Óscar Monteiro diz haver dirigentes que tendem a escolher pessoas menos capacitadas, para não ameaçarem e ofuscar o seu poder. O antigo combatente falava, ontem, durante uma palestra sobre a vida e obra de Samora Machel.
Para o decano da Frelimo, enquanto Samora procurava estar rodeado dos melhores, alguns dirigentes actuais procuram os mais fracos. “Samoa Machel sabia rodear-se dos melhores. Eu questiono-vos: será que nós nos deixamos rodear pelos melhores ou chamamos aqueles que não nos fazem sombra?”, questionou, para depois avançar que “há pessoas que acham que não devem ter por perto quadros com mais capacidade do que eles, porque isso vai expor as suas fraquezas”.
Monteiro considera ser uma nova doença o facto de alguns dirigentes se aproveitarem da sua posição no Estado para alimentar negócios particulares. “Os bens do Estado devem ser defendidos, porque são de todos nós. Há pessoas que têm jeito para ser ricas, tudo bem, mas que façam os negócios lá fora. Entretanto, usar a sua posição no Estado para fazer negócios ao seu favor é condenável. Está a ser uma doença que não permite que o Estado se endireite e já não é uma doença escondida, está na cara de todos nós, porque o indivíduo que faz esse tipo de coisas tem necessidade de se exibir”, referiu.
Conflitos de interesse no estado
Monteiro criticou, ainda, a ganância e apetência pelo bem comum, tendo exemplificado que Samora se distanciava dos dinheiros do Estado, porque estava comprometido com o bem-estar do povo. “No tempo de Samora, ninguém tomava os bens do Estado. Há quem uma vez, no processo de mudança de residência, levou alguns bens. Samora fez uma reunião e disse que os bens do Estado não devem ser privatizados. Os bens do Estado devem ser protegidos, porque são de todos. Nós tínhamos um pequeno fundo que usávamos, caso tivéssemos uma necessidade. O livro de cheques ficava comigo, eu preenchia e entregava ao presidente Samora para assinar, em nenhum momento ele quis estar envolvido nas questões ligadas ao dinheiro. Nas suas intervenções dizia, se me virem rico, perguntem-me de onde vem o dinheiro. E agora, como acontece?”, questionou à plateia.
Óscar Monteiro, que fez parte do governo de transição, destacou ainda as qualidades humanas de Samora Machel e a sua capacidade de estabelecer consensos no seio dos “camaradas”.
“Há um camarada que disse que integração de mulheres acabaria com a Frelimo”
Ainda sobre as capacidades de Samora em lidar com as adversidades, Óscar Monteiro lembrou que encontrou um documento que lhe fez recuar ao passado. Disse que foi difícil para alguns membros da Frelimo integrar mulheres na luta. “Encontrei uma acta em que se questionava aos camaradas sobre o seu posicionamento em relação à integração da mulher nos combates e no documento encontrei um trecho em que um amigo defendia que ‘camaradas, façam como quiserem, mas eu dou uma certeza. No dia em que as mulheres entrarem a combater, acabou a Frelimo’, isso para mostrar que havia muitos tabus sobre essa matéria”, terminou.
O PAÍS – 20.10.2016
Monteiro criticou, ainda, a ganância e apetência pelo bem comum, tendo exemplificado que Samora se distanciava dos dinheiros do Estado, porque estava comprometido com o bem-estar do povo. “No tempo de Samora, ninguém tomava os bens do Estado. Há quem uma vez, no processo de mudança de residência, levou alguns bens. Samora fez uma reunião e disse que os bens do Estado não devem ser privatizados. Os bens do Estado devem ser protegidos, porque são de todos. Nós tínhamos um pequeno fundo que usávamos, caso tivéssemos uma necessidade. O livro de cheques ficava comigo, eu preenchia e entregava ao presidente Samora para assinar, em nenhum momento ele quis estar envolvido nas questões ligadas ao dinheiro. Nas suas intervenções dizia, se me virem rico, perguntem-me de onde vem o dinheiro. E agora, como acontece?”, questionou à plateia.
Óscar Monteiro, que fez parte do governo de transição, destacou ainda as qualidades humanas de Samora Machel e a sua capacidade de estabelecer consensos no seio dos “camaradas”.
“Há um camarada que disse que integração de mulheres acabaria com a Frelimo”
Ainda sobre as capacidades de Samora em lidar com as adversidades, Óscar Monteiro lembrou que encontrou um documento que lhe fez recuar ao passado. Disse que foi difícil para alguns membros da Frelimo integrar mulheres na luta. “Encontrei uma acta em que se questionava aos camaradas sobre o seu posicionamento em relação à integração da mulher nos combates e no documento encontrei um trecho em que um amigo defendia que ‘camaradas, façam como quiserem, mas eu dou uma certeza. No dia em que as mulheres entrarem a combater, acabou a Frelimo’, isso para mostrar que havia muitos tabus sobre essa matéria”, terminou.
O PAÍS – 20.10.2016
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