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Escrito por Adérito Caldeira em 27 Maio 2016 |
A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) registou nos primeiros três meses de 2016 um recorde de produção de energia eléctrica porém mais de metade da electricidade gerada foi vendida à África do Sul, enquanto somente um quarto de Moçambique está iluminado. Paradoxalmente a província de Tete, onde a Hidroeléctrica está implantada há cerca de cinco décadas, é a menos iluminada do país.
A HCB “alcançou a cifra de 4.364.22 GWh, valor correspondente a 7,51 por cento acima do planificado para o 1º trimestre do presente ano” indica um comunicado da empresa que destaca ainda que “esta eficácia é resultado dos investimentos de modernização das infraestruturas da cadeia de produção e transmissão energética, iniciados em 2009”. Entretanto o @Verdade apurou, junto da Hidroeléctrica, que dos 4.364.22 GWh produzidos apenas cerca de 25%, 1.099,797 Gwh, foram destinados aos moçambicanos enquanto cerca de 59% dessa energia, 2.602,054 Gwh, foram vendidos à África do Sul. Os restantes 15% da produção foi fornecida ao Zimbabwe, à vila do Songo e ao consumo interno da Central e Subestação. É irónico notar que desde que “Cahora Bassa é nossa” o número de agregados familiares que utilizam energia eléctrica para iluminação, “passou de cerca de 14% para quase 25%”, de acordo com o mais recente Inquérito ao Orçamento Familiar(IOF) do Instituto Nacional de Estatística(INE). A província de Tete é aquela que tem a menor cobertura de energia eléctrica, apenas 11,2%, seguida de perto pela Zambézia com 11,5%, Niassa com 12% e Cabo Delgado com 12,1%. A província de Maputo é mais iluminada, com uma cobertura de 73,8%, enquanto na capital do país a electricidade chega a 93,4%. Enquanto o primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário afirma que “a energia é um factor principal de desenvolvimento e de combate a pobreza” e promete “estabelecer 450 mil ligações por ano até 2025” na verdade não existe mais energia disponível para os moçambicanos. Desde finais de 2010 que a Electricidade de Moçambique(EDM) opera em défice energético particularmente porque a Hidroeléctrica de Cahora Bassa já não tem mais energia disponível para o mercado nacional, devido aos compromissos futuros assumidos com a África do Sul e o Zimbabwe, e que serviram de garantia para o empréstimo do pagamento da reversão da barragem do Estado português para o moçambicano. Para garantir a iluminação da região Sul a EDM tem estado a importar de energia da Eskom (África do Sul) que, de certa forma, revende a “nossa” energia que compra a um preço muito acessível à HCB por cerca de 10 vezes mais ao custo que adquire. Outra solução da empresa estatal que detém o monopólio da distribuição de energia no nosso país tem sido adquirir electricidade à produtores independentes de energia eléctrica que também a vendem bem mais caro do que a Hidroeléctrica de Cahora Bassa, cujo preço para a EDM é de 3,5 dólares norte-americanos por quilowatt/hora(kWh). Por exemplo a Aggreko, uma empresa da Escócia que opera uma central termoeléctrica existente em Ressano Garcia, vende electricidade à EDM por 15 dólares norte-americanos por kWh. Já a central termoeléctrica da Gigawatt Moçambique fornece por cerca de 10 dólares norte-americanos kWh. Um documento interno da EDM destaca a necessidade da “reversão dos 200 MW do 5º Grupo da HCB que alocados a Eskom são fundamentais para o Balanço energético do País bem como para a minimização dos custos de energia.”. Algo que os políticos preferem ignorar pois esta semana o Presidente Filipe Nyusi esteve a “vender” energia que a Hidroeléctrica de Cahora Bassa já não tem ao Botswana, cujo Chefe de Estado esteve de visita ao nosso país justamente com o objectivo comprar essa energia que o seu país precisa mas a HCB não tem de sobra. |
"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
sexta-feira, 27 de maio de 2016
HCB tem produção recorde mas o seu principal cliente não é Moçambique, onde há défice de energia
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