quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Convenhamos que Filipe Jacinto Nyusi está acordando ou paulatinamente assumindo as suas responsabilidades no quadro de um complexo jogo de cintura e lutas Intestinas no seio de seu partido. Hoje, sente-se que FJN começa a formar uma equipa que lhe garante espaço para agir e decidir. As decisões a tomar ou tomadas representam equilíbrios entre interesses marcadamente nacionais e outros privados que se fazem presentes a cada passo que se dá.
A mudança geracional que se anunciava, afinal, é acima de tudo uma alteração étnico-política, que assume contornos profundos decorrentes do AGP de Roma de 1992.
Não é a Frelimo que. por altruísmo, decidiu mudar.
Uma sangrenta luta contra uma ditadura camuflada deu lugar ao pluralismo político.
Quando parecia que tudo estava assente e que Moçambique arrancaria para o progresso num ambiente de honestidade política, as expectativas goraram-se, porque se entrou numa era de embustes eleitorais que desembocaram na actual crise político-militar.
Sem floreados, diga-se em abono da verdade que os falcões não estão satisfeitos pelo desenrolar dos acontecimentos que apontam para a assinatura de um acordo político estruturante viabilizando a pai.
Há receios profundos numa boa parte das pessoas que sempre beneficiou em exclusivo de vantagens económicas e financeiras no quadro de um sistema político inquinado desde os primórdios da sua existência.
Os que jamais colocaram como hipótese a alternância democrática do poder são os mesmos que endureciam o discurso de cada vez que o entendimento na mesa de diálogo parecia alcançado.
São os mesmos que, do alto dos seus palanques e do conforto das suas mansões, ofereciam opiniões contrárias a qualquer entendimento entre compatriotas desavindos.
Descentralização não é favor. Despartidarização das Forças de Defesa e Segurança não é favor. Não precisa de muita discussão parlamentar ou fora deste para que se assuma e se decida por essa via. Só com isso construiremos um Moçambique democrático, justo, pacífico, inclusivo, em que os Direitos Humanos são diariamente respeitados.
Os atrasos que se verificam na agenda de desenvolvimento nacional são frutos directos de uma postura elitista e exclusivista de um grupo de pessoas que se julgava divinamente destinada a governar Moçambique.
Hoje, que os seus alicerces "tremem que nem varas verdes'*, multiplicam-se em declarações e entrevistas para se oferecerem como mediadores ou intermediários num processo negocial que nunca existiria se tivessem cumprido o acordo anterior, de que foram mentores e subscritores.
Quando se questiona a efectividade do Governo de Moçambique, tudo tem a ver com o que ele faz no dia-a-dia. De facto, é preciso diminuir drasticamente o tamanho do Governo, por causa de seu fraco desempenho nos assuntos que contam e afectam os governados. Há que diminuir em Mercedes Benz e em mordomias para gente que não produz.
A Frelimo sente-se embaraçada e atrapalhada pelos desenvolvimentos e, depois de muitas hesitações, parece ter concluído que não há outro caminho senão ceder. Salva-se o convento e salvam-se os 'guardiões4 sem abdicarem das suas insultuosas riquezas, que "só Deus sabe" como foram acumuladas*
Será isso que acelerou as tréguas?
Seja o que for, Moçambique já respira aliviado pelo calar das armas*
Esperemos que a direcção recentemente nomeada do SISE consiga anular os assassinatos políticos e que com responsabilidade saiba informar e aconselhar o PR a seguir por caminhos que pacifiquem o país*
Esperemos que, da parte da Comissão Política da Frelimo, haja finalmente discernimento e patriotismo para assumir que a via da guerra e da confrontação não serve e deve ser resolutamente abandonada.
Esperemos que, da parte da Renamo, os que se tem perpetuamente "encostado* ã liderança sacrificada deste partido não atrapalhem os processos conducentes a um acordo político.
A história de Moçambique escreve-se todos os dias quando cada um de nós faz a sua parte e todos contribuímos para a construção de consensos.
Estamos em crise porque alguém que era suposto governar limitou-se a governar-se.
A guerra que sujou e matou inocentes como todas as guerras foi um artifício para prolongar o poder por certas pessoas.
"Moçambicanizar* Moçambique tem de ser alcançado pelo assumir por todos, sem complexos, que somos moçambicanos com direitos e deveres iguais.
Desmistificar crenças de uma suposta superioridade de alguns actores vai humanizar e facilitar processos.
As posições políticas têm de começar a ser tomadas no sentido de incluir e não continuar a reproduzir o que estava montado. Produzir um pequeno grupo de ricos ou ricaços não pode continuar a ser definido como sucesso governativo.
Não podemos continuar a distribuir doutoramentos honorários para pessoas que na verdade nada ou muito pouco fizeram para os moçambicanos.
Nada é linear, mas não convém complicar o que é por demais conhecido.
A solução passa por democratizar política e economicamente Moçambique.
Se antes era o Bureau Político e depois a Comissão Politica que punham e dispunham de tudo, isso deve ser alterado, porque simboliza ditadura e imposição contranatura do que define uma Republica.
Há possibilidade de materializar os entendimentos expressos no que são as actas da Comissão Mista, se houver capacidade de realisticamente lidarmos com os assuntos.
Claro oue muitas vezes* em momentos cruciais, surgem imprevistos e também gente procurando protagonismo de qualquer jeito e maneira. Repensar Moçambique em todas as suas vertentes deve ser algo que preocupe os moçambicanos e não só seus políticos.
Vamos pressionar o PR e o presidente da Renamo para que, sem delongas, assinem o acordo de paz e tudo façam para cumpri-lo.
Não se deve permitir que os nomeados pelos dois se multipliquem em “pontos e vírgulas", pois não há nada de novo para discutir.
Preparem os papéis para que os líderes os assinem.
Depois, toda uma sociedade com integrantes conhecedores será capaz de construir um corpo de leis que viabilizem o país e os seus cidadãos. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 08.02.2017
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