Canal de Opinião por Noé nyhantumbo
Difícil ler entre tantas entrelinhas.
Marcelo Rebelo de Sousa visitou Moçambique num momento particularmente difícil.
A sua agenda foi ofuscada pelas hostilidades militares, pela suspensão da ajuda financeira e dos créditos pelo FMI/BM, Reino Unido e os G-14 na sequência da “descoberta” de dívidas ocultas contraídas pelo Governo de Moçambique.
Uma arreigada posição do Governo em privilegiar o diálogo interno acaba revelando que estamos face a um Governo que sobrepõe uma soberania que até nem é tanto soberana, a admitir percepções de que, perdida a confiança entre as partes, a única forma de resolver os diferendos é recorrer à mediação internacional.
MRS, PR português, foi táctico nos seus “pronunciamentos” e revelou-se de uma diplomacia bem polida. FJN, PR moçambicano, mostrou mais uma vez que é homem directo, sem apontar muito bem para um alvo único de maneira certeira. Sente-se que ele está bastante condicionado a não abrir mão ou a não admitir de forma inequívoca que pretende dialogar.
De forma simples e directa, há que dizer que os verdadeiros detentores do poder ainda almejam uma vitória militar ou pelo menos a eliminação física de AMMD. Quando não há sinais de redução dos esforços militares, significa que ainda não se pretende dar lugar à diplomacia para a resolução do conflito.
Controle informativo, rearmamento galopante, duplicidade discursiva, bombardeamento mediático e manobras de contra-informação combinam-se para confirmar que, da parte do Governo, ainda não foi tomada a decisão de dar oportunidade para que as partes em litígio se entreguem à discussão honesta dos assuntos sobejamente conhecidos.
É redundante e contraproducente falar de partidos armados que devem ser desarmados. Temos de ser frontais, directos e politicamente honestos e dizer que desarmem-se todos os partidos armados.
Temos
a Frelimo e a Renamo, e estes dois são partidos armados.
Ao abrigo da CRM ou sem respeito a ela, a realidade manda dizer que os dois são partidos armados.
MRS e qualquer outro PR que pretenda ajudar Moçambique a reencontrar a paz deve estudar cuidadosamente o “dossier”. Consultar a Comunidade de Santo Egídio foi um passo bem dado por ele. Veremos o que os próximos dias trarão.
JAC, AEG, AMMD e Raul Domingos estão vivos e conhecem com profundidade o que não foi cumprido do AGP de Roma. A génese das hostilidades actuais foi e tem sido a usurpação do poder e a exclusão política e financeira sistemática.
Alguém pensou que era viável “abocanhar” Moçambique e sujeitar todos os moçambicanos aos seus planos.
Será difícil que qualquer mediador tenha êxito na sua missão enquanto não houver vontade política dos detentores do poder.
A mediação interna ou nacional falhou porque se esqueceu de que ela não tinha credibilidade para o efeito. A sua composição parecia oferecer garantias de equidistância, mas depois de tantas rondas ficou claro que estava infiltrada de mercenários académicos e religiosos. Era um grupo aparentemente forte, mas a sua substância era cáustica e talvez venenosa. Alguém até poderia falar de “paus-mandados” que pouco se dão ao respeito. Aceitaram umas missões que sabiam de sobra que estavam condenadas ao fracasso.
As hesitações que se sucedem em agendar encontros directos entre FJN e AMMD devem ser vistas como manobra dilatória. Ganhar tempo para que a “caravana passe enquanto os cães ladram”, como já aconteceu entre nós.
O que se tem revelado nos últimos dias sobre a dívida pública moçambicana contraída pelo anterior Governo confirma o estado lastimoso das coisas.
Os que “abocanharam” o país têm interesse em que as parcerias público-privadas estabelecidas, as verdadeiras beneficiárias das “dívidas públicas” contraídas, continuem funcionando e se consolidem.
Mas, para que isso aconteça, é necessário afastar a transparência e a gestão criteriosa da coisa pública.
É preciso ver os entraves ao processo de pacificação nacional como algo que beneficia determinadas pessoas.
Os apelos extemporâneos para que a comunidade internacional perdoe os prevaricadores são parte de uma estratégia de apresentar a dívida ilegal como uma acção que visava defender a soberania.
E a exclusão político-económica perseguida no país servindo a agenda do “Empoderamento” Económico Negro e Ilícito permitiu que o estado fosse utilizado para encher contas bancárias de “muito boa gente”. É no mínimo patético que os beneficiários destes “processos labirínticos” apareçam agora pedindo perdão.
Marcelo Rebelo de Sousa teve a coragem de visitar Moçambique e escolher as palavras com muito cuidado. Foi-lhe dada a tarefa de comunicar que o G-14 suspendia o apoio ao OGE moçambicano, embora prometa continuar a investir.
É recorrentemente dito e com alguma estranheza que o recurso à via armada não vale em democracia.
Só que quem assim fala nunca diz que a fraude eleitoral documentada também não vale em democracia.
Os assassinatos políticos em voga no país também não fazem parte da democracia. A repressão e proibição de manifestação pacíficas não fazem parte da democracia. O encobrimento de acções hediondas em que compatriotas são assassinados e abandonados nas matas não faz parte da democracia.
