02/09/2019
Quando o Papa Francisco aterrar na próxima quarta-feira (04) no Aeroporto Internacional de Mavalane encontrará um país onde o catolicismo está a perder fiéis particularmente para centenas de religiões protestantes que proliferam particularmente nas zonas mais carenciadas. “O que nós temos em Moçambique são dúvidas, temos dúvidas se algumas são religiões ou não, é Igreja ou não” disse Dom António Juliasse, Bispo Auxiliar de Maputo, em entrevista exclusiva ao @Verdade onde revelou que a vinda Santo Padre católico mais do que tirar dúvidas poderá despertar os moçambicanos para o ecumenismo e o diálogo inter-religioso.
Dom António Juliasse, que é o coordenador da Visita Apostólica, começou a entrevista recordando que quando Moçambique recebeu a primeira visita de uma Papa, em 1988, “estávamos em período de transição de maneira de estar, de uma ideologia que era praticamente contrária, ou contra, a prática religiosa. E aquele momento, é o momento de certas aberturas em relação a Igreja e essa abertura acelerou-se depois da vinda do Papa (João Paulo II)”.
“A devolução dos bens da Igreja que tinham sido nacionalizados começou a acontecer de forma célere e também alguns dos nosso políticos que tinham crescido praticamente no berço da Igreja, alguns gerados na Igreja, nas Missões e Seminários, na altura da independência eles estiveram a liderar os processo contra a Igreja. Com a vinda do Papa João Paulo II vimos o retorno dessas pessoas à Igreja e daí nunca mais saíram, alguns deles hoje sentam-se nas cadeiras da frente, quer dizer que acelerou-se o processo de abertura para a liberdade religiosa, o respeito pela acção da Igreja, que começou com a devolução das Missões e a Igreja passou a fazer de novo a sua acção religiosa e também começou a colaborar na dimensão do ensino e saúde”, lembrou na entrevista exclusiva ao @Verdade.
Decorridos 31 anos Moçambique tem mais crentes protestantes do que católicos, o IV Recenseamento Geral da População e Habitação revelou existirem 8.781.534 crentes das religiões Zione/Sião, Evangélica/Pentecostal e Anglicana comparativamente aos 7.313.576 fiéis da Igreja de Cristo. Uma realidade que na perspectiva do Bispo de Maputo indicia que: “O que nós temos em Moçambique são dúvidas, temos dúvidas se algumas são religiões ou não, é igreja ou não, existe alguma autenticidade, quem confere essa autenticidade para ser Igreja?”.
“Ou há instrumentalização do elemento religioso para benefícios próprios e de alguns, mas ao mesmo tempo, essa instrumentalização do religioso, pode estar a instrumentalizar pessoas e isso é altamente perigoso para uma sociedade, a sociedade não se projecta, não vai para frente porque vão funcionar mentiras, a recta moral não vai existir, e a recta consciência não vai existir, que sociedade podemos formar! Penso que a partir dos conceitos de ecumenismo e de diálogo inter-religioso poderia-se esclarecer bastante estes aspectos”, argumentou.
“Uma coisa é ter um credo diferente, outra é sentirmos que todos somos irmãos e o coração bate quanto eu olho para o outro como moçambicano”
Dom Juliasse disse em exclusivo ao @Verdade que esta Visita Apostólica poderá ajudar a tirar muitas destas dúvidas. “O Papa tem feito sinais muito grandes no diálogo inter-religioso e do ecumenismo, de ir até ao mundo muçulmano, dialogar e sem pretender dizer eu é que tenho a última palavra mas estar como irmãos e depois dizer vamos juntos. A Humanidade é criação de Deus e deve estar acima das nossas diferenças e nós temos de ser irmãos, esse sentido de irmandade é que deve ser criado. Isto é próprio da nossa orientação e penso que o Papa Francisco a vinda dele vai nos dar força para despertarmos nesse sentido”.
“Esse despertar para o ecumenismo e o diálogo inter-religioso são dois conceitos que a Igreja tem. Ecumenismo entre todos aqueles que acreditam em Cristo, é a mesma religião cristã mas são denominações diferentes. Inter-religioso é com outras religiões como hindus ou muçulmanos. Quando nós nos voltamos para essa realidade e aprofundamos o que isso significa compreenderemos o que significa a religião, e quando compreendermos o que significa uma religião tudo o resto purifica-se, então todas as tendências nocivas a própria religião e que podem estar numa sociedade em nome de religião e que não são religião nenhuma então isso vai cair, porque nós vamos criar como sociedade princípios saudáveis para o bem de todos”, explicou ao @Verdade.
O coordenador da Visita Apostólica chamou atenção que um dos momentos mais importantes será encontro inter-religioso de jovens com o Jorge Mario Bergoglio , a meio da manhã de quinta-feira (05) no pavilhão do Maxaquene.
“Teve-se em atenção a diversidade religiosa que a sociedade moçambicana tem e escolheu-se a juventude se calhar para lhes inspirar, no sentido de que a diversidade das religiões que existe numa sociedade não pode constituir um ponto de desencontro de pessoas da mesma sociedade, mas deve-se encontrar sempre caminhos de diálogo, de conversa, para poderem caminhar juntos no que diz respeito ao bem de todos. Uma coisa é ter um credo diferente, outra é sentirmos que todos somos irmãos e o coração bate quanto eu olho para o outro como moçambicano”, aclarou Dom Juliasse.
@VERDADE - 02.09.2019
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