SELO: Situação da educação actual em Moçambique e as causas da fraca qualidade de ensino - Por Jorge Valente |
Vozes - @Hora da Verdade | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Escrito por Redação em 24 Agosto 2016 | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Havia naquele tempo exercícios de redacção e memorização de tabuada de subtracção, adição, multiplicação, divisão e era obrigatórios os alunos estudarem e treinarem estas matérias. Os alunos tinham o domínio de aritmética. Naquela época, havia pouco material didáctico, sem expansão e diversificação devido a diversas especificidades de exigências da vida social dos cidadãos. Já desde sensivelmente 1995 até aos dias que correm, assiste-se em contrapartida um revés na educação em Moçambique, apesar de o ensino estar centrado no aluno com método de elaboração conjunta, trabalho independente, e pouco expositivo. Os conteúdos são profissionalizantes e diversificados. Hoje, muitas estratégias de ensino e entrega que os professores tinham não existem. Face a este cenário, a questão de fundo: Os alunos não dominam a língua portuguesa, que é oficial e de unidade nacional. Eles não conseguem interpretar alguma ideia expressa num extracto ou texto, ou numa frase, não conseguem ler e nem escrever. Como consequência dessa realidade, os alunos não conseguem entender as ideias expressas noutras disciplinas curriculares. Esta situação parte do ensino primário, passa pelo ensino secundário e estende-se até ao ensino superior. Quais são as causas então? Estas são várias, e posso avançar algumas: - As politicas educacionais desenhadas para o processo e aprendizagem não são adequadas; - O fenómeno “refresco” já atingiu a educação, em que muitos alunos já mentalizaram que para ter boa nota precisa aproximar ao professor para ser padrinho ou “caso” do professor. A maior parte dos professores é promotora do fenómeno de apadrinhamento de alunos fracos, que não se interessam em estudos a troco de favores materiais e aliciamento sexual das meninas. - Muitos professores optam pelo ramo da educação como oportunidade de emprego e não uma tarefa de vocação, disponibilidade e humanismo para ensinar os outros. - Muitos professores não se preocupam com a assiduidade e planificação das aulas. - Muitos alunos não mostram interesse em se empenhar nas actividades lectivas, por exemplo, trabalhos de casa e preparação das lições em grupos e individuais. - Os professores estão mentalizados que para melhorar a renda individual é preciso ir atingir o nível superior a todo custo, e assim submetem-se a três desafios: obrigações profissionais, atender academia e atender situação social. Nesta maratona de desafios, os professores concentram-se mais em assuntos sociais e aulas na faculdade em detrimento da actividade laboral que entretanto traz capacidade financeira para atender toda sua vida e de sua família. Isto reflecte-se nas constantes e sistemáticas ausências da maioria de professores no posto de trabalho cujo impacto se resume em muitas borlas que os alunos têm. Muitos professores não mostram vontade de trabalhar. - Os pais e encarregados de educação não fazem o acompanhamento dos seus educandos na escola. - Maioria parte dos alunos só vão a sala para fazer provas em matéria que não estudaram e não se preocuparam estudar. - Nos centros de formação, fica admitido ao curso o concorrente que paga dinheiro que varia entre 20 a 30 mil meticais. Aqui não se tem em conta a nota adquirida. Concorrente com nota baixa, fica admitido e o com nota alta é excluído. Outra realidade é que, fica admitido parente de funcionários da tal instituição de formação mesmo sem nota razoável. - O número de disciplinas leccionadas nas classes iniciais não se ajusta com as capacidades cognitivas das crianças, isto é, a criança não consegue memorizar muitas matérias diferentes dadas nas 6 disciplinas, uma vez que a criança precisa de abordagem sequenciada e adequada ao seu desenvolvimento cognitivo. - O modelo de formação de um ano não tem muita influência na fraca qualidade, visto que nos primeiros anos de soberania moçambicana até havia professores sem formação que leccionaram muito bem e deram muitas habilidades linguísticas aos alunos. - A carga de disciplinas no ensino primário baralha a atenção na leitura, na ortografia e na aritmética. - As actividades de ditado e cópia de textos bem como redacção