Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Tudo a propósito dos 30 anos de Samora Machel
Defender legados e feitos é legítimo é esperado. Se não nos defendemos, ninguém o fará por nós.
Compreende-se que os promotores da iniciativa de mediatizar a passagem dos trinta anos da morte de Samora Machel primeiro presidente de Moçambique.
O que está acontecendo é um movimento em certa medida inaudito, só comparado com o que se assistiu aquando da inauguração das estátuas de SM em todo o país.
Culto de personalidade, dirão muitos ou poucos. Uma cópia do que acontece na Coreia do Norte?
Uma necessidade que os mentores consideram necessário, no sentido de autodefesa, numa altura em que líderes da II República a aparecem preocupados com o que está acontecendo com a forma como é interpretada a sua passagem pela liderança do país?
O que pode estar a ser revelado é um movimento concertado de defesa de uma “corte” que rodeava Samora Machel, que, por este ou aquele motivo, se viu preterida pelas lideranças posteriores de Moçambique.
São todos membros da Frelimo, mas os seus “pronunciamentos” públicos aparecem claramente em dissonância com o que AEG ou JAC diziam e dizem.
Serão “alas novas” revelando-se ou a manifestação pública de que as alas existem e estão “saindo claramente da casca”?
Ou será ainda uma estratégia delineada no sentido de recuperar uma figura icónica e utilizá-la para salvar o “convento” chamado Frelimo?
Mais perguntas podem ser feitas e devem ser feitas para encontrar respostas ou esclarecimentos que aclarem o que se passa nos dias de hoje.
Durante toda a vigência do partido-Estado, tem sido testemunhada a tendência de imitação do estilo “kim il sung” e, pelo que se pode observar dos eventos políticos do partido no poder, essa maneira de fazer politica e propaganda ainda persiste e está mais viva do que nunca.
Colocar jovens, crianças, mulheres e antigos combatentes idolatrando um líder, de cada vez que há uma reunião partidária, é, de todo, desnecessário e sinónimo de prevalência de culto da personalidade.
Mas, quando gente bem esclarecida, informada, com passado de governação e de exercício de funções de relevo na governação se presta a um serviço concertado ou combinado de exaltação dos feitos de Samora Machel, levanta suspeitas de diverso tipo.
Em alguns dos trechos televisivos em que aparece SM insurgindo-se contra o capitalismo e comportamentos corrosivos, isso contrapõe-se ao capitalismo abraçado pelos seus camaradas de ontem, que agora na sua maioria o glorificam.
Uns dirão que reina uma hipocrisia de “alto nível”, mas deve haver cautela e atenção para se chegar a alguma conclusão quando se põem, em campo “excelências e camaradas de alto gabarito”. Existe uma agenda específica determinada algures e com recursos humanos e financeiros à sua disposição.
Se está de acordo com a liderança de hoje do partido no poder e se está coordenada algures, isso é uma incógnita.
A discussão não se AM merece ou uma homenagem. Quem gosta dele e quem alinha com os seus posicionamentos políticos ou quem tenha servido sob a sua direcção pode fazer o que quiser que os moçambicanos enquanto tal, não tem nenhum problema.
O que se pode dizer é que existe uma exagerada abordagem continuando a monopolizar recursos públicos em agendas que misturam assuntos do Estado e do partido Frelimo.
Por favor, mentores da iniciativa, Moçambique não é Coreia do Norte.
Parece haver confusão e descoordenação de iniciativas visando defender ou promover alguma coisa.
Face ou perante tanta pobreza ou precariedade de agendas ou realizações ou por causa da ligeireza e falta de ideias de conselheiros ou assessores pode-se chegar a extremos de repetir coisas que faziam sentido em 1980 e que hoje estão completamente “fora do baralho”.
Quem passeia a sua classe defendendo um SM plenamente “marxista-leninista” são compatriotas que têm beneficiado altamente com a emergência e desenvolvimento de um “capitalismo selvagem”.
Todo o panorama político-económico mostra o “galope” que a “entourage” de SM faz a caminho da acumulação de riquezas e a ascensão a figuras de proa no “ranking” da “Forbes” para África.
Não é mentira afirmar que a “entourage” de SM, que sempre se apresentou como “massa pensante” de alto calibre, continua a bater-se pelo seu lugar ao sol. Age unida e autoprotege-se num processo em que não deixa a que ninguém consiga destroná-la do que são as posições que ocupam, embora se saiba que tem sido preterida pela liderança do seu partido e Governo.
Unem-se na política, nas artes, na cultura, nos desportos, nas festas e convívios, tudo isso contribuindo para a afirmação das suas posições e interesses. De maneira atempada, distribuíram os mecanismos de perpetuação do seu poder, lançando os seus progenitores que foram educados em escolas de elite nos países vizinhos e noutros continentes.
Agora que escrevemos, são várias as posições que em virtude de sua origem familiar e política estão ocupadas por herdeiros de figuras sonantes da Frelimo movimento e da Frelimo partido-Estado.
Uns estão na banca, outros em consórcios mineiros, outros no Governo ou empresas públicas.
