"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 14 de abril de 2016

O Estado foi sequestrado pelo crime organizado?

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Os factos da impunidade em exponencial do cri­me organizado são indisfarçáveis diante de uma quase cristalina capitulação do Estado.
É como se um ‘Estado Paralelo’ estivesse a emi­tir claros recados sobre quem de facto manda nesta “pátria de heróis”. E o Estado de Direito e as suas instituições estivessem enclausurados num cativeiro à espera que alguém pague o resgate, pelo seu sequestro.
É difícil, mas temos de assumir: o Estado foi sequestrado. Os sequestradores, ou raptores, encon­tram-se enraizados nas entranhas desse aparato, com direito a armas e sentenças ditadas, que são executadas quando bem lhes apetecer.
Num espaço de cerca de 72 horas, as cidades de Beira e Maputo foram sacudidas pelo crime violen­to. Duas figuras distintas, uma da arena política e outra da Magistratura do Ministério Público, foram regadas de balas. José Manuel, membro do Con­selho Nacional de Defesa e Segurança, e Marce­lino Vilankulos, procurador da República, foram ASSASSINADOS.
Foi assim com o juiz de instrução criminal Dinis Silica, que próximo mês faz dois anos sem que se saiba quem foram os seus assassinos.
Foi assim com o constitucionalista franco-moçam­bicano Gilles Cistac, assassinado há pouco mais de um ano em plena capital. Até hoje não se lhe conhe­cem os assassinos.
Foi assim com o ‘espião’ dos Serviços de Informa­ção e Segurança do Estado (SISE) Ianlamo Mussa. Também não se lhe conhecem os assassinos. Foi assim com muitas outras figuras ‘incómodas’.
Num dia do século que passou e, em plena As­sembleia da República, o então deputado Teodato Hunguana disse para quem o quis ouvir:“A única forma de evitar que o Estado caia definitiva­mente nas malhas do crime é desencadear uma guerra sem quartel contra os mentores da alta criminalidade e, também, dos seus executantes ou instrumentos. Um combate apenas dirigido contra estes, deixando aqueles incólumes e in­tocáveis, significa manter intactas as fontes da sua reprodução, fontes que se tornam cada vez mais poderosas e capazes de se apropriarem do próprio Estado”.
O crime organizado causa elevados danos para uma economia frágil de um país periférico, por desencorajar o investimento e o desenvolvimento, sobretudo da indústria turística, de que Moçambique deveria gozar de vantagens comparativas.
Ninguém se irá surpreender se esses impunes criminosos começarem a operar no palácio da Ponta Vermelha ou na Presidência da República.
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: O Estado foi sequestrado pelo crime organi­zado?
Luís Nhachote
CORREIO DA MANHÃ – 14.04.2016

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