MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá Teresa
Como vai isso, minha amiga? Do meu lado tudo bem, felizmente.
Mas cada vez mais preocupado com aquilo a que, eufemisticamente, o Governo chama de situação político-militar, e a que eu chamo guerra.
Disse alguém, já há muito tempo, que, quando se começa uma guerra, a primeira vítima é a Verdade.
E esta nossa não é diferente.
Em paralelo com as notícias sobre um novo esforço para o diálogo, as duas partes começaram a acusar-se, mutuamente, de terem incentivado muito as acções militares no terreno. Nyusi falando de um aumento de ataques nas principais estradas e Dhlakama afirmando que as Forças de Defesa e Segurança estão a atacar o local onde reside para o abater fisicamente. Só que todas estas afirmações são feitas, dos dois lados, por porta-vozes que não merecem o mínimo de credibilidade.
A RENAMO vai mais longe e afirma que capturou quatro militares chineses nos combates pela ocupação da Gorongosa. E que há soldados zimbabweanos a lutar ao lado das FDS. Só que não apresenta provas do que afirma. E hoje fotografar e disseminar as fotografias dos tais chineses (ou coreanos, ou vietnamitas...) é a coisa mais fácil do mundo.
O mesmo se passa com a questão das valas comuns e dos corpos espalhados pelo mato. As gentes da cidade esgrimem argumentos, para um lado e para o outro, mas, enquanto o Governo e a Renamo não permitirem a uma comissão independente percorrer em liberdade as zonas em que se diz que as valas existem, nada se ficará a conhecer ao certo.
Sei que é difícil fazer informação objectiva no meio de uma guerra civil, mas isso não quer dizer que o pacato cidadão deve engolir, de qualquer maneira, todas as aldrabices produzidas pelos órgãos de propaganda de um lado e do outro.
Mantém-te, portanto, alerta, cruza informações de órgãos de diferentes tendências e usa a tua cabecinha para pesar o que parece verdadeiro e o que parece falso.
Não vais ficar totalmente esclarecida sobre o que se está a passar realmente mas, pelo menos, estarás melhor que todos esses que engolem a primeira coisa que lhes colocam à frente da boca.
Um beijo para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 08.06.2016
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