05/07/2019
Em entrevista à DW África, irmão de Afonso Dhlakama afirma que se deve separar as suas ações do nome do líder histórico da RENAMO e explica o que o levou a se retirar da lista de candidatos do partido.
Elias Dhlakama disse, em entrevista à DW África, que não está a ser instrumentalizado pelo partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), e nem pelo Governo. Avança ainda que foi por decisão do seu partido, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que chegou às Forças de Defesa e Segurança e, depois de completar os 38 anos de serviço ao Estado, decidiu por vontade própria ir para a reserva.
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"Eu fui às Forças Armadas a mando da RENAMO. A RENAMO debateu 16 anos de guerra para estabelecer a democracia em Moçambique. O que significa a democracia? Significa o pensamento diferente, o direito de eu pensar da minha maneira e o senhor pensar da sua maneira, cada um pensa da sua maneira," avalia.
"Enquanto nós não aceitarmos a maneira diferente de pensar as coisas, não estaríamos a participar na democracia. Cada um está livre de pensar o que pensar, Tenho as minhas atividades que não têm nada a ver com espionagem dentro do partido," acrescenta.
Instabilidade interna
Recorde-se que as rivalidades começaram dentro do partido, em fevereiro, na sequencia do VI Congresso da RENAMO, onde Ossufo Momade foi eleito presidente do maior partido da oposição moçambicana.
Na Beira - a anteceder os trabalhos do congresso e durante as conferências provinciais que culminaram com a indicação de delegados provinciais, distritais e das cidades - viveu-se momentos de crispação entre membros e simpatizantes do mesmo partido com atos que até provocaram uma intervenção policial, precisamente para acalmar os ânimos.
Alguns delegados de Sofala, Manica e Tete foram afastados dos cargos. Na altura, alegaram tratar-se de uma perseguição protagonizada pelo líder do partido, Ossufo Momade, pelo facto de estes não terem apoiado a sua candidatura - mas sim a de Elias Dhlakama, que ocupou o segundo lugar na corrida à presidência da RENAMO.
Elias Dhlakama, que atualmente ocupa o cargo de membro do Conselho Nacional da RENAMO, desdramatiza a situação e deixa claro que ninguém deve ser crucificado por o ter apoiado quando foi candidato à presidência do partido.
"O Elias Dhlakama não pode ser visto apenas como o irmão do Afonso Machado Marceta Dhlakama. Ele era o meu colega de arma. Eu, aos meus 16 anos, incorporei-me na RENAMO, combati lado a lado com o presidente Afonso Dhlakama. Só que as pessoas confundem que o Elias Dhlakama, a intervenção que ele faz no partido, o faz em nome do seu irmão. Não, não, não. As pessoas devem separar as duas coisas diferentes," afirma.
Saída da lista da RENAMO
Na passada sexta-feira (28.06), no decorrer da conferência provincial para a eleição de cabeças-de-lista do partido com vista à eleição de governadores provinciais nas eleições de 15 de Outubro, Elias Dhlakama retirou o seu nome da lista de candidaturas, proposta que tinha sido apresentada pela RENAMO, mas sem o seu conhecimento.
A DW África perguntou Elias Dhlakama o porquê da sua recusa:
"Nunca quis, nunca me passou pela cabeça. Apenas houve proposta de quem é de direito, só que a proposta chegou tarde para mim. Já era muito tarde, não consegui ter comunicação com os votantes. Não tendo este tempo de me comunicar com este grupo, não achei conveniente me candidatar. Não tirei a minha candidatura, tirei o meu nome para que não conste na lista de candidaturas," explica.
Liderança da RENAMO contestada
Entretanto, há algumas semanas, o descontentamento no seio da RENAMO alastrou-se à ala militar do partido. Alguns elementos contestaram, na serra da Gorongosa, a liderança de Ossufo Momade, ameaçando-o de morte caso não abandone o cargo até 15 do corrente mês.
No último sábado (29.06), um grupo de aproximadamente uma dezena de homens armados da RENAMO foi visto em Funhalouro, província de Inhambane no sul de Moçambique, também a contestar a atual liderança do partido.
A DW África tentou várias vezes contatar o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, à busca de um posicionamento, mas sem sucesso.
Manteigas diz não estar disposto a comentar o caso porque já o fez em outras ocasiões.
"Sobre esse assunto, não temos comentários. Sobre esses casos, já nos pronunciamos. Eu pessoalmente já fiz conferência de imprensa", argumenta.
No entanto, sabe-se que Elias Dhlakama grangea alguma simpatia no seio dos elementos armados da RENAMO e, talvez por isso, nos últimos meses tem vindo a efetuar digressões pelas províncias para manter encontros com a ala militar e política da RENAMO.
DW – 05.07.2019
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