma lista interminável, mas esses só tem 1,44%. Esses pequeninos não temos a lista deles. São cidadãos que andam por aí.”
Todavia o @Verdade apurou que esses accionistas não são cidadãos quaisquer. Um deles é o antigo Presidente de Moçambique e do partido Frelimo, Armando Emílio Guebuza, que detém 0,22% do banco através da empresa FOCUS 21.
Dois outros accionistas são irmãos de Joaquim Alberto Chissano, ex-Chefe do Estado e também antigo presidente do partido Frelimo, nomeadamente Alberto José do Nascimento Chissano, com 0,74%, e Armando de Jesus Alberto Chissano, com 0,16%, através da empresa SOGESTA Lda onde é sócio.
Teodato Mondim da Silva Hunguana e Mariano de Araújo Matsinha são outros ilustres “camaradas” accionistas do Nosso Banco, com quotas de 0,11% e 0,07%, respectivamente.
Importante accionista, com 0,11% do capital social, é também o cidadão António Albano Silva marido da antiga primeira-ministra de Moçambique Luísa Diogo que na altura da fundação do então Banco Mercantil e de Investimentos exerceu o cargo de ministra do Plano e Finanças. Aliás na semana finda a actual presidente do conselho de administração do Barclays Moçambique disse que “Sente-se um certo 'stress' no sistema financeiro e temos de repor a confiança. E confiar também, como dirigentes de bancos, que o nosso regulador sabe muito bem o que está a fazer e que não estamos sozinhos neste processo.”
Através da SPI - Gestão e Investimentos, S.A.R.L. são accionistas os membros do partido Frelimo Eduardo Arão(falecido), Manuel Jorge Tomé, Ângelo Azarias Chichava, Cristina Jeremias Tembe, José Augusto Tomo Psico, Teodoro Andrade Waty, Carlos Alberto Sampaio Morgado(falecido), José Ferreira Songane, Moisés Rafael Massinga e Alberto Zaqueu Jamice.
Destacável ainda, com uma quota de 0,05% , é o cidadão Vicente Mebunia Veloso que além de membro do partido Frelimo foi presidente do conselho de administração da EDM, durante o período em que a empresa estatal tornou-se accionista do ex-BMI.
Nota ainda para a empresária de sucesso Deolinda Guilherme Langa Wicht que tem 0,11% do capital social, esposa do cidadão Michel Fernand Wicht, com vários interesses empresariais e que está relacionada com a recém nomeada ministra dos Recursos Minerais e Energia, Letícia Klemens, numa outra pequena instituição bancária a Horizonte Cooperativa de Crédito Solidário, Limitada.
Contas do Nosso Banco “não foram por nós certificadas”
Foto de Adérito CaldeiraQuestionado pelo @Verdade se existiria alguma relação entre as taxas de referência que o Banco de Moçambique tem vindo a aumentar significativamente desde o último trimestre de 2015 e a falência, Waldemar de Sousa, o administrador para a Área de Estudos Económicos e Contabilidade do banco central, declarou ser “pura especulação fazer qualquer correlação” pois “a situação de irregularidades do Nosso Banco era tempestiva, ou seja decorria a tempo razoável e a interacção com o banco central, na sua qualidade de regulador e de supervisor do sistema bancário moçambicano, já decorria a alguns meses tendo em vista reparar os incumprimentos que foram aqui assinalados para tornar o banco viável.”
“De resto o Nosso Banco tem um auditor externo que nas contas que foram tornadas públicas, e ainda assim com muitas nuances uma vez que essas contas não foram por nós certificadas, é preciso tornar público isto, já o auditor externo do Nosso Banco destacava que a situação financeira desta instituição inspirava cuidados especiais”, revelou Waldemar de Sousa.

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