"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Gratifica-se a quem nos arranjar um presidente


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Se o anúncio causar estranheza ao estimado leitor, é uma reacção de dimensão compreensível. Mas, se o leitor fizer um esforço de primeiro grau para compreender a situação em que o país se encontra, certamente irá perceber que estamos desgovernados e, por fim, acabará por apreender o anúncio e concordar com ele.
Mas, antes de mais, é preciso que se faça uma retrospectiva cronológica que remonte a 15 de Janeiro de 2015, para enquadrar e dar eficácia ao anúncio.
A 15 de Janeiro de 2015, Filipe Nyusi tomou posse, ali na Praça da Independência, e fez um par de promessas brilhantes. Recordamos, aqui, ao estimado leitor algumas dessas cativantes promessas.
  1. “O meu compromisso é de servir o povo moçambicano como meu único e exclusivo patrão. O meu compromisso é o de respeitar e fazer respeitar a Constituição e as Leis de Moçambique. E eu estou pronto! E estou confiante que, juntos, iremos construir o bem-estar do nosso povo e um futuro risonho para as nossas crianças”.
  1. “A Paz, condição primária para a estabilidade política, desenvolvimento económico, harmonia e equidade social. Estas conquistas são sólidas por serem abraçadas por todos os Moçambicanos”.
  2. “É preciso consolidar a Paz como um valor presente na vida de cada cidadão, cada família e em todos os cantos do território nacional. Deve ser inabalável a certeza de que nunca mais os moçambicanos viverão sob a ameaça do medo e o espectro das armas”.
  3. “Os valores da convivência pacífica, harmoniosa e da solidariedade social devem ser vividos como uma cultura colectiva, a nossa cultura de todos os dias. Todos os actores sociais, desde a família, as confissões religiosas, a sociedade civil, os partidos políticos, as instituições de ensino e de pesquisa, são chamados a participar activamente na educação dos cidadãos e na consolidação de uma cultura nacional de diálogo e de harmonia”.
  4. “Como Chefe de Estado, primarei pela abertura ao diálogo construtivo com todas as forças políticas e organizações cívicas para promover a concórdia. Podem estar certos, caros compatriotas, que tudo farei para que, em Moçambique, jamais, irmãos se voltem contra irmãos seja a que pretexto for”.
  5. “Defenderei de forma vigorosa os direitos humanos, em particular o direito à vida e às liberdades fundamentais do homem”. [É esse direito à vida que está ser negado aos jovens da UIR, aos cidadãos residentes onde decorre a guerra.]
  6. “Buscarei (…) o espírito de tolerância e de reconciliação da família moçambicana, para a consolidação da paz duradoira, condição fundamental para o desenvolvimento.
Prosseguirei com o dinamismo (…) na edificação de infraestruturas básicas e na afirmação da economia moçambicana rumo ao progresso e bem-estar dos moçambicanos”.
  1. “O meu Governo promoverá um ambiente macro-económico equilibrado e sustentável por forma a consolidar um clima de confiança num investimento seguro e no retorno dos justos benefícios”.
Enumerámos apenas estas oito promessas, por uma questão de economia política de espaço. Mas é simples verificar que, de cima para baixo, ou de baixo para cima, como queira o leitor, nenhuma dessas promessas está em vias de ser cumprida. Mais do que não serem cumpridas, a situação em todas as  áreas referidas simplesmente se deteriorou.
Hoje, estamos com um país caótico, sem qualquer tipo de esperança. A impressão com que se fica é a de que Filipe Nyusi perdeu o discurso no caminho de regresso a casa. A paz, que foi hasteada como cavalo de batalha, está a deteriorar-se a olhos vistos, com a guerra a alastrar-se a quase toda a extensão do país, com excepção do Sul, como corolário de uma política de arrogância e de uma agenda de infantilização e subalternização do outro. A ideia de querer assassinar Afonso Dhlakama, mais do que ser acéfala, está a arrastar o país para um banho de sangue desnecessário.
Certamente que nenhum moçambicano no seu estado normal pode levar a sério o expediente das negociações enquanto na frente militar a ordem para matar Dhlakama ainda permanece em vigor e intacta.
O resultado disto é que a valorização da prática da violência e do vandalismo tende a reproduzir-se a olhos vistos. Ontem, a Frelimo assaltou residência de Afonso Dhlakama, quer em Maputo, quer na Beira.
Violentou os seus familiares, roubou armas, dinheiro, computadores, e partiu mobiliário. Hoje, a Renamo também está a assaltar esquadras, rouba armas, assalta sedes de Administrações, também destrói mobiliário e incendeia viaturas. É a implementação recíproca do vandalismo como programa político. Avisámos, aqui, que a ridicularização do outro como estratégia certamente que não nos levaria a outro resultado que não fosse o derramamento de sangue.
A economia do país foi logicamente atirada para uma avaliação que, para o pior, fica abaixo de lixo, na linguagem das agências de notação financeira. O trambolhão cambial da nossa moeda está a bater no fundo, numa economia que sobrevive de importações. O empresariado está à beira de um colapso nervoso e, com isso, há menos comida na mesa dos cidadãos, porque os preços triplicaram e os salários mantêm-se quase que estacionários. Num cenário de guerra, não há perspectivas de recuperação. O país entrou num ciclo de ingovernabilidade.
O mais gritante, nisto tudo, é que, desde que Nyusi tomou posse, não se lhe conhece uma ideia singular.
Afirmamos com toda a certeza que, desde o dia 15 de Janeiro de 2015 até agora, Filipe Nyusi ainda não apresentou sequer uma ideia.
É, provavelmente, o primeiro chefe do Estado sem ideias. Se os outros até pensavam em catástrofes como a “jatropha”, os “sete milhões”, os elefantes-brancos, a EMATUM, a “ProIndicus” e todas as outras formas de saque, Nyusi simplesmente não pensa. É provável que tenha sido esta a qualidade mais notável que fez com que os seus verdadeiros patrões ali o colocassem. O resultado está à vista: uma “presidência cheia de falta de ideias”. Gratifica-se a quem nos arranjar um presidente. É uma necessidade de cariz urgente.
(Canalmoz / Canal de Moçambique)
CANALMOZ – 10.08.2016

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