"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Carta aos libertadores da pátria amada!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017


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Comemora-se hoje, 03 de Fevereiro de 2017, o dia dos Heróis Moçambicanos. Consagrada como feriado nacional desde o ano de 1976, a data tem servido de oportunidade para rememorar a vida e obra de todos aqueles que tombaram na luta pela libertação da pátria da dominação e opressão colonial portuguesas.
A mesma data coincide com o assassinato de Eduardo Chivambo Mondlane, fundador e primeiro Presidente da Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO, um movimento independentista fundado em Junho de 1962 e resultante da fusão de outros três movimentos de cunho “tribalista”, a: MANU, UNAMI e UDENAMO.
Aliás, ligado ao ponto anterior, não restam dúvidas de que a escolha do dia 03 de Fevereiro como feriado e data comemorativa dos Heróis Moçambicanos esteja associada à data do assassinato do arquitecto da Unidade Nacional, em que à semelha de Eduardo Mondlane são também lembrados tantos outros heróis.
Nisto o dia 03 de Fevereiro constitui uma oportunidade para que cada moçambicano não só relembre dos feitos dos heróis nacionais, uns mortos antes e depois da independência nacional, e outros ainda vivos, mas também, para reflectir à volta dos seus próprios feitos e do sentido de patriotismo: a defesa e amor à pátria.
A presente carta, em forma de artigo de opinião, é dirigida à todos os nossos heróis libertadores da pátria, entre famosos e anónimos. Afinal, está claro que no nosso contexto, herói é aquele que lutou pela libertação da pátria, e assim, decidimos rotular o nosso texto em «carta aos libertadores da pátria amada».
1. Da heroicidade no contexto moçambicano:
A heroicidade no contexto moçambicano, ainda que discutível, é pensada em muitos casos apenas na perspectiva daqueles que lutaram contra a opressão colonial, entre outros, jornalistas, militares, artistas plásticos, muitos dos quais, senão todos, são ou foram membros e ex-membros da Frelimo ou da FRELIMO.
Os libertadores da pátria moçambicana são aqueles que, no passado, estiveram nas frentes de batalha com vista a expulsar o colonizador, que oprimia o povo e pilhava os seus recursos em benefício da metrópole portuguesa. São aqueles que não poupavam as suas vidas e energias na luta pelas causas nobres do país.
Os libertadores de ontem são, ainda, aqueles que sabidamente mobilizavam, organizavam, motivavam e conscientizavam aos jovens e as jovens moçambicanas sobre o papel crucial que a unidade e o patriotismo tinham para a libertação do nosso belo-Moçambique e do homem moçambicano da secular exploração.
Finalmente, os libertadores de ontem, alguns deles falecidos e considerados heróis, são aqueles que após a conquista da independência dos povos africanos, lançaram-se na construção e reconstrução do novo Estado moçambicano, ocupando encargos públicos, educando e instruindo cientifica e tecnicamente o povo.
2. Os libertadores de ontem, não pode ser tiranos de hoje:
Se partirmos da ideia de que muitos dos até então considerados heróis são exclusivamente os libertadores da pátria, então fica claro que do período que nos separa da independência nacional até a actualidade, o nosso país não produzira quaisquer pessoas capazes de serem apontadas como heróis nacionais. Discutível!
E porque muitos dos nossos libertadores, alguns dos quais após a independência nacional ocuparam cargos de chefia, de confiança e direcção no Estado e Governo moçambicanos, hoje se mostram protagonistas de comportamentos nocivos ao patriotismo, atitudes que ofuscam a sua heroicidade de ontem, vai o seguinte:
1. No momento da conquista da independência nacional, muitas promessas foram realizadas e todos nós acreditámos nelas, até porque nem tempo para pensar na impossibilidade de sua materialização tínhamos: cientes de que éramos todos irmãos, depositamos toda a nossa confiança nos libertadores.
2. Infelizmente, após escassas décadas, começámos a assistir ao surgimento de uma nova classe opressora constituída pelos antigos libertadores, com atitudes nepotistas e com ambições irracionais. A ambição algo desmedida começou a perturbar o bom senso dos nossos libertadores de ontem, ofuscando seu brilho.
3. As classes governamentais formadas pelos antigos movimentos de libertação (agora transformados em partidos políticos), começaram a albergar elites que desfrutam egoisticamente da riqueza em prejuízo do povo, colocando-o esfomeado e em vias de esfomeatização maciça, defraudando suas expectativas.
