A organização Human Rights Watch (HRW) apelou hoje às autoridades moçambicanas para que se desloquem ao local onde foram encontrados cadáveres e investiguem o caso, lembrando-lhes que "semeiam dúvidas" quando desmentir é a sua primeira reacção.
Os responsáveis "semeiam dúvidas quando a primeira reacção deles é desmentir a existência de um problema. A impressão que nós temos, como observadores externos, é que se desmentem estão a esconder alguma coisa", disse a investigadora da Human Rights Watch para Moçambique.
Em entrevista telefónica à Lusa, Zenaida Machado deixou um apelo às autoridades moçambicanas: "Que deixassem de falar a partir das capitais distritais para a imprensa e se deslocassem ao local e fizessem uma investigação independente, profissional sobre a origem daqueles corpos na mata".
As declarações da activista surgem na sequência de uma reportagem divulgada no domingo pela Lusa, segundo a qual pelo menos 15 corpos foram encontrados espalhados na mata, na região da Gorongosa, perto de uma vala comum denunciada por camponeses, numa zona fortemente vigiada por militares.
A presença dos militares não permite o acesso à vala comum onde, segundo camponeses, se encontram mais de cem corpos, mas são visíveis dezena e meia de cadáveres nas imediações, espalhados pelo mato e alguns deles despidos, constatou a Lusa no local.
A organização de defesa dos direitos humanos está a acompanhar o caso, seguindo relatos no terreno, mas Zenaida Machado prefere não se referir à alegada existência de uma vala comum, por não haver jornalistas ou investigadores que a tenham visto.
Já sobre a notícia de corpos espalhados na mata, considerou-a "preocupante, muito preocupante mesmo" e apelou às autoridades para que investiguem de quem são os corpos, porque é que estão na mata espalhados e quem é que os deixou ali.
"Nós sabemos que as autoridades ficaram de ir ao local, mas até agora, pela informação que recebemos, ainda não chegou lá nenhuma das autoridades que prometeu chegar, o que é preocupante", lamentou ainda Zenaida Machado, para quem o Estado Moçambicano "tem de dar uma resposta" perante casos destes.
"Não se pode ter um Estado que fica mudo perante estas situações ou que se limita a desmentir quando ainda não se fez ao local", sublinhou a investigadora, recordando que apenas dois dias depois da alegada descoberta de uma vala comum com mais de cem corpos houve uma posição oficial das autoridades a desmentir o caso.
Para Zenaida Machado, o Governo de Moçambique deve admitir que o país tem um território vasto e complicado e que, quando surgem relatos como estes, o objectivo não é "necessariamente estragar ou atacar a imagem do Estado, mas sim alertar para alguns problemas que estão a acontecer em locais a que eles [governantes] não têm acesso".
Insistiu por isso na necessidade de a Procuradoria, as autoridades moçambicanas e o governo local realizarem "uma investigação muito clara do que é que se passou e porque é que aqueles corpos estão na mata".
Admitindo que a origem das mortes possa ser o garimpo ilegal, já que os corpos foram descobertos perto de uma mina de extracção ilegal de ouro, Zenaida Machado afirmou que pode também significar que o conflito entre o Governo e a ala militar do principal partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), "já passou há muito tempo de um conflito entre as forças armadas e os homens da Renamo como parte de uma operação de desarmamento".
Caso se confirme que os corpos encontrados são de pessoas mortas no âmbito da crise militar, trata-se de “um conflito que está a atingir civis, está a matar civis está a deixar civis espalhados pelo mato", alertou.
LUSA – 02.05.2016
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