"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quarta-feira, 2 de março de 2016

Carta aberta ao Presidente da República, Filipe Nyusi (5)

 


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Será que o povo é mesmo seu patrão?
Excelência,
Há um velho ditado que diz que durante a caça ao voto tudo serve. Ou seja, faulhamo-nos, mentimos e, até se possível, vendemos a alma ao diabo. É uma altura em que tudo serve; desde vestimo-nos como os muçulmanos, protestantes e até aceitamos compartilhar um prato de xima com “Zé povinho”, numa localidade recôndita. O senhor Presidente sabe que fez isto durante a sua caminha, rumo à Ponta Vermelha.
No pleito o senhor Presidente saiu vencedor, conforme justificaram os órgãos eleitorais competentes. É verdade que foram detectados problemas de transparência no processo eleitoral, mas, na globalidade, não afectaram a sua vitória. E em tempo útil o felicitei pela vitória, como muitos outros milhares o saudaram.
No dia da sua consagração, em tomada solene de posse na Praça da Independência, o senhor disse e isso ficou indelevelmente registado que “o povo é meu único, legítimo e exclusivo patrão”. Nesse dia também disse que a PAZ estava no topo da sua agenda de prioridades, incluindo a inclusão e a tolerância.

A minha percepção pessoal e, creio, na de mais de 20 milhões de moçambicanos, foi de que o senhor Presidente iria sentar à mesma mesa com Afonso Dhlakama para dialogar. E fê-lo para alegria de muitos compatriotas nossos que há não viam um alto magistrado da nação a dialogar com a oposição para o bem do país.
fiquei, entretanto, decepcionado porque desde aí não se observou mais nada de concreto. Ou seja, o povo, aquele que o senhor Presidente diz que é seu patrão anda desconfiado. Não sou eu quem o diz. Vejo nas redes sociais e interajo com as pessoas. As opiniões são unânimes ao afirmar que Nyusi poderá ser o pior Presidente de Moçambique. É só olhar para o quadro sócio-político nacional: inflação desenfreada, guerra, regresso das colunas militares, seca, desemprego…
Senhor Presidente,
Não se pode subestimar o líder da Renamo. Este senhor em 1992 surpreendeu o mundo quando assinou o Acordo Geral de Paz e mandou os seus homens cessarem com o som das armas. Quando emanou essa ordem, não haviam ainda as Tecnologias de Informação. Isto é um sinal inequívoco de que Dhlakama goza de respeitabilidade no seu partido e que, independentemente da vontade de quem quer que seja, ele é o único interlocutor para a paz em Moçambique.
Eu, francamente, estimo muito ao meu Presidente e não o queria ver associado aos males que fustigam Moçambique. Eu encontro-me na diáspora, mas de coração e alma viradas para a nossa pátria de heróis. Eu, na minha humildade, lhe peço encarecidamente senhor Presidente: tenta resolver esta situação com Afonso Dhlakama.
Presidente – também me considere seu patrão - fiquei atónito ao acompanhar o que o senhor disse, em Adis-Abeba capital da Etiópia, no decurso da última cimeira da União Africana. Foi o senhor que disse que não estava a conseguir chegar à fala com Afonso Dhlkama. Para o meu espanto e de todo povo moçambicano, creio, dias depois o ministro britânico para o Desenvolvimento Internacional, Nick Hurd, confirmar ter tido um contacto telefónico com o líder da Renamo. Quer dizer, quem tem dificuldades de encontrar o senhor Afonso Dhlakama é só o meu Presidente?
Para deixar claro que, efectivamente, conseguiu falar com Afonso Dhlakama, o senhor Nick Hurd até prestou algumas declarações à imprensa, no Aeroporto de Mavalane. Foi no final da sua visita de dois dias a Moçambique. Lembra-se que até se encontrou consigo, Presidente?
Senhor Presidente, nas últimas semanas, o país tem conhecido uma escalada de violência sem precedentes com relatos de confrontos militares e denúncias de raptos e homicídios de membros das duas partes em conflito. Estamos mal na fotografia mundial depois de tantos avanços com a paz.
Tenho na minha órbita uma dúzia de colegas empresários estrangeiros que querem investir biliões de dólares americanos em várias áreas económicas no nosso belo país, mas sentem-se retraídos. Será que não há como ultrapassar isto, meu Presidente?
E eles me perguntam sempre: Nini vamos investir esse dinheiro para sermos escoltados por colunas militares?
Senhor Presidente, mais do que nunca o povo, o tal seu patrão, exige que o senhor procure todos os caminhos possíveis para dialogar com o líder da Renamo antes que o país entre em colapso total. É que neste andar, não estamos longe de alcançar países como Angola e Zimbabwe, onde a inflação está estampada nas vitrinas das lojas, onde só abundam moscas.
Eu ainda não me cansei e digo-o até aqui: "EU CONFIO EM TI NYUSI". Portanto, faça de tudo para devolver a paz a este povo trabalhador e nunca se esqueça, Presidente, que Moçambique não é propriedade de ninguém. É de todos os moçambicanos, sem distinção de cor, religião, raça!
Presidente, nenhuma paz é alcançada com a força das armas. As armas servem para destruir e o diálogo é o melhor caminho para se resolver qualquer diferendo. É que se a luta só fosse vossa, possivelmente não me iria meter. Mas graça o povo moçambicano, esse mesmo povo desamparado que colocou o senhor para ser seu guia. Um abraço incondicional do seu concidadão, nascido na mesma província que o senhor, Cabo Delgado, repositório de muitos heróis nacionais que, com tenacidade, lutaram para a independência de Moçambique.
Nini Satar
In https://www.facebook.com/NiniSatarfans?pnref=story

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