"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 14 de junho de 2018

COMUNICADO DO BISPO ACERCA DOS ATAQUES EM CABO DELGADO.


CONFERENCIA EPISCOPAL DE.MOÇAMBIQUE.

DIOCESE DE PEMBA

COMUNICADO DO BISPO ACERCA DOS ATAQUES EM CABO DELGADO.

DIOCESE DE PEMBA Pemba -Cabo Delgado -Moçambique (Paço Episcopal, Rua 018, 124-Cx.Postal 12-Tel.00258-272-20381)

E-mail: luizfernandocp@uol.com.br

Comunicado do Bispo de Pemba aos cristãos e às pessoas de boa vontade «A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim» (Gn 4,10)

Caros irmãos e irmãs: A nossa Província de Cabo Delgado está a testemunhar, desde Outubro último, momentos dolorosos por causa dos ataques bárbaros que a população tem sofrido, causando mortes, desestabilização, deslocamentos, abandono de Aldeias, machambas e da vida normal. Vive-se sob o regime do medo e da insegurança. A Província sempre esteve entre as mais pobres de Moçambique nos indicadores sociais. Nos últimos anos, com a descoberta de muitos recursos naturais, temos sido alvo de uma verdadeira invasão de pessoas de diferentes proveniências, empresas e projectos. Nossas riquezas poderão gerar emprego, estabilidade e esperança para a nossa juventude se esta for tida em conta no desenvolvimento. Podem igualmente gerar uma vida melhor para toda a população da Província e do País -crentes e não crentes, idosos e crianças, homens e mulheres -desde que sejam bem geridas, repartidas e fiscalizadas. As assimetrias que sempre existiram poderão desaparecer com uma partilha séria e responsável dos bens. Ninguém sabe exactamente quem é e o que quer este inimigo oculto. Ele não tem rosto, nem proposta, nem interlocutor com quem se possa dialogar. A única coisa que percebemos é que ele é bem claro ao expressar a sua fúria, o seu descontentamento, a sua maneira de gritar e de chamar à atenção. Ele tem feito reflectir a todos nós, indistintamente, pobres e ricos, governantes e governados, crentes e não crentes, da Província e de todo o País. Infelizmente, estes terríveis acontecimentos têm sido noticiados a nível internacional e não há uma resposta clara do Governo Central acerca dos mesmos. Os jovens lá envolvidos não são apenas uns estranhos, estrangeiros ou "terroristas", como gostamos de chamá-los. Há também jovens das nossas famílias, das nossas aldeias, dos nossos partidos, das nossas profissões de fé ... "quase todos perdidos de armas nas mãos" (canto popular brasileiro). Estes ataques fazem-nos levantar sérias questões:

• Que futuro estamos a oferecer aos nossos jovens e como os incluímos na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária?

• Como é que as nossas riquezas (recursos naturais) têm ajudado ao desenvolvimento real e integral da nossa Província e dos nossos cidadãos?

Em que medida, temos pensado e trabalhado para oferecer à juventude uma educação adequada e espaços culturais e recreativos que favoreçam o desenvolvimento de todas as suas habilidades e criatividade?

•Todas estas e muitas outras perguntas certamente nos fazem reflectir e devem ser objecto de preocupação para todas as pessoas de boa vontade, sobretudo para os governantes. Ao visitar algumas comunidades e paróquias desta região tenho procurado levar uma palavra de alento e de esperança aos nossos agentes de pastoral e para o povo em geral, argumentando que não nos podemos sentir encurralados e paralisados, apesar do cuidado que devemos ter. Há muitos boatos e versões diversas dos factos, que contribuem para um clima de insegurança e imprevisibilidade generalizadas. Embora a Igreja não admita que a violência seja cometida contra nenhuma pessoa, preocupa-nos em perceber que nos atentados e ataques são os mais pobres que tem sido as maiores vítimas. As pessoas já vivem com tão pouco e o pouco que têm acabam por perder. Conclamo a todos para intensificarmos nossas orações para o fim desta tragédia que se abateu sobre nós. Não nos deixemos cegar por preconceitos religiosos, étnicos e políticos. Pelo contrário, formemos uma grande corrente de bons sentimentos, boas práticas, bons relacionamentos, bons conselhos, boas iniciativas ... a fim de que a paz, que é sempre um fruto da justiça, volte a reinar entre nós. Que Deus abençoe e ilumine a todos e todas! .

Fernando Lisboa,
Bispo de Pemba


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