omingo, 10 de junho de 2018
O que era conversa tímida e era apresentado apenas como hipótese foi oficializado durante o fim-de-semana. O tenente- general Ossufo Momade, o dirigente interino do partido Renamo, deixou a cidade de Maputo e, com efeitos imediatos, passa a residir na Serra da Gorongosa, a base militar do partido de Afonso Dhlakama. É o corolário de um braço-de-ferro entre a ala política e a ala militar. Esta última queria garantias de que toda a negociação feita em Maputo não a colocaria de lado. Ossufo Momade teve de dar o corpo ao manifesto e mostrar lealdade, mas também enviar uma importante mensagem ao partido Frelimo, que Dhlakama morreu, mas a luta continua saudável. Em entrevista ao Canal de Moçambique, Ossufo Momade, muito cuidadoso nas palavras, mas muito preciso no que diz, disse que a sua decisão não visa pressionar ninguém. É uma questão de segurança, porque não se sentia seguro em Maputo, desde o dia em que foi indicado para coordenar a Comissão Politica da Renamo. Acompanhe a entrevista.
Canal de Moçambique (Canal) - O que ditou a sua mudança de residência para a Gorongosa?
Ossufo Momade - Aqui é o lugar onde me sinto bem, agora que estou a coordenar a Comissão Politica da Renamo. Estando na posição em que estou, na cidade não há segurança. Por isso preferi vir para aqui e passar a viver com os meus colegas. Aqui sinto-me mais protegido.
Canal - Por que é que acha que na cidade não estava seguro?
Ossufo Momade - Não acredito que me esteja a perguntar isso. Você sabe que na cidade não há segurança. Você viu comentadores que foram sequestrados e a quem quebraram as pernas, ai na cidade. Para não falar dos membros da Renamo, que foram baleados nas cidades. Os moçambicanos viram isso. E eu acho que aqui é mais seguro, junto dos meus colegas.
Canal - Por que é que acha que corria perigo?
Ossufo Momade - Eu, sendo o actual dirigente do partido, não me senti seguro ai na cidade. A Frelimo podia instruir os seus homens para me fazerem mal. Estando aqui na Serra [da Gorongosa], eu fico mais seguro.
Casal - Por que é que acha que a Frelimo iria instruir os seus homens para lhe fazerem mal?
Ossufo Momade - Por que é que acha que fizeram mal a esses outros que mencionei? Portanto não podia negligenciar a minha própria segurança. Queria estar num lugar onde me podia sentir protegido. E aqui na Serra (da Gorongosa]) é mais seguro do que na cidade.
Canal- Há quem diga que isso tenha razões ligadas aos próprios militares?
Ossufo Momade- Para além de tudo isso, estou aqui também para melhor controlar as forças. Porque não estando aqui, fica um pouco complicado porque é preciso que tenham um comando presente para coordenar. O General Dhlakama estava aqui a coordenar e eu também tenho de estar aqui. Estando em Maputo seria difícil controlar as forças.
Canal - Como é que o seu partido recebeu a sua decisão de ir viver para a Serra da Gorongosa?
Ossufo Momade - Eles sentem-se satisfeitos que eu cá esteja a viver com eles. Acho que nenhum membro se opôs a essa decisão, porque o que está em causa ê a minha segurança.
Canal - Como é que vai coordenar a Comissão Politica a partir da Gorongosa. Considera que a articulação será melhor assim?
Ossufo Momade - Aqui estou no meio dos militares. O partido é de âmbito nacional. A sede do partido está em Maputo, a Comissão Politica também está em Maputo, o Secretariado-Geral também. Telefonicamente vamos continuar a corresponder-nos e a trocar ideias. Nada vai parar. Da mesma maneira que o presidente Dhlakama fazia, é o que se vai fazer.
Canal - Para o público ainda não está claro se o general será, ou não, o candidato da Renamo. Esta questão já foi tratada? O general Ossnfo será, ou não, o candidato da Renamo?
Ossnfo Momade - Ainda é muito prematuro para se abordar essa questão, meu amigo. Ê muito cedo. Essa questão não foi ainda tratada, porque simplesmente vai acontecer o que
anunciámos na última reunião da Comissão Politica. Esse processo será tratado no Congresso. E o Congresso ainda não aconteceu. As pessoas deverão aguardar o que Congresso vai decidir.
Canal - Logo que foi oficializada a morte do presidente Afonso Dhlakama, o presidente Nyusi disse que a articulação com a Renamo estará a acontecer com um grupo restrito. Como é que está essa articulação?
Ossufo Momade - Logo que perdeu a vida o nosso presidente, dissemos que queríamos continuar a dialogar com o Governo da República de Moçambique, na pessoa do presidente Nyusi. Essa é a nossa vontade, e estamos comprometidos com isso. O presidente Nyusi, querendo também dialogar, as portas estão abertas nos mesmos moldes em que fazia com o presidente Dhlakama.
Canal - Se, do lado da Renamo, é apenas uma estratégia de segurança, a comunidade internacional pode ter outra percepção e olhar com receios a sua decisão. Que mensagem tem para a comunidade internacional, que provavelmente pode estar reticente?
Ossufo Momade - A minha decisão não tem outro objectivo senão salvaguardar a minha integridade. Não se trata de ameaça para ninguém. Eu não vim para a Gorongosa para pegar em armas, não vim para a Gorongosa para fazer guerra nem para pressionar ninguém. Vim proteger-me. O presidente Dhlakama já havia dado ordens aos militares da Renamo para que não dessem nem mais um tiro, e os militares estão a cumprir essa ordem. Por isso, até hoje, não há um único tiro que foi disparado pelos militares da Renamo Ninguém pode dizer que Ossufo Momade foi para a Gorongosa para fazer guerra. Não tenho essa ideia. Da mesma forma que o presidente Dhlakama estava aqui quieto, eu também vim aqui em paz, simplesmente para proteger a minha vida
Canal - Sabemos que houve muitos desenvolvimentos sobre a descentralização. Em que situação se encontra a questão militar?
Ossufo Momade - Ainda estamos a tratar da questão da descentralização, que está na recta final Só mais tarde que é que vamos tratar das questões militares.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 06.06.2018
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