O Presidente da República, Filipe Nyusi, questiona a pretensão da Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique, de querer governar a força as províncias onde alega ter ganho nas eleições gerais de 2014.
O Chefe de Estado deplorou a postura da Renamo durante um encontro mantido sexta-feira, em Nairobi, com a comunidade moçambicana residente no Quénia, sublinhando que em nenhum momento a Renamo ganhou seis províncias.
Não é verdade que a Renamo ganhou seis províncias. Apenas teve mais votos relativamente a outros partidos, disse Nyusi, que se encontra na capital queniana para participar na VI Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento de África (TICAD VI), um evento que conta com a presença de mais de três dezenas de Chefes de Estado e de Governo do continente africano.
Nyusi explicou que a Renamo continua a invadir hospitais, atacar e matar civis inocentes, acções que levaram as autoridades governamentais a introduzir colunas com escolta militar para garantir a circulação de pessoas e bens em algumas regiões do país.
Tudo isso porque o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, quer governar as seis províncias onde ele diz que ganhou as eleições, disse o estadista moçambicano.
Fazendo uma analogia com um campeonato de futebol, Nyusi disse que apenas uma equipe pode ganhar.
Quando termina o campeonato é apenas uma equipe que ganha, e é essa mesma equipe que representa o país no mundo inteiro, disse Nyusi, em resposta a preocupação apresentada pela comunidade moçambicana sobre o actual clima de tensão militar que se vive no país.
Na sua mensagem, lida por Rafael Mazula, a comunidade moçambicana disse que o agravamento da tensão político-militar no país mina o desenvolvimento económico e social registado ao longo dos últimos anos.
Por isso, refere a mensagem, repudiamos e condenamos o recurso a força militar para a resolução dos nossos problemas. A guerra provoca luto e destruição de infra-estruturas económicas e sociais, como estradas e pontes, a rede comercial, as escolas e hospitais.
A comunidade reitera que a violência da Renamo apenas retarda e impede a exploração efectiva dos recursos naturais e, consequentemente, o desenvolvimento de Moçambique.
Na ocasião, a comunidade enalteceu as iniciativas para o restabelecimento da paz em Moçambique, afirmando que o Chefe de Estado é o exemplo de tolerância política e um caso único em África e no mundo que permite a convivência entre irmãos mesmo os que cometem tamanha brutalidade.
Os membros da comunidade apresentaram as dificuldades que enfrentam no quotidiano, particularmente a falta de documentos de identificação.
A maioria (dos moçambicanos) não tem documentos de identificação, como o bilhete de identidade e passaporte. Sem estes documentos, a nossa vida torna-se difícil. Isso dificulta a legalização neste país e o acesso aos serviços sociais como a educação e o emprego, disse Mazula.
Pedem ainda a intervenção do governo moçambicano, junto a sua contraparte queniana, para que este possa endossar nos seus passaportes o Resident Pass para facilitar a sua movimentação.
Segundo Mazula, a maioria dos membros da comunidade moçambicana é constituída por cidadãos que chegaram ao Quénia antes da independência deste pais da África Oriental para trabalhar na agricultura, tais como plantações da cana-de-açúcar e sisal.
Parte considerável vive junto a costa, tendo como principal actividade a agricultura e o artesanato.
Por isso, muitos foram afectados pela crise económica mundial e o terrorismo, sobretudo aqueles que depende do artesanato devido a redução de turistas estrangeiros, que são os principais clientes.
Refira-se que o problema da identificação de moçambicanos tem sido reportado amiúde pela própria imprensa queniana. Existem vários casos de cidadãos que se estabeleceram no Quénia há mais de 40 anos e que continuam indocumentados, uma situação que afecta seus filhos.
Em resposta as preocupações apresentadas, o Presidente da República tranquilizou os presentes afirmando que o governo vai enviar uma equipe do Ministério do Interior para tratar da emissão de bilhetes de identidade e passaportes.
Fazendo um breve retrato de Moçambique, Nyusi explicou que em 2015 algumas regiões de Moçambique foram afectadas pelas cheias e que no presente ano outras regiões foram fustigadas pela seca, a pior das últimas décadas.
Abordou ainda a questão da crise financeira que se faz sentir em Moçambique, explicando que a mesma deve-se a queda de preços no mercado internacional, facto exacerbado pelos ataques da Renamo.
Durante a sua intervenção, Nyusi advertiu que Moçambique deve adoptar uma política de austeridade e não consumir acima daquilo que é capaz de produzir.
SG/SN
AIM – 27.08.2016 NOTA: “Não é verdade que a Renamo ganhou seis províncias. Apenas teve mais votos relativamente a outros partidos, disse Nyusi…” Não será que quem tem mais votos é que ganha? Para Nyusi parece que não.
Fernando Gil
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