29/06/2016
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Lamentável como se dá tanto espaço e atenção a algumas pessoas.
Num processo recorrente, Moçambique assiste à tendência crónica de oferecer primazia e espaço a todo o tipo de “especialistas” no verbo. Mesmo que de sapiência pouco tenham, ou tenham demonstrado. Máquinas de copiar e de repetir o copiado são como que as preferidas para opinar.
Agora que o comboio descarrilou, aparecem opiniões dos mais diversos quadrantes propondo curas milagrosas para doenças conhecidas e desconhecidas. Dizem que podem tratar até de cancro no pâncreas, e existe muito boa gente que acredita.
A cultura das facilidades tornou-se num verdadeiro cancro.
Não há qualidade nem discursiva.
Alguns dos que colocados nos seus pedestais proferem discursos e oferecem opiniões alegadamente sustentadas no saber científico e na experiência são os que há alguns anos atrás nos vendiam banha-da-cobra.
Estranho que
quem dizia que havia “cargos que só podiam ser preenchidos por pessoas de
confiança” venha falar de crise e das suas consequências como se fosse pessoa
estranha à sua génese. Estranho que quem facilitou a entrada de capitais
estrangeiros na banca nacional, e depois foi generosamente recompensada, apareça
como palestrante em tudo o que é canto como possuidor único da verdade
económico-financeira.
Agora que está na moda falar das dívidas antes ocultas, quase todo o mundo está esquecido das dívidas de “ilustres” moçambicanos ao Tesouro.
Quantos atropelos aos preceitos de probidade pública se verificaram e quantas empresas privadas de familiares e correligionários partidários não receberam avultadas somas de dinheiro que jamais foram pagas?
Há graves “deficits” de memória.
Há uma perigosa tendência de reduzir o número de actores na arena da comunicação social, e isso é consequência do modelo político reinante. Só um grupo restrito de pessoas é que está em todas, e só essas pessoas estão autorizadas a dar opinião sobre isto ou aquilo. Mesmo quando as explicações dadas estão desfasadas da realidade, são “religiosamente” aceites como se os seus proponentes fossem infalíveis.
Tanto na arena política como na esfera económico-financeira se pode verificar essa situação.
E quando as propostas oferecidas não produzem os resultados desejados ou previamente proclamados, joga-se a táctica do silêncio e espera-se que as pessoas se esqueçam de que houve uma altura em que gestores públicos nomeados com base na “confiança política” e devido ao grau de parentesco “cambazaram” o erário público e acabaram até condenados em tribunal.
Não se pode ilibar os verdadeiros culpados pelos buracos de hoje, e com algum rigor e responsabilidade um processo de apuramento da verdade pode ter sucesso.
Agora o que não se pode dizer é que este buraco nasceu durante os dez anos de governação de AEG.
O abocanhamento das possibilidades na esfera económica e financeira começou nos tempos da II República com JAC como timoneiro.
Foi durante a sua presidência que se deram os primeiros passos do que hoje se chama “Empoderamento” Económico Negro. Lícito ou ilícito, foi sob a sua direcção que se começou a retalhar e dividir “oportunidades”.
Alguns dos expoentes da arena empresarial provada são fruto das suas conexões com os detentores do poder e não verdadeiramente empresários privados ou capitalistas no sentido clássico dos termos.
São capitalistas ou aparentam sê-lo porque estão bem relacionados com quem decide sobre os negócios do Estado. São produtos de assinaturas e direccionamento específico.
São frutos da promiscuidade entre o público e o privado e da sobrefaturação lesiva para o Estado.
E, ao dizer-se isto, não significa que não existam empresários privados dignos desse nome. Mas, como se devem lembrar, uma CTA que queria ilegalmente oferecer um Mercedes Benz de luxo ao PR da altura não tem aquela credibilidade que se espera de uma organização privada de defesa dos interesses dos seus associados. Como outras associações congéneres e de outras áreas de interesse, muito do que fazem é mandatado e governado de forma rigorosamente controlada pelos detentores do poder político. São, para dizer a verdade, mais uma célula do partido no poder. Actuam como centros de distribuição de possibilidades económico-financeiras angariadas pelo Estado em nome do desenvolvimento de um sector privado nacional forte e competitivo.
E a praga opinativa residente em alguns canais públicos radiofónicos e televisivos, secundados por alguns privados comandados pela ganância do lucro e da visibilidade mediática, não se cansa de espalhar “verdades” que são um pacote de receitas para a manutenção do “status”.
