"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 18 de junho de 2018

VENÂNCIO MONDLANE: O POVO ESTÁ ACIMA DE QUESTÕES POLÍTICO-PARTIDÁRIAS*



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“Todo o partido existe para o povo e não para si mesmo - Konrad Adenauer (1876 - 1967)” – Político alemão”.

Uma das características da natureza do *ser humano* é o de ser *facilmente manipulado* ou manipulável no meio em que se encontra. Isso é motivado por duas razões: a primeira; *por “culpa” de terceiros, aqueles que detêm informação* ou exploram com mestria o vazio de informação que existe; a segunda, *por culpa do próprio ser humano* que não se esmera em nada para obter outras versões dos factos, caindo sempre na “ratoeira” de consumidor passivo.
Ora, para alterar este facto sempre recorrente dessa mesma natureza humana, há aqueles que são considerados detentores do bom senso, uma espécie de questionadores do que vêem ou ouvem, e que os submetem à lupa da razoabilidade factual ou científica. Parece-me que os últimos são os mais felizes nesta empreitada de “conhecer a verdade”. Foi o que o autor destas linhas tentou fazer ao analisar muitos comentários dos moçambicanos após a veiculação, por alguns órgãos de comunicação social e pelas redes sociais, de notícias segundo as quais *Venâncio Mondlane (VM), político e activista social, estava de saída do MDM para concorrer supostamente por outro partido político*.

Os comentários que foram sendo feitos, dignos da nossa perene capacidade de cruzamento de informação, confrontação de dados e contraditórios, mostram claramente que ainda precisamos muito que aprender para, efectivamente, nos considerarmos uma sociedade evoluída, se olharmos às diversas interpretações sobre este facto.
Se, por um lado, há quem congratula VM por esta suposta medida, por achá-la oportuna dada a balbúrdia que se instalou no MDM, *obviamente há os que não concordam*. Estes últimos, segundo argumentam, dizem que VM estaria a cuspir no prato que comeu, embora não seja a mim o facto que me preocupa, mas a base de sustentação deste pressuposto, essencialmente eivado de oceânicas fissuras de razoabilidade, senão vejamos:
*Antes de VM ter concorrido em 2013 pelo MDM, já vinha recebendo convites de várias plataformas político-partidárias e movimentos sociais para liderar um projecto eleitoral para a Cidade de Maputo*. Aliás, na entrevista que concedeu à STV durante as exéquias do líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, em Maio último, o próprio reconheceu este facto, o que quer dizer que *já vem sendo namorado antes mesmo da criação do MDM*. Isto nos leva ainda à conclusão de que não foi o MDM o primeiro grupo a apreciar a sua nata capacidade de defensor do Povo, de mobilizador e visionário social.
Tal como no processo de conquista entre um homem e uma mulher, onde a mulher escolhe o parceiro que melhor projecto de vida apresente, assim o fez VM, ciente de que estava a escolher o parceiro que melhor se enquadrava no seu projecto. Mas a decepção tomaria conta dele anos mais tarde.

Anos atrás, o MDM apresentou o seu candidato a Edil do Municipio de Maputo numa cerimónia bastante concorrida pelo facto da pessoa ser conhecida por todos aqueles que acompanham o mínimo sobre política em Moçambique. Houve muita euforia e não era para menos, era Venâncio Mondlane!
Para dissipar todas as dúvidas sobre quem carregou quem, o resultado das eleições foi categórico: *Venâncio Mondlane teve mais votos do que o próprio partido* que alegadamente sustentara a sua candidatura... Isso quer dizer, caro leitor, que *VM suportou o MDM na Cidade de Maputo em 2013, de forma tão óbvia e nítida*, pelo menos na mente das pessoas com sensibilidade aritmética.

Aliás, o próprio VM venceu as eleições na Cidade de Maputo, de acordo com os resultados obtidos na urna, e a culpa do que se viu foi mesmo do Partido, que de forma estranha, de acordo com as pessoas séniores do MDM que consultei, *parecia não estar interessado em ganhar eleições na capital do País*. Houve uma organização para desorganizar, tudo desenhado com mestria categoricamente maquiavélica, com o conluio de graúdos do próprio partido. É por isso que, mesmo depois de tudo o que aconteceu, *os mentores da “venda das eleições de 2013” continuam intocáveis na delegação política da Cidade de Maputo*. Mas, sobre isso, falarei noutra carta.
Volvidos quase 5 anos após esta situação, VM poderá estar de saída do MDM e embora toda a trama que tem sido urdida pela máquina esquizofrenicamente servil da cúpula do Presidente Daviz Simango, que normalmente usa a baixa jaez e o vilipêndio barato (sempre assim trabalharam) para desviar a opinião pública, *não há nenhuma dívida que VM tem com o MDM. Dívida enorme teria se permanecesse lá*, e esta dívida seria com o Povo, aliás, o MDM deve muito a este povo.

*Venâncio Mondlane não deve nada ao MDM. Não é o MDM que o fez ser o que é, muito pelo contrário*. Não conheço nenhum político nacional com vigor, visão, dedicação, energia e entrega pela causa política e social como VM.

Quando abordei alguns membros seniores do partido para escrever este artigo, muitos destes lamentavam o facto da *arrogância e ausência de urbanidade política de Daviz Simango estar a destruir este partido*. Isso devia começar a preocupar os próprios membros, se efectivamente há interesse ou não deste MDM chegar o poder, o que parece-me que não! Numa situação normal, *VM deveria ter saído do MDM mais cedo*, assim como o fizeram muitos outros membros ou simpatizantes que há muito perceberam que uma coisa é liderança e outra acidente de percurso que forja “líderes” sustentados pela demagogia do aparato léxico da liderança. No entanto, não o fez pois esperava mudança, uma maior democratização do Partido, uma maior abertura à gestão institucional. Nada disso aconteceu.

