06/08/2019
Dentro de algumas horas, teremos a oportunidade de presenciar o terceiro, igualzinho aos primeiros dois entendimentos, entretanto abortados.
Todos caíram em desuso pela mesma causa: desentendimentos depois de pleitos eleitorais.
Um bocadinho diferente das anteriores duas situações, desta vez, a Frelimo/governo trabalhou arduamente de modo a que o entendimento aconteça escassos meses das eleições gerais e provinciais, em outubro.
Acordos esses com passagem pela Assembleia da República, tal e qual nos anteriores, de modo a terem o cunho legal.
Do ponto de vista estratégico, a Frelimo/governo está convencida de que, com o instrumento jurídico a ser rubricado mais logo, que se junta ao da passada quinta-feira, este acordo, dizíamos, desde logo em teoria inviabiliza a Renamo de reeditar as vezes que se rebeldou nas matas, de onde lançava farpas ao partidão, o todo poderoso.
A Frelimo/governo está certa de que, desta vez, todas as brechas por onde eventualmente possam emergir focos que alimentem uma nova troca de galhardetes, estão sob controlo.
A Renamo, por seu turno, parece animada com a aceitação de integrar as fileiras da secreta, por entender que as estratégias de caça aos opositores políticos saiem do SISE.
Até a Assembleia da República foi chamada a aprovar, sob proposta da presidência da República, a Lei da Amnistia, através da qual, permitiu já que Ossufo Momade descesse até Maputo, diga-se.
A pergunta que urge lançar: com todo este role de promessas, o pós-eleições está garantido? Não voltaremos a assistir bolsas de ameaça?
Nesta casa, o cepticismo teima em bater a porta.
Com efeito, olhando para trás, a experiência manda dizer que o pós-eleições tem sido o alicerce dos conflitos armados em Moçambique.
Esta correria, atrás de um entendimento entre as partes, empurradas pela necessidade premente de um processo eleitoral com a Renamo desarmada, pode ter consequências desastrosas.
Se calhar o Papa Francisco, de malas feitas para visitar Moçambique em setembro, dê a sua mãozinha (bênção) de modo que as picardias pós-eleições não tenham lugar.
Se nos primórdios de 92 a guerrilha foi acusada de não ter entregue a totalidade do material bélico que utilizou durante a guerra civil, desconfiada das intenções da Frelimo/governo, será que desta feita isso não irá acontecer?
Em outubro, a Renamo não terá motivos de zanga, suficientes que a empurre para as matas?
Temos que acreditar, lá isso é verdade, mas a porra da memória trás de volta aqueles momentos sangrentos pós-eleições, com ou sem razão, por parte da Renamo.
EXPRESSO – 06.08.2019
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