4. Começamos a verificar a instrumentalização da história por parte das elites libertadoras. Usam da história de luta libertação para legitimar, forçosamente, a sua permanência no poder, viciando os processos eleitorais por forma a tornar suas lideranças vitalícias e procedendo com a partidarização o aparelho do Estado.
5. Assim, nota-se que os frutos da independência, incluindo produto dos recursos naturais, é exclusivamente desfrutado por um grupo de pessoas seleccionadas pela história: os libertadores da pátria, que algumas vezes realizam dívidas em seu benefício e de suas famílias, mas em nome e prejuízo do povo.
6. Ontem, a luta e o interesse foram os mesmos, mas hoje, os ‘libertadores’ hipotecam as expectativas do povo, humilhando-o com salários míseros, decisões ocultas, roubos aos cofres do Estado e outros crimes. E porque saem-se impunes, limitam a liberdade de expressão do povo quando se insurge, montando blindados e polícia canina nas estradas do país.
7. Aliás, os mesmos libertadores que muito exaltavam a implantação de um Estado Plural e Democrático, hoje mostram-se hostis a qualquer posicionamento de crítica a sua governação, adulteram a história e diabolizam a oposição, criam falsos heróis, assassinam, perseguem e prendem jornalistas e académicos.
8. Os Ministérios Públicos foram-lhes estuprados a sua independência e essência e passaram a funcionar como parceiras das infracções cometidas pelos titulares dos órgãos executivos do Estado. Estamos diante de Ministérios Públicos que funcionam como padrinhos dos homens do executivo, senão como vassalos.
8. Cientes das críticas que recebem, os libertadores de ontem, hoje tiranos, criam nomes para adjectivar seus críticos e usam do Poder Judicial para persegui-los. Usam das forças governamentais para bloquear qualquer tentativa de manifestação, ainda que realizada de forma pacífica e pelas razões mais óbvias.
9. E mais, para ludibriar as massas distraídas, muitas delas, iletradas e menos escolares, fabricam grupos de analistas e comentadores políticos para bem-dizer seus governos. Deste modo, alguns jornais, rádios televisões, entre públicas e privadas, são regidos segundo os preceitos ideológicos dos ‘libertadores’.
10. Tal facto é consumado através da exibição de programas e reportagens que apenas bem-dizem os governantes. Esses tipos de órgãos de comunicação têm servido de instrumento para confundir e manipular o povo pacato que se compadece com o crescimento aparente de seus Estados.
11. Os libertadores de ontem para evitar serem conotados como tiranos de hoje, precisam urgentemente de respeitar os princípios democráticos constitucionalmente consagrados. Devem também, parar de encarar as funções de deputado, governador, administrador como um prémio político-partidário pela participação na luta de libertação e passar a olhar com seriedade a COMPETÊNCIA de seu titular.
12. Muitos de nós somos fãs e admirados dos nossos hinos nacionais africanos, a começar pelo hino nacional de Moçambique, Pátria Amada, em que nas laudas de sua última estrofe reza que “(…) nós juramos por ti, ó Moçambique: nenhum TIRANO nos irá Escravizar”. As instituições devem trabalhar!
3. Considerações finais:
Muitos dos libertadores de ontem precisam entender que a África e nem o povo que nele reside, não constituem sua pertença exclusiva. A África é dos africanos e, os seus recursos também. Se ontem a luta foi a mesma, é justo que os ganhos da liberdade em relação ao Ocidente sejam por todos gozados.
O princípio da transparência, consagrado nas tantas leis que regem os ordenamentos jurídicos dos Estados Africanos, deve constituir uma marca indelével dos actos realizados pelos órgãos de soberania, pelos governantes e por outros agentes do Estado. Atitudes justas e exemplares, precisam-se!
Ter libertado a pátria não constitui um jackpot nem visto para a exploração. Bem-haja aos verdadeiros heróis e libertadores nacionais, aqueles que agem leal e patrioticamente.
Feliz 03 de Fevereiro
Bem-haja Moçambique, nossa pátria de heróis!

1 comentário:

  1. Moçambique foi liberto da exploração do homem pelo homem ou apenas os exploradores brancos foram substituídos por exploradores pretos?Se isto não é verdade, porque a organizão de esquadrões de morte e ainda, porque a pena de morte e executada por qualquer membro da frelimo e não ditada por um tribunal?

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