sobre diversas matérias já foram desprezadas. - Da análise das disciplinas que se leccionam na 1ª, 2ª, 3ª,4ª, 5ª, 6ª e 7ª classes não estão ajustadas ao nível de atenção cognitiva dos alunos de cada faixa etária está prejudicado, porque visitando os estágios de desenvolvimento da criança sugeridos por Piaget, encontramos que: “A linguagem tem um papel fundamental para se comunicar”. De acordo com Piaget, o indivíduo (a criança) aprende construindo e reconstruindo o seu pensamento, através da assimilação e acomodação das suas estruturas. Esta construção do pensamento, Piaget chamou de estágios: Estagio sensório – motor, estagio simbólico e estagio conceptual. Segundo Piaget no Estágio sensório-motor, que vai do zero até os 2 anos de idade, é onde se inicia o desenvolvimento das coordenações motoras, a criança aprende a diferenciar os objectos do próprio corpo e os pensamentos das crianças está vinculado ao concreto. Já no estágio simbólico, que é dos 2 até por volta dos 7 anos, o pensamento da criança está centrado nela mesma, é um pensamento egocêntrico. E é nesta fase que se apresenta a linguagem, como socialização da criança, que se dá através da fala, dos desenhos e das dramatizações. No estágio conceptual, que é dos 7 até por volta dos 11, a criança continua bastante egocêntrica, ainda tem dificuldade de se colocar no lugar do outro. E a predominância do pensamento está vinculado mais acomodações do que as assimilações. No último estágio que é o das operações formais que vai por volta dos 11 anos até a vida adulta, é uma fase de transição, de criar ideias e hipóteses do pensamento. A linguagem tem um papel fundamental para se comunicar. Ora, as disciplinas do ensino primário estão dispostas da seguinte maneira: Sistema Nacional de Educação – vigorou de 2002 para trás
Ora, analisando a teoria de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo da criança encontramos o seguinte: - Dos 2 até por volta dos 7 anos, o pensamento da criança está centrado nela mesma, é um pensamento egocêntrico. E é nesta fase que se apresenta a linguagem, como socialização da criança, que se dá através da fala, dos desenhos e das dramatizações. - Dos 7 até por volta dos 11, a criança continua bastante egocêntrica, ainda tem dificuldade de se colocar no lugar do outro. E a predominância do pensamento está vinculado mais acomodações do que as assimilações. - Por volta dos 11 anos até a vida adulta, é uma fase de transição, de criar ideias e hipóteses do pensamento. A linguagem tem um papel fundamental para se comunicar. Destas três fases do desenvolvimento da criança em função das disciplinas que são leccionadas em cada nível sobretudo primário, surgem as seguintes questões de reflexão: - As 6 disciplinas que se leccionam na 1ª e 2ª classes ajustam-se às capacidades cognitivas das crianças? Há forte indicação de que o numero elevado de disciplinas nessas duas classes iniciais baralha o nível de assimilação das matérias, uma vez que nesta fase a criança constrói as suas habilidades linguísticas sendo necessário darem-se prioridade a oralidade e escrita para na classe seguinte ir-se a outras cadeira num ajuste aos níveis de desenvolvimento cognitivo da criança. - Na 2ª fase de 3ª classe as disciplinas aumentam para 7 disciplina numa situação em que na fase dos 7 a 11 anos a assimilação é menos do que acomodação. - Na 4ª e 5ª classe as disciplinas aumentam para 8 e 6ª e 7ª para 10 disciplinas. Ora, esta realidade mostra que o INDE precisa de ajustar o número das disciplinas nas classes iniciais com o desenvolvimento cognitivo como era antes conforme mostra o primeiro quadro. O factor corrupção influencia de forma muito sério na qualidade de ensino, como pode-se ver em algumas universidades, com enfoque para a Pedagógica, em que já se exige “refresco; e a UCM, que distribui certificados com competências muito baixas aos formandos. O ensino à distância devia ter entre 5 a 6 anos de frequência e não 4 anos como o modelo presencial. A abolição do exame extraordinário da 10ª é oportuna e pertinente porque muitos estudantes aprovaram sem conhecimentos científicos adequados por causa do fenómeno de “refresco”. Deve-se avançar também para a abolição do exame extraordinário da 12ª classe. Deve-se pensar também na abolição do ensino à distancia no ensino superior. Por Jorge Valente |
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