09/09/2019
"É difícil falar de reconciliação quando ainda estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdias”
Por Lawe Laweki
Embora não se saiba o que foi abordado durante a reunião de “portas fechadas” entre o Papa Francisco e o presidente de Moçambique em 5 de agosto de 2019, o Sumo Pontífice enviou uma mensagem clara aos líderes da FRELIMO. No seu primeiro discurso no Palácio Presidencial, “Ponta Vermelha”, o Santo Padre enfatizou que o “melhor caminho” a seguir para o povo moçambicano que há muitos anos conheceu “sofrimento, luto e aflição” era a reconciliação.
O Papa Francisco também falou da necessidade de as autoridades moçambicanas não abandonarem uma parte da sociedade moçambicana na periferia: “Não podemos perder de vista que, ‘sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade’. ”
Continuando, o Santo Padre disse: “não cesseis os esforços enquanto houver crianças e adolescentes sem educação, famílias sem teto, trabalhadores sem trabalho, camponeses sem terra”.
Na sua homilia, durante uma missa campal no Estádio de Zimpeto, no último dia da sua visita à Moçambique, o Papa Francisco novamente apelou às autoridades moçambicanas para buscarem a cura de feridas e se envolverem numa reconciliação genuína: “Não se pode falar duma reconciliação quando ainda estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdias”.
Em resposta ao apelo do Papa Francisco, o Presidente da República, Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, disse que o seu governo continuará a envidar esforços para promover a reconciliação nacional: “O país continuará a fazer esforços para a reconciliação nacional [...] O primeiro a pedir desculpa é o mais valente e o primeiro a perdoar é o mais forte. ”
AS “FERIDAS VIVAS” DE QUE REFERIU O SANTO PADRE
Haverá um processo de paz real em Moçambique quando o governo da FRELIMO embarcar num jogo político sério, procurando realmente buscar a cura dessas “feridas vivas” e trabalhar em direção à reconciliação genuína.
Haverá um processo de paz real em Moçambique quando os problemas forem resolvidos de baixo para cima, conforme o padre sul-africano Michael Lapsley explicou eloquentemente no seu discurso durante o lançamento do livro “Mateus Pinho Gwenjere: Um Pai Revolucionário” em Maputo no dia 29 de Agosto de 2019:
“A questão que todos nós precisamos de ter em conta em todos os contextos, é como o passado nos afectou e nos infectou. A tentação é procurar enterrar e esquecer o passado, o que nunca funcionou em nenhum lugar do mundo. A evidência que existe é que as feridas não cicatrizadas do passado voltam a afectar-nos, seja como indivíduos, comunidades ou nações. ”
As “feridas vivas” referidas pelo Papa Francisco incluem as questões mal resolvidas durante a guerra de libertação nacional, que culminaram com o sequestro, detenção, e execução, sem julgamento apropriado, de vários líderes nacionalistas logo após a independência de Moçambique. Incluem ainda os abusos cometidos nos chamados “campos de reeducação”, onde muitas pessoas foram enterradas e queimadas vivas. Incluem igualmente os vários abusos dos direitos humanos cometidos durante as Guerras Fratricidas, a partir de 1976 até a presente data.
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