Samora Machel é incontornável na história recente de Moçambique, mas não é por isso que tem de ser figura mítica e não-humana.
Uma das grandes mentiras que infelizmente tem sido propalada pelos “spots” televisivos é a que diz que o “Governo é Governo do povo” ou aquele momento de comício em que a resposta é que “povo é Governo ou que é Governo do povo”. Todos sabemos que isso nunca foi verdade. Os governantes dos tempos de Samora Machel tinham “loja dos responsáveis” para se abastecerem, e o resto do povo as “bichas das cooperativas e lojas do povo”, onde pouco ou nada havia. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 20.10.2016
Serão “alas novas” revelando-se ou a manifestação pública de que as alas existem e estão “saindo claramente da casca”?
Ou será ainda uma estratégia delineada no sentido de recuperar uma figura icónica e utilizá-la para salvar o “convento” chamado Frelimo?
Mais perguntas podem ser feitas e devem ser feitas para encontrar respostas ou esclarecimentos que aclarem o que se passa nos dias de hoje.
Durante toda a vigência do partido-Estado, tem sido testemunhada a tendência de imitação do estilo “kim il sung” e, pelo que se pode observar dos eventos políticos do partido no poder, essa maneira de fazer politica e propaganda ainda persiste e está mais viva do que nunca.
Colocar jovens, crianças, mulheres e antigos combatentes idolatrando um líder, de cada vez que há uma reunião partidária, é, de todo, desnecessário e sinónimo de prevalência de culto da personalidade.
Mas, quando gente bem esclarecida, informada, com passado de governação e de exercício de funções de relevo na governação se presta a um serviço concertado ou combinado de exaltação dos feitos de Samora Machel, levanta suspeitas de diverso tipo.
Em alguns dos trechos televisivos em que aparece SM insurgindo-se contra o capitalismo e comportamentos corrosivos, isso contrapõe-se ao capitalismo abraçado pelos seus camaradas de ontem, que agora na sua maioria o glorificam.
Uns dirão que reina uma hipocrisia de “alto nível”, mas deve haver cautela e atenção para se chegar a alguma conclusão quando se põem, em campo “excelências e camaradas de alto gabarito”. Existe uma agenda específica determinada algures e com recursos humanos e financeiros à sua disposição.
Se está de acordo com a liderança de hoje do partido no poder e se está coordenada algures, isso é uma incógnita.
A discussão não se AM merece ou uma homenagem. Quem gosta dele e quem alinha com os seus posicionamentos políticos ou quem tenha servido sob a sua direcção pode fazer o que quiser que os moçambicanos enquanto tal, não tem nenhum problema.
O que se pode dizer é que existe uma exagerada abordagem continuando a monopolizar recursos públicos em agendas que misturam assuntos do Estado e do partido Frelimo.
Por favor, mentores da iniciativa, Moçambique não é Coreia do Norte.
Parece haver confusão e descoordenação de iniciativas visando defender ou promover alguma coisa.
Face ou perante tanta pobreza ou precariedade de agendas ou realizações ou por causa da ligeireza e falta de ideias de conselheiros ou assessores pode-se chegar a extremos de repetir coisas que faziam sentido em 1980 e que hoje estão completamente “fora do baralho”.
Quem passeia a sua classe defendendo um SM plenamente “marxista-leninista” são compatriotas que têm beneficiado altamente com a emergência e desenvolvimento de um “capitalismo selvagem”.
Todo o panorama político-económico mostra o “galope” que a “entourage” de SM faz a caminho da acumulação de riquezas e a ascensão a figuras de proa no “ranking” da “Forbes” para África.
Não é mentira afirmar que a “entourage” de SM, que sempre se apresentou como “massa pensante” de alto calibre, continua a bater-se pelo seu lugar ao sol. Age unida e autoprotege-se num processo em que não deixa a que ninguém consiga destroná-la do que são as posições que ocupam, embora se saiba que tem sido preterida pela liderança do seu partido e Governo.
Unem-se na política, nas artes, na cultura, nos desportos, nas festas e convívios, tudo isso contribuindo para a afirmação das suas posições e interesses. De maneira atempada, distribuíram os mecanismos de perpetuação do seu poder, lançando os seus progenitores que foram educados em escolas de elite nos países vizinhos e noutros continentes.
Agora que escrevemos, são várias as posições que em virtude de sua origem familiar e política estão ocupadas por herdeiros de figuras sonantes da Frelimo movimento e da Frelimo partido-Estado.
Uns estão na banca, outros em consórcios mineiros, outros no Governo ou empresas públicas.
Samora Machel é incontornável na história recente de Moçambique, mas não é por isso que tem de ser figura mítica e não-humana.
Uma das grandes mentiras que infelizmente tem sido propalada pelos “spots” televisivos é a que diz que o “Governo é Governo do povo” ou aquele momento de comício em que a resposta é que “povo é Governo ou que é Governo do povo”. Todos sabemos que isso nunca foi verdade. Os governantes dos tempos de Samora Machel tinham “loja dos responsáveis” para se abastecerem, e o resto do povo as “bichas das cooperativas e lojas do povo”, onde pouco ou nada havia. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 20.10.2016
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