Moçambique celebra hoje, 4 de outubro o dia da paz.... Porem sem paz.
A 4 de outubro de 1992 foi assinado em Roma o Acordo Geral de Paz, entre o Governo (Frelimo) e a Renamo(maior partido de oposição em Moçambique). Este acordo pôs fim 16 anos duma guerra sangrenta, uma guerra que ceifou milhares de vidas e violou os mais básicos direitos dos seres humanos incluindo os direitos das crianças.
Tinha eu os meus 8 anos incompletos quando o acordo foi assinado.
Engana se quem pensa que era menor demais para me lembrar dos factos que eu pessoalmente vivi e senti na pele.
Vivia nessa altura numa pacata aldeia (kankuni, minha terra natal), que era alvo de 3 a 4 ataques em média por semana.
Quantas vezes pulámos da janela duma sala de aula... Depois de sermos atacados em plena luz do dia e cada um de nós, (menores que éramos) fomos abandonados à nossa sorte e muitas vezes reencontrávamos com os nossos pais só no dia seguinte, tendo passado horas na mata, sem água nem comida?
Quantas vezes fomos atacados de madrugada enquanto chovia e fomos obrigados a dormir na mata onde não tinha o menor abrigo para nos proteger das chuvas torrenciais, e muitas vezes no dia seguinte acordávamos de febres?
Quantas vezes tivemos que abandonar a nossa aldeia, e refugiar-nos na sede do distrito(Changara) ou na cidade de Tete?
E assim abandonávamos também as aulas.
Quantas vezes, fomos atacados enquanto produzíamos nas nossas hortas do outro lado do rio Luenha e fomos obrigados a atravessar o rio a nadar?
Quantas vezes, pessoas da minha aldeia foram raptadas e obrigadas a caminhar cerca de 300, 400 ou mesmo 700 km a pé, para serem integradas à força, nas povoações das forças "inimigas"?
E muitas vezes os que não conseguiam caminhar, ou os que tentavam resistir eram imediatamente mortos.
Quantas vezes manadas inteiras do nosso gado foram-nos pilhadas e nunca nos devolveram?
Quantas vezes eu via cadáveres de pessoas com as quais convivi que foram mortas de forma mais cruel?
A tiros na cabeça, catanadas, enforcadas...., etc
Não preciso de ler nenhum livro sobre os danos que a guerra dos 16 anos criou, ainda que este seja escrito pelo mais brilhante historiador do mundo (porque eu fui a vítima, portanto, conheço muito bem as nefastas consequências que essa guerra criou). Sinceramente eu não gostaria de voltar a viver (nem nos sonhos) aqueles momentos diabólicos que só acontecem nos filmes (mas que eu vivi na realidade), enquanto criança..
SE OS DEFENSORES DA GUERRA EM MOÇAMBIQUE OU OS FILHOS DELES, TIVESSEM PASSADO PELO QUE EU PASSEI, JURO QUE IRIAM ASSINAR AMANHÃ MESMO, MAIS UM ACORDO DE PAZ ( SEM CONDICIONALISMO), QUE IRIA PÔR FIM À ATUAL GUERRA INJUSTA QUE MOÇAMBIQUE ESTÁ A VIVER.
INFELIZMENTE NÃO TENHO MOTIVOS PARA CELEBRAR O DIA DA PAZ, UMA VEZ QUE ESTAMOS MAIS UMA VEZ EM GUERRA.
DIA DA PAZ SEM PAZ A PARTIR DA DIÁSPORA, AÍ VAI UM GRANDE ABRAÇO DE TRISTEZA DE UM MENINO QUE SOFREU DEMAIS COM A GUERRA DOS 16 ANOS
Por: Tomás Pita Cebola
Quantas vezes tivemos que abandonar a nossa aldeia, e refugiar-nos na sede do distrito(Changara) ou na cidade de Tete?
E assim abandonávamos também as aulas.
Quantas vezes, fomos atacados enquanto produzíamos nas nossas hortas do outro lado do rio Luenha e fomos obrigados a atravessar o rio a nadar?
Quantas vezes, pessoas da minha aldeia foram raptadas e obrigadas a caminhar cerca de 300, 400 ou mesmo 700 km a pé, para serem integradas à força, nas povoações das forças "inimigas"?
E muitas vezes os que não conseguiam caminhar, ou os que tentavam resistir eram imediatamente mortos.
Quantas vezes manadas inteiras do nosso gado foram-nos pilhadas e nunca nos devolveram?
Quantas vezes eu via cadáveres de pessoas com as quais convivi que foram mortas de forma mais cruel?
A tiros na cabeça, catanadas, enforcadas...., etc
Não preciso de ler nenhum livro sobre os danos que a guerra dos 16 anos criou, ainda que este seja escrito pelo mais brilhante historiador do mundo (porque eu fui a vítima, portanto, conheço muito bem as nefastas consequências que essa guerra criou). Sinceramente eu não gostaria de voltar a viver (nem nos sonhos) aqueles momentos diabólicos que só acontecem nos filmes (mas que eu vivi na realidade), enquanto criança..
SE OS DEFENSORES DA GUERRA EM MOÇAMBIQUE OU OS FILHOS DELES, TIVESSEM PASSADO PELO QUE EU PASSEI, JURO QUE IRIAM ASSINAR AMANHÃ MESMO, MAIS UM ACORDO DE PAZ ( SEM CONDICIONALISMO), QUE IRIA PÔR FIM À ATUAL GUERRA INJUSTA QUE MOÇAMBIQUE ESTÁ A VIVER.
INFELIZMENTE NÃO TENHO MOTIVOS PARA CELEBRAR O DIA DA PAZ, UMA VEZ QUE ESTAMOS MAIS UMA VEZ EM GUERRA.
DIA DA PAZ SEM PAZ A PARTIR DA DIÁSPORA, AÍ VAI UM GRANDE ABRAÇO DE TRISTEZA DE UM MENINO QUE SOFREU DEMAIS COM A GUERRA DOS 16 ANOS
Por: Tomás Pita Cebola
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