"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



terça-feira, 29 de novembro de 2016

Não há déspotas democráticos


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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Não há culto da personalidade que afugente a morte, como a história tem demonstrado, vezes sem conta.
O poder, a sua conquista e manutenção têm sido utilizados para cimentar conceitos e práticas diferentes de país para país.
Sem surpresas, as coisas acontecem e, por vezes, só constituem surpresa para os que, empoleirados no poder, se julgavam imortais ou primos de deuses ou anjos.
Depois de chegarem ao poder quase inquestionável e discricionário, homens alegadamente bem intencionados tornaram-se déspotas sanguinários.
Por mais alegações relacionadas com soberania, interesses de segurança nacional, considerações geoestratégicas ou de outra índole, nada justifica a eliminação física de compatriotas.
E isso tem sido meticulosamente concretizado por déspotas revestidos de poder presidencial.
Houve e não para de haver conflitos e confrontos internos e de cariz internacional. Desde que terminou a Segunda Guerra Mundial, não significou o fim do morticínio no mundo. Guerras localizadas e apadrinhadas por potências habituadas a utilizar terceiros para dirimir as suas diferenças continuam servindo de apoio e retaguarda para ditadores um pouco por todo o mundo.
Em África, o panorama é desolador, pois sofrimento humano sem igual continua ceifando vidas inocentes. Justificam-se trazendo ideologias como se estas fossem a origem de tudo. Sabe-se que nada disso é verdade.
Os apetites ditatoriais característicos de muitos dos governantes africanos são a continuação de práticas herdadas no período em que pululavam movimentos de libertação contra a dominação colonial. Foi um período de lutas justas que, infelizmente, tiveram frutos algumas vezes podres e outros que jamais amadureceram. De um nacionalismo cheio de vigor, os países viram-se entregues a Governos que em quase nada diferem do que as potências coloniais faziam aos povos.
Veio muita gente para o poder proclamando-se libertadora da terra e dos homens, mas a verdade mostra que exercem o poder absoluto de forma cruel. De revolucionários, tornaram-se déspotas violentos, promovendo a eliminação dos seus opositores políticos.
Os movimentos transformados em partidos políticos tornaram-se decalques de mafias ao estilo conhecido.
Hoje, numa ginástica tremenda contra o tempo, é este mesmo tempo que se encarrega de tomar conta deles, um por um, de maneira inexorável.
Se uns caíram através da Primavera Árabe, outros seguem o mesmo caminho por outras vias.
O seu séquito agarra-se ao timoneiro, porque sabe que, sem ele, esfumam-se as riquezas acumuladas e pilhadas.
Não há esquema securitário que proteja um déspota da morte.
O falhanço político e económico dos nossos países resulta de políticas de exclusão e da relutância dos detentores do poder em aceitar os preceitos republicanos de forma plena e justa.
As crises pós-eleitorais recorrentes resultam do apego ao poder de forma canina.
Uma das formas encontradas pelos nossos libertadores de ontem foi branquear a história a seu favor.
Aqui em Moçambique, adiam-se rondas negociais, pretensamente para afinar documentos, de modo a que o poder não mude de mãos.
A centralização do poder de forma partidarizada configura ditadura e não democracia.
Uma República com todos os poderes concentrados num grupo restrito de pessoas pretensamente sábias e historicamente “eleitas para governar” falhou, mas continua rejeitando a verdade.
Existem oportunidades de alterar o quadro político-governativo sem violência e sem assassinatos.
Mas os nossos veteranos libertadores precisam de situar-se e emitir os sinais fundamentais para que a sua máquina partidária se adeque aos tempos de hoje.
Não se exige confissão pública de pecados por parte dos beligerantes de ontem e de hoje. Exige-se que sejam promotores do perdão e reconciliação genuínos sem os subterfúgios amiúde apresentados na praça pública.
É tempo de ver justiça política e económica vingando e afirmando-se em Moçambique. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 29.11.2016

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