29/09/2019
As obras ligadas a um novo corredor logístico no centro do país, avaliado em 3,2 mil milhões de dólares, arrancam hoje com a ambição de promover a produção nacional e de criar um porto preferencial para o Maláui e Zâmbia.
"Há estudos preliminares e há boas conversas com os governos destes dois países", disse em entrevista à Lusa Orlando Marques, director executivo (CEO) da Thai Moçambique Logística (TML), empresa concessionária do corredor que terá um porto de águas profundas em Macuze, Zambézia, ligado a uma linha de férrea de 620 quilómetros até Chitima, Tete, interior do país.
"Macuze vai ser o porto mais próximo do Maláui e da Zâmbia", realça Orlando Marques.
"Hoje, os principais portos que alimentam a Zâmbia são Dar es Salaam [na Tanzânia] e Durban [África do Sul]", a mais do dobro da distância a que está Macuze, e é com esses que a TML pretende competir.
A construção do corredor - a cargo de um consórcio da portuguesa Mota-Engil com a chinesa CCEC - tem arranque previsto para 2020 e esta sexta-feira é lançada a primeira pedra de obras que lhe estão ligadas: começa a construção da aldeia de reassentamento de Supinho para onde vai ser transferida a população que habita na zona de implantação do porto.
É "a fase zero do projecto", uma passo prévio à construção, cujo prazo de execução é de três anos e meio, explica o diretor executivo.
O corredor nasce no meio de outras duas linhas férreas já em funcionamento: o Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN), que liga Moatize ao porto de Nacala, e o Corredor da Beira, que liga a mesma zona mineira de Tete à cidade da Beira.
Orlando Marques acredita que o projecto da TML tem os seus trunfos: um porto de águas profundas, de que a Beira não dispõe, e menos dependência de um só cliente, apontando a vocação de Nacala para escoar carvão da mineira Vale.
Transportar exclusivamente carvão também era a ideia inicial da TML, mas a desvalorização (com excepção do carvão metalúrgico, usado em siderurgias) e a pegada ambiental levou à reconfiguração do plano.
Agora, "em cima do carvão - que continua a ter importância estratégica -, temos todas as outras matérias-primas que existem em Moçambique e na Zâmbia", país de onde a TML quer ajudar a escoar minério.
"Há duas empresas chinesas que têm minas e interessa-lhes a logística", pelo que "estão a negociar a concessão de uma linha férrea" na Zâmbia até a um ponto onde se ligue ao corredor da TML.
Por outro lado, há uma aposta no potencial agrícola da Zambézia - que a linha "poderá ajudar a desenvolver" - e memorandos de entendimento já assinados com algumas entidades daquela região do centro de Moçambique.
Orlando Marques refere que a perspectiva é a de colocar novas cargas em trânsito, em vez de fazer concorrência às que já circulam nos outros corredores.
"Vamos fazer mais que um terminal de minérios" e manusear "carga geral, contentores, 'oil and gas' e granulado, como milho, soja ou trigo", descreveu.
Um novo parceiro financeiro, que será accionista, deverá ser anunciado ainda este ano e conferir solidez ao projeto, acrescentou o diretor executivo.
"Está em fase de 'due diligence' [verifcação de requisitos]. Mais um ou dois meses, esse nome já vai ser público", referiu, considerando que se trata de um "parceiro robusto com capacidade financeira para pôr o projecto em andamento".
Ao nível de planeamento, o porto de águas profundas de Macuze (para embarcações com 21 metros de calado) - a cerca de 30 quilómetros de Quelimane, capital provincial da Zambézia - será uma frente de obra e a linha será outra - por sua vez repartida noutras secções.
"O trabalho mais difícil serão as obras de arte, ou seja, pontes e viadutos", a parte mais morosa da obra, porque "fazer uma linha férrea, com a tecnologia que existe, é bastante rápido e fácil", descreveu.
Uma ponte principal, com quase um quilómetro, vai atravessar o rio Chinde, já perto da costa, na zona onde se encontra com o rio Zambeze.
Outra ponte importante, embora mais curta, vai atravessar o rio Zambeze, a norte de Moatize - já junto à capital provincial de Tete, na província com o mesmo nome.
LUSA – 27.09.2019
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