*Não vislumbro um projecto do MDM que seja sustentado por pessoas sérias, pessoas comprometidas com o Povo no verdadeiro sentido*. Vejo um MDM que usa um slogan apaixonante na luz e, no escuro, o esfaqueia loucamente até ficar sem sangue, todos os dias. Não há visão colectiva, não há projecto inclusivo. Há sim um rabisco de projecto de sanita de usar o partido e a inocência de quem nele se inspira, para pilhar todos os benefícios decorrentes da sua existência.

*Se VM quiser abraçar outros projectos sérios, com garantias sérias de que o Povo está em primeiro lugar, que o faça*. Ele sabe que, mais do que servir utopias partidárias, melhor é dormir com a cabeça fresca no travesseiro fazendo o que é correcto em nome do Povo.
Gostaria que a maioria dos membros do MDM olhasse com calma, abrisse os olhos desprovidos de paixões que a natureza antidemocrática, tribal e regional ali soterramente instalada lhes foge à vista, e comece a questionar um conjunto de situações que vem ocorrendo dentro daquele partido, antes de criticarem a Venâncio Mondlane ou outro membro comprometido pelo bem colectivo.
Será que ainda não observaram que a incompetência e a acefalia são os ritmos mais dominantes da música que a maioria da classe dirigente do MDM toca? O silêncio e impunidade são premiados escandalosamente? Quanto mais se for nabo político e cego partidário, mais probabilidades de alcançar altos voos se tem? Olhem para quem vos lidera e os que estão ao seu redor e notarão que a maioria é assim.
Já notaram que *a nata intelectual é ostracizada, em detrimento dos que alegadamente estão a saborear despojos da fundação do MDM ou da revolução de Agosto*? Onde está aquela toda juventude pensante, com ideias próprias, verticais? Foram todos pulverizados pela ordem dominante, pelo primado da incoerência política que norteia o MDM desde que a arrogância se tornou regra vital de Daviz Simango.

*E hoje, muitos dos que estão a pôr em causa a possível saída do VM não têm noção daquilo que este senhor fez pelo MDM*. Pelo amor que destilou em cada acção realizada para o MDM, *actividades que colocaram em risco a sua vida e a dos seus, em nome do MDM*, nem poderão saber, pois o que nos mata neste país é a cegueira partidária. Ainda não temos políticos que pensam fora da caixa do partido por mais que lá estejam.

VM pode sair para onde quiser ficar, não vejo problema nisso. O aceitar pertencer a um partido não pode significar acompanhar a sua destruição numa situação em que há avisos de perigo sobre como as coisas andam e, mesmo assim, sermos ridicularizados em praça pública. Para quem lembra, *VM foi o primeiro a apresentar a ideia de coligação no Congresso de Nampula e nos mídias*. Não é preciso adivinhar qual foi o posicionamento do canil fiel do Presidente Simango, naquele dia.

*Venâncio Mondlane liderou marchas cívicas incríveis na Cidade de Maputo, ao lado da população e carregando os membros do MDM, quem não se lembra?* Quantos membros estão a viver às custa do MDM e nem sequer quando fura-se um tubo de água na rua da sua casa tem coragem de levantar uma luta para repor a sua dignidade? Pessoas que se dizem membros e isso lhes dá ganhos materiais, mas na hora de lutarem pelo MDM acobardam-se se escondendo entre as pernas do Diabo? *Já viram algum político nesta pátria que tanto se entregou para alavancar a imagem do seu partido como VM o fez*? Se formos sérios na resposta a estas questões, então digamos *NÃO, NUNCA VIMOS ALGUÉM COMO VM*.

Em suma, VM não deve nada ao MDM. *O MDM é quem deve ao Povo moçambicano, do qual VM mostrou actualmente ser quem melhor representa*. Deve aos milhares de jovens que se juntaram ao seu projecto, com ideias bonitas, com aspirações brilhantes que, no entanto, todo o dia está ficando nítido que eram iscas para sustentar o regulado tribal dos Simango e uma corja sedenta pelo projecto de não haver projecto.
*VM avisou e propôs soluções para o bem do MDM, mas foi humilhado. Fez a sua parte, foi leal, foi verdadeiro*, mas não pode sobreviver num matagal de trapaceiros. Não há como, só pode sair. *Se VM fosse meu conhecido próximo, eu diria “saia e não te sintas a dever ao MDM por nada, não deves nada” *. Tu fizeste tudo o que era possível, mas esta malta não pensa no Povo, pensa nela e isso é sintomático do desfasamento entre tu e eles. *Tu és Povo, pensas Povo, vives o Povo. Então bro: Estás perdido aí*.

Aliás, se fores para outro partido e nesse lugar descobrires que é mais um grupo que usa a política para o seu próprio benefício, usando slogans e propaganda contrária à sua essência, que saias novamente, nem que vás a todos os grupos políticos ou cívicos de Moçambique e do Mundo, até que encontres um onde, efetivamente, as pessoas se preocupam com o Povo. O Povo para ti está em primeiro lugar, caso contrário não serias Venâncio Mondlane.

*Membro da Página Amigos do Venâncio Mondlane, residente em Stavanger, Noruega.



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