"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 6 de maio de 2016

Secretismo era uma trampa para esconder alguma coisa

 


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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Afinal era tudo mesmo uma trampa.
Aquele grupo de “laboriosos gurus” acaba revelando o que realmente é. Não são nada de especial nem sabem nada de especial. Eram e são pessoas contrariadas e outras voluntárias, com o intuito de defender uma visão de governação que acabou por revelar-se lesiva para o Estado e os cidadãos.
Os seus conhecimentos e capacidades foram postos à prova durante dez anos, e os resultados estão à vista. Continua-se a importar batata e cebola. O arroz é importado.
A educação revela-se uma miragem face ao que se exige em termos de qualidade. A saúde não tem soluções para os problemas que a população sente. A indústria foi substituída por armazéns. A defesa e segurança é frustrante, pois não traz soluções dos crimes que ocorrem, não se mostra capaz de travar a imigração ilegal, e a PRM tem sido manifestamente utilizada para manobras de defesa dos prevaricadores, ao atacar ou brutalizar cidadãos durante períodos eleitorais e qualquer intenção de manifestação dos cidadãos. Quanto à comunicação social pública, as lamentações são muitas, mas a principal é a de que não passa de porta-voz de muitas mentiras oficiais e oficiosas.
Obras faraónicas e todo um conjunto de medidas envolvendo o fortalecimento da intervenção governamental na esfera pública e económica trouxeram ao país uma nova realidade, que se revela deprimente.
Não se pode dizer que tudo foi mal feito, pois estaríamos a mentir.
Houve iniciativas de louvar, mas que ficaram ofuscadas pelos moldes em que as coisas foram feitas.
Mas, no essencial, a estratégia montada visava, como se pode ver, o enriquecimento dos líderes da operação. Governar tornou-se sinónimo de servir-se e enriquecer. Nessas circunstâncias, dizer que “não se deve ter medo de ser rico” é hipocrisia da mais reles que se pode ver.
Tiveram êxitos relativos na “empreitada de enriquecimento”, e nisso tiveram cumplicidade nacional e internacional.
Há que dizer que a cooperação Sul-Sul foi um autêntico fiasco. Brasil e China, bem como Índia, fomentaram e catalisaram a corrupção em Moçambique.
Do Ocidente, foi como que a continuação de um posicionamento dúbio, em que se privilegiou o estabelecimento de negócios que trouxessem mais-valias para os seus países, mesmo que isso acontecesse em detrimento dos direitos políticos e económicos dos moçambicanos.
Pode ver-se isso nos negócios dos barcos adquiridos na França para a pesca de atum. Salvou-se um estaleiro francês, mas endividou-se ilegalmente Moçambique.
É um facto. O que recebemos de troca terão sido muitos buracos em minas e obras de engenharia com qualidade sofrível. Areias pesadas de Moma saem produzindo bura buracos, que não sabemos o que deles será feito. As populações desalojadas para a exploração de carvão em Tete recebem em troca casas em lugares pouco aptos ara uma vida digna e produtiva. Quem exporta o carvão, enriquece, e os ditos “donos da terra” são relegados à miséria.
Todo o processo de autorização de exploração de recursos minerais está envolto em segredo quase total, em que só muito pouca gente sabe dos contornos operacionais.
As terras são cedidas aos milhares de hectares, sem que os moçambicanos colham benefícios. Quem tanto lutou para libertar a terra e os homens deveria estar fazendo alguma coisa bem diferente com um recurso vital como a terra e a água.
As dívidas ficam connosco, e as comissões foram parar em contas bancárias privadas, como transparece pelas mansões construídas.
Como se pode ver, em Maputo, mesmo sem estradas por aí além, circulam viaturas de alta cilindrada, que custam os olhos da cara em qualquer país. E quase nenhum dos proprietários dessas viaturas tem renda suficiente para suportar despesas daquele nível. Há manifestamente alguma coisa que não bate certo, e para concluir isso não se precisa de contratar o FBI ou a Scotland Yard.
Como dizia um ex-PGR, há sinais de enriquecimento ilícito claros, pois não se produz assim tanto dinheiro na economia local.
Repetem-se discursos e proclamações diversionistas para dizer que se está produzindo, quando, na verdade, se trabalha em perspectivas de enriquecer sem trabalho. Há parasitismo  em larga escala, que é encoberto por “montanhas de verniz”.
Enquanto o resto do mundo produz e se reveza em acções de promoção da criatividade e desenvolvimento, entre nós a preocupação é fingir que se trabalha, quando o que se faz é promover formas de saque de recursos públicos e a criação de empresas de fachada cujos alicerces são o “procurement” estatal.
Não é visão limitada e muito menos falta de conhecimento sobre a situação, mas uma afincada posição de subverter a governação e tornar a governação arte de defraudar o público.
Agora que se tornou abertamente insustentável esconder a situação em que se vive, abundam iniciativas tendentes a repor a ordem e reconquistar a credibilidade perdida a nível nacional e internacional.
É um exercício complexo de desfecho desconhecido.
Apresenta-se difícil prever que a PGR possa investigar alguma coisa sobre a dívida que até aqui era oculta. De tanto nada fazer, embora investida de poderes bastantes, afigura-se uma instituição enfraquecida e com poucos poderes efectivos para investigar com profundidade e contundência. É uma instituição opaca, que parece dirigida por remoto controlo, de algures.
Nada acontecerá entre nós se não houver uma postura de assumirmos o nosso destino com vigor e criatividade.
Há muita pobreza de produção intelectual, e dá-se pouca importância ao que os cidadãos, em diversos níveis, produzem. Reina o formalismo e o protocolo. Mas substância e conteúdo, pouco são vistos.
As conferências nacionais que se repetem periodicamente são como que folclóricas e exercícios de turismo. Há como que uma orientação e instrução rígida para que não se discuta o essencial.
A trampa foi descoberta, e importa que os cidadãos, formações políticas e demais entidades públicas e privadas se entreguem à discussão e ao aprofundamento do que aconteceu para que houvesse saques e assaltos ao erário público. Importa saber como foram celebrados contratos de financiamento vinculando o Estado moçambicano sem que a Assembleia da República tivesse sido consultada. O que nos tem sido oferecido como explicações é indigesto e revela a existência de vontade de continuar a esconder e a mentir.
As contradições que se revelaram aquando da tentativa de explicar a EMATUM ao público, em que ministros de um mesmo Governo diziam coisas diferentes sobre um mesmo assunto, são sintomáticas, e denota que houve uma decisão de esconder algo aos cidadãos. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 06.05.2016

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