22/06/2018
EDITORIAL
Isso mesmo. Trata-se de um fenómeno estranho o que se está a passar em Cabo Delgado. Uma chacina sem precedentes no país, pelo menos naqueles moldes! Mas afinal o que se passa? Quem são essas pessoas que semeiam terror em pacatos cidadãos indefesos? Estas e outras perguntas continuam sem resposta de quem devia dar esclarecimento cabal, no intuito de elucidar as mentes da “Pátria Amada” e o mundo em geral sobre as reais intenções deste grupo que pratica dos mais execráveis actos nos distritos de Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga, com muitas mortes à mistura, queima de habitações; decapitação de crianças, jovens e adultos. Serão estes grupos jihadistas? É que pelos relatos que chegam aos ouvidos dos mais atentos, até as autoridades não admitem essa possibilidade, propalando a tese de tratar-se de grupos desbaratados e tontos que semeiam terror somente para alimentar o seu espírito sanguinário! Mas parece que o assunto vai mais longe que simples sanguinários acobertados no Islão, carecendo de mais profundidade na análise deste fenómeno.
O Olhar de Lince guarda na memória imagens tristes desses ataques, ao que parece, perpetrados pelo grupo rotulado de “Al-Shabaab, no defunto ano de 2017.
Outubro! Alguns verdadeiros líderes religiosos locais afirmam ter alertado sobre a existência de pessoas que, a coberto da religião, introduziam certos princípios não comungados por muito boa gente praticante do Islão. Pelo que parece, ninguém deu ouvidos! Porquê? Talvez mais preocupados com a gestão das “dívidas ocultas mas reluzentes”!
Muito recentemente, o distrito de Macomia, a Norte da província de Cabo Delgado, sofreu das mais ignóbeis carnificinas. Sete mortos por decapitação, mais de 160 casas queimadas, cabritos queimados vivos, na aldeia de Naunde, somam-se como balanço aterrador das acções dos ditos “Al-Shabaab”. Que crueldade em nome da religião!
Dois dias depois, outro ataque acontece na aldeia de Namuluco, mas já no distrito de Quissanga, bem perto da vila-sede de Macomia. Tanto horror! E porque a situação se mostrava já insuportável e com tendência a ganhar contornos inaudíveis, integrado na comitiva do chefe de Estado na visita à cidade de Maputo, o chefe dos “gendarmes” nacional foi obrigado a abandonar o cortejo presidencial para monitorar de perto a situação. E não era para menos! Basílio Monteiro escalou Naunde e outras localidades costeiras de Cabo Delgado. Não faltaram apelos à população para confiar nas Forças de Defesa e Segurança, as nossas FDS! Mas como dar crença aos apelos de retorno aos seus locais de residência se os ataques não cessam, apesar da confiança depositada na nossa segurança e da visita ao mais alto nível da “gendarmerie”? A população não se sente segura, mesmo com a presença em massa das FDS, preferindo portar catanas, arcos e flechas para auto-defesa! E pede armas! Como se a insurgir-se contra a visita do ministro do Interior, alguns, poucos, dias depois de ter escalado Macomia, outra aldeia do distrito foi atacada. Mais uma decapitação! Mais uma vítima em Nathuko, no posto administrativo de Quiterajo. Nenhum sinal de desbaratamento dos bandidos, o que deixa as populações com o coração e as calças na mão! Autêntica atmosfera de suspeição, na vila-sede de Macomia! Aqui reina o recolher obrigatório a partir das 21 horas. Com os militares em verdadeira posição de guerra! Aonde chegamos, caros compatriotas! Mas quem são essas pessoas desalmadas? Diz-se de boca cheia que muitos dos atacantes são filhos e jovens locais. Conhecidos por todos! O que leva filhos da terra a saírem da harmonia social e enveredarem pelo crime nas matas, longe dos seus progenitores? Alguns afirmam que muitos foram aliciados pelo dinheiro fácil nas matas. Quem prometeu esse dinheiro?
Outros ainda falam do sentimento de exclusão a que se acham votados. Por parte de quem? Excluídos na religião? Na sociedade em geral? O tempo dirá! Fala-se da existência de células de jovens excluídos na vizinha Tanzania aptas a entrar em Moçambique. E com a porosidade das nossas fronteiras, muita coisa nos espera ainda! Basta de atribuir culpa ao Islão. Esta religião apregoa a Paz. Em nenhum momento defendeu a carnificina. Terroristas existem tanto Cristãos, Muçulmanos, Budistas, por aí fora. Não à Islamifobização das matanças de Cabo Delgado!
Porque a situação tende a tomar contornos indignos, o Olhar de Lince também apela ao reforço da vigilância e mais autoridade de Estado para estancar o triste fenómeno!
Pela segurança em Cabo Delgado e retorno à normalidade!
Tenho escrito!
ZAMBEZE – 21.06.2018
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