Há neste país como que uma instrução prévia para que aqueles que possuem estaleca e fibra, conhecimentos sólidos em várias áreas do saber, não apareçam ou sejam rigorosamente controlados, minimizados e desprezados.
Alguns dos problemas de hoje, tanto na política como na economia, poderiam estar a ser tratados de forma mais inteligente e produtiva se a “confiança política” fosse relegada para segundo plano.
A crise financeira de hoje é sobretudo uma crise política porque o modelo vigente jamais teria tido pernas para andar numa situação de separação efectiva dos poderes democráticos. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 29.06.2016
Agora que está na moda falar das dívidas antes ocultas, quase todo o mundo está esquecido das dívidas de “ilustres” moçambicanos ao Tesouro.
Quantos atropelos aos preceitos de probidade pública se verificaram e quantas empresas privadas de familiares e correligionários partidários não receberam avultadas somas de dinheiro que jamais foram pagas?
Há graves “deficits” de memória.
Há uma perigosa tendência de reduzir o número de actores na arena da comunicação social, e isso é consequência do modelo político reinante. Só um grupo restrito de pessoas é que está em todas, e só essas pessoas estão autorizadas a dar opinião sobre isto ou aquilo. Mesmo quando as explicações dadas estão desfasadas da realidade, são “religiosamente” aceites como se os seus proponentes fossem infalíveis.
Tanto na arena política como na esfera económico-financeira se pode verificar essa situação.
E quando as propostas oferecidas não produzem os resultados desejados ou previamente proclamados, joga-se a táctica do silêncio e espera-se que as pessoas se esqueçam de que houve uma altura em que gestores públicos nomeados com base na “confiança política” e devido ao grau de parentesco “cambazaram” o erário público e acabaram até condenados em tribunal.
Não se pode ilibar os verdadeiros culpados pelos buracos de hoje, e com algum rigor e responsabilidade um processo de apuramento da verdade pode ter sucesso.
Agora o que não se pode dizer é que este buraco nasceu durante os dez anos de governação de AEG.
O abocanhamento das possibilidades na esfera económica e financeira começou nos tempos da II República com JAC como timoneiro.
Foi durante a sua presidência que se deram os primeiros passos do que hoje se chama “Empoderamento” Económico Negro. Lícito ou ilícito, foi sob a sua direcção que se começou a retalhar e dividir “oportunidades”.
Alguns dos expoentes da arena empresarial provada são fruto das suas conexões com os detentores do poder e não verdadeiramente empresários privados ou capitalistas no sentido clássico dos termos.
São capitalistas ou aparentam sê-lo porque estão bem relacionados com quem decide sobre os negócios do Estado. São produtos de assinaturas e direccionamento específico.
São frutos da promiscuidade entre o público e o privado e da sobrefaturação lesiva para o Estado.
E, ao dizer-se isto, não significa que não existam empresários privados dignos desse nome. Mas, como se devem lembrar, uma CTA que queria ilegalmente oferecer um Mercedes Benz de luxo ao PR da altura não tem aquela credibilidade que se espera de uma organização privada de defesa dos interesses dos seus associados. Como outras associações congéneres e de outras áreas de interesse, muito do que fazem é mandatado e governado de forma rigorosamente controlada pelos detentores do poder político. São, para dizer a verdade, mais uma célula do partido no poder. Actuam como centros de distribuição de possibilidades económico-financeiras angariadas pelo Estado em nome do desenvolvimento de um sector privado nacional forte e competitivo.
E a praga opinativa residente em alguns canais públicos radiofónicos e televisivos, secundados por alguns privados comandados pela ganância do lucro e da visibilidade mediática, não se cansa de espalhar “verdades” que são um pacote de receitas para a manutenção do “status”.
Há neste país como que uma instrução prévia para que aqueles que possuem estaleca e fibra, conhecimentos sólidos em várias áreas do saber, não apareçam ou sejam rigorosamente controlados, minimizados e desprezados.
Alguns dos problemas de hoje, tanto na política como na economia, poderiam estar a ser tratados de forma mais inteligente e produtiva se a “confiança política” fosse relegada para segundo plano.
A crise financeira de hoje é sobretudo uma crise política porque o modelo vigente jamais teria tido pernas para andar numa situação de separação efectiva dos poderes democráticos. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 29.06.2016