É preciso começar a assumir a questão da paz em Moçambique em toda a sua plenitude. Não se pode mediar com êxito esquecendo-se os factos por detrás das hostilidades actuais. Nenhuma Constituição e o facto de Moçambique ser um Estado soberano, unitário podem sobrepor-se a uma realidade de fraudes políticas, eleitorais e financeiras.
Limpar a casa só pode começar com o fim de pretensões de uns serem melhores que os outros.
A casa está suja e malcheirosa depois de décadas de corrupção, nepotismo e usurpação do poder. A guerra que cresce pode ser interrompida, e tal deve acontecer com urgência.
Mas há que parar com fintas.
Falar bonito é uma coisa. Ser catalogado de experiente e veterano diplomata não é passaporte para mediar.
Respeitemo-nos primeiro, e depois veremos a paz chegar com rapidez. (Noé Nhantumbo)
Canalmoz – 09.05.2016
Ao abrigo da CRM ou sem respeito a ela, a realidade manda dizer que os dois são partidos armados.
MRS e qualquer outro PR que pretenda ajudar Moçambique a reencontrar a paz deve estudar cuidadosamente o “dossier”. Consultar a Comunidade de Santo Egídio foi um passo bem dado por ele. Veremos o que os próximos dias trarão.
JAC, AEG, AMMD e Raul Domingos estão vivos e conhecem com profundidade o que não foi cumprido do AGP de Roma. A génese das hostilidades actuais foi e tem sido a usurpação do poder e a exclusão política e financeira sistemática.
Alguém pensou que era viável “abocanhar” Moçambique e sujeitar todos os moçambicanos aos seus planos.
Será difícil que qualquer mediador tenha êxito na sua missão enquanto não houver vontade política dos detentores do poder.
A mediação interna ou nacional falhou porque se esqueceu de que ela não tinha credibilidade para o efeito. A sua composição parecia oferecer garantias de equidistância, mas depois de tantas rondas ficou claro que estava infiltrada de mercenários académicos e religiosos. Era um grupo aparentemente forte, mas a sua substância era cáustica e talvez venenosa. Alguém até poderia falar de “paus-mandados” que pouco se dão ao respeito. Aceitaram umas missões que sabiam de sobra que estavam condenadas ao fracasso.
As hesitações que se sucedem em agendar encontros directos entre FJN e AMMD devem ser vistas como manobra dilatória. Ganhar tempo para que a “caravana passe enquanto os cães ladram”, como já aconteceu entre nós.
O que se tem revelado nos últimos dias sobre a dívida pública moçambicana contraída pelo anterior Governo confirma o estado lastimoso das coisas.
Os que “abocanharam” o país têm interesse em que as parcerias público-privadas estabelecidas, as verdadeiras beneficiárias das “dívidas públicas” contraídas, continuem funcionando e se consolidem.
Mas, para que isso aconteça, é necessário afastar a transparência e a gestão criteriosa da coisa pública.
É preciso ver os entraves ao processo de pacificação nacional como algo que beneficia determinadas pessoas.
Os apelos extemporâneos para que a comunidade internacional perdoe os prevaricadores são parte de uma estratégia de apresentar a dívida ilegal como uma acção que visava defender a soberania.
E a exclusão político-económica perseguida no país servindo a agenda do “Empoderamento” Económico Negro e Ilícito permitiu que o estado fosse utilizado para encher contas bancárias de “muito boa gente”. É no mínimo patético que os beneficiários destes “processos labirínticos” apareçam agora pedindo perdão.
Marcelo Rebelo de Sousa teve a coragem de visitar Moçambique e escolher as palavras com muito cuidado. Foi-lhe dada a tarefa de comunicar que o G-14 suspendia o apoio ao OGE moçambicano, embora prometa continuar a investir.
É recorrentemente dito e com alguma estranheza que o recurso à via armada não vale em democracia.
Só que quem assim fala nunca diz que a fraude eleitoral documentada também não vale em democracia.
Os assassinatos políticos em voga no país também não fazem parte da democracia. A repressão e proibição de manifestação pacíficas não fazem parte da democracia. O encobrimento de acções hediondas em que compatriotas são assassinados e abandonados nas matas não faz parte da democracia.
É preciso começar a assumir a questão da paz em Moçambique em toda a sua plenitude. Não se pode mediar com êxito esquecendo-se os factos por detrás das hostilidades actuais. Nenhuma Constituição e o facto de Moçambique ser um Estado soberano, unitário podem sobrepor-se a uma realidade de fraudes políticas, eleitorais e financeiras.
Limpar a casa só pode começar com o fim de pretensões de uns serem melhores que os outros.
A casa está suja e malcheirosa depois de décadas de corrupção, nepotismo e usurpação do poder. A guerra que cresce pode ser interrompida, e tal deve acontecer com urgência.
Mas há que parar com fintas.
Falar bonito é uma coisa. Ser catalogado de experiente e veterano diplomata não é passaporte para mediar.
Respeitemo-nos primeiro, e depois veremos a paz chegar com rapidez. (Noé Nhantumbo)
Canalmoz – 09.05.2016
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