"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quarta-feira, 1 de junho de 2016

Recuperação, decalque, copy/paste da “mão externa”

 


Listen to this post. Powered by iSpeech.org
Canal dse Opinião por Noé Nahntumbo
... protegem alguns e arruínam Moçambique.
Compreende-se que a defesa seja uma questão de primeira linha numa equipa ou num grupo de pessoas com os mesmos interesses e que pertençam ao mesmo partido. Afinal é uma questão de sobrevivência primária. Também se compreende que se contratem lobistas e especialistas em branqueamento da verdade para o efeito. Só que, neste caso de Moçambique, dívida oculta e “empoderamento” económico ilícito, existem defensores não contratados que exibem dotes de oratória e capacidade de escrita notáveis que actuam como voluntários esperando receber compensação “a posteriori”. Em espécie, cargos, ou em dinheiro vivo, há os que esperam que os serviços prestados a proteger os que se beneficiaram em privado das dívidas lhes paguem.
Há os que já receberam depois de terem cantado “hossanas” aos líderes da II República. Foram colocados em cargos inócuos, mas que pagam bem.
O recurso a discursos do passado, em que se atribuía à “mão externa” tudo o que corria mal no país, é sinónimo preocupante e perigoso.
Apelos e defesas do endividamento ilícito sob alegações de que tal aconteceu para a defesa da soberania nacional e decorrente do carácter secreto quem tem assuntos de segurança não correspondem à verdade. Houve uma utilização táctica daqueles factores para, através de sistemas de “comissões financeiras”, sacarem-se lucros fabulosos para determinadas pessoas.
Será? “Não há fumo sem fogo”, e sabe-se que, em negócios que se relacionam com armas, as comissões são normais. Há casos documentados de
Angola, RSA, Portugal, Japão, EUA, Alemanha. Os submarinos controversos de Portugal têm gente na cadeia na Alemanha. Em Portugal, tais submarinos chamuscaram Paulo Portas, na altura ministro da Defesa. No Japão, já se viu um primeiro-ministro demitindo-se devido à recepção de luvas da Lockeed por causa da aquisição de aviões para a força aérea daquele país. Na África do Sul, temos Jacob Zuma envolto num escândalo que teima não morrer, relacionado com aquisições de sistemas de armas para as Forças Armadas sul-africanas.
Em Angola, viu-se o Governo de José Eduardo dos Santos concedendo passaporte diplomático a um cidadão francês envolvido na venda de armas para Angola que era procurado pela Justiça de França.
São factos documentados e conhecidos na arena internacional e que personificam casos de tráfico de armas em situações por vezes contrárias às leis internacionais no que se refere à venda de armas para países em guerra civil ou em que se verificam violações dos Direitos Humanos.
E quando a compra de armas se faz com recurso a mecanismos não transparentes, longe do escrutínio e chancela parlamentar, há razão mais do que suficiente para que se exijam responsabilidades num Estado de Direito. Que os defensores das dívidas ocultas jamais se esqueçam.
Ninguém nega que o Estado moçambicano precisa de ter um exército à altura de defender-se numa altura em que existem razões concretas para fazê-lo.
Uma coisa diferente é utilizar a defesa da soberania nacional e da integridade territorial de Moçambique como forma de enriquecimento de algumas coisas. Ou entrar na via de rearmamento como forma de cimentar o poder e recusar os direitos políticos e económicos dos moçambicanos.
A violência política pré-eleitoral e o uso excessivo da força para controlar e coarctar os direitos dos partidos políticos se reunirem e de fazerem as suas campanhas foi como que um aviso para o que se passa hoje.
Se houve gente que, no passado, culpou Joaquim Chissano por não ter avançado com a criação de Forças de Defesa e Segurança verdadeiramente republicanas, isso repercute-se nos dias de hoje.
Temos a Frelimo controlando as FADM/PRM, e temos a Renamo também com suas forças armadas. Não vale a pena insistir que as FADM/PRM são forças constitucionais e que as da Renamo são ilegais. Estamos em presença de aproveitamento político e mediático de algo que parecia resolvido com o AGP de Roma.
Falhou a “mão interna” ao julgar que, adiando a solução, se encontraria tempo e oportunidade de sufocar a Renamo com expedientes legalistas.
Falhou a “mão externa” porque julgou que o tempo se encarregaria de normalizar uma questão que sabiam de antemão perigosa e com potencial de fazer sangrar feridas mal curadas.
O “forcing” que se faz hoje para fazer valer uma solução militar através de sucessivos desdobramentos militares, fortalecimento das FDS através de financiamentos de vulto, denotam a existência de uma estratégia determinada. “Diálogo com fogo”, como terá dito Joaquim Chissano?
Ganhar uma posição de força que limite as exigências da Renamo na mesa das negociações? Produzir outra “Finta de Gaborone”, acomodando os generais da Renamo, como terá aconselhado um “ilustre” académico” e como se fez em Angola?
Qualquer que seja a alternativa que estiver sendo seguida, acumulam- se indícios de que da parte do núcleo da Frelimo que dirige o Governo de Moçambique há poderosas forças que não querem arriscar que se discutam certos “dossiers” como o da dívida que era oculta.
Não é só uma questão de reputação e defesa de um legado que está em jogo. O perigo que se sente é que, havendo consequência na PGR e no Parlamento, algumas pessoas veriam ou teriam os seus lugares de deputados interrompidos, e outras poderiam ver-se na cadeia, como se viu o ex-ministro do Interior Manhenje.
Aqueles compatriotas que se desdobram nas redes sociais e nos jornais e estações televisivas do país, defendendo coisas até indefensáveis, sabem muito bem que, se a seriedade e a isenção da Justiça prevalecerem, muitos “santos” tornar-se-iam “demónios”.
É óbvio que quem tem contas a ajustar com a Justiça esforça-se por apresentar serviço a quem o poderia chamar para a barra dos tribunais. É o que se vê fazerem certos comentaristas e analistas residentes nalguns órgãos de comunicação social.
Moçambique tem uma história de heroicidade e de tenacidade exemplares, mas importa reconhecer que teve e tem os seus momentos tenebrosos e negros. Vive-se, hoje, em certa medida, a reedição de alguns momentos do passado, em que irmãos matavam irmãos pelo poder, a coberto de supostas diferenças ideológicas.
A construção da democracia está sofrendo percalços porque, na cabeça de alguns compatriotas, só eles é que receberam por “mandato divino” o direito de governar, mesmo que seja contra o veredicto popular expresso pelos votos.
Para alguns, nem autarquias deveriam ter sido entregues aos vencedores das eleições autárquicas, porque isso mina os alicerces de sua existência como “senhores absolutos” de Moçambique.
Queremos a paz, mas isso tem de ser acompanhado pela justiça, equidade, liberdade e honra. Queremos respeito pela vida humana e o fim real do banditismo, qualquer que seja a sua origem.
Assumamos todos a história com todos os seus capítulos e não caiamos na tentação de supor que, eliminando este ou aquele, se resolvem todos os problemas de Moçambique.
Há que travar a “poesia política” de alguns e travar a mentira apimentada de meias-verdades. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 01.06.2016

Sem comentários:

Enviar um comentário