"Mas, ao que me parece, esses senhores são gatunos de confiança, de boa conduta, habitualmente têm estado na esbórnia patrocinada pelo partido Frelimo; por isso que a eles não lhes vai acontecer nada"

Eureka por Laurindus Macuácua
Cartas ao Presidente da República (34)
Bom dia Presidente. Disse-lhe certa vez que neste meu País, que se chama Moçambique, existe uma casta de privilegiados que vive às expensas dos contribuintes. Outros roubam, defraudam o Estado e nada lhes acontece. Ei-los a desfilar em carros importados e barrigas avantajadas- quais nababos num País em que falta tudo. Até o mísero salário do pobre trabalhador para comprar patinhas.
E como gosto de dar o benefício da dúvida, por isso que até hoje tento acreditar que o seu Governo, Presidente, é suficientemente pragmático para saber que, perante o ridículo a que se expos pelo mundo fora por causa das dívidas ocultas, o melhor que tem a fazer neste momento é não atirar mais porcaria para a ventoinha.
Seja como for, desconfio, e apenas desconfio porque as autoridades teimam em não nos contar toda a verdade, que o assunto sobre o escândalo da LAM está a ser tratado com total leviandade.
Esses gatunos, que em nome da LAM defraudaram o Estado moçambicano, não merecem a nossa complacência, os nossos aplausos, deviam estar a amargar na cadeia. Mas, ao que me parece, esses senhores são gatunos de confiança, de boa conduta, habitualmente têm estado na esbórnia patrocinada pelo partido Frelimo; por isso que a eles não lhes vai acontecer nada.
Para eles o princípio da presunção de inocência é como se fosse um manual em que aprendem as melhores tácticas de como mamar ininterruptamente às tetas do Estado. Parvo desse Estado que se deixa sugar até ao extremo por senhores vis- e bem identificados- sem se queixar, só porque eles (os tais senhores) são amigos do poder político. Bebem do mesmo vinho com os decisores deste País. E quando reunidos à mesa opulenta do poder, riem-se do povo, amaldiçoam-no, porque de nada lhes serve a não ser para fortificá-los ainda mais.

O povo só é patrão quando lhe querem arrancar voto!
Presidente: as coisas não podem ser deixadas pelas meias tintas.
Quando o elegemos tínhamos outra perspectiva. E nisso, em nenhum momento nos passou pela cabeça que iria ser complacente (quem sabe até juntar-se ) aos gatunos que engrossam o número de membros do seu partido.
Presidente: para evitar que um dia tenha uma grande surpresa, com a implosão do sistema político, é melhor começar a responsabilizar todos os que têm responsabilidade nestes berbicachos. A começar pelos que arrastaram a nossa economia à agonia.
O poder político não deve ser escudo dos gatunos, dos lesa pátria.
Parece que todos os que roubam ao povo se escudam na Frelimo. É o seu oásis. Foi assim com os que tramaram o “Nosso Banco”, continua a ser assim com os cérebros das dívidas ocultas, há-de ser assim com os gatunos da LAM e será assim para todo o sempre enquanto o roubo continuar a ser avalizado pelos camaradas melhor posicionados na esfera decisória.
E paradoxalmente, os escassos recursos de que o País dispõe, são dedicados à protecção desses mesmos gatunos amigos do poder. As ambulâncias não têm combustível, os hospitais andam às escuras por falta de Credilec…
Ah! Caphirizange…
O Governo que nós ajudámos a eleger, tem que deixar de aselhices.
Não deve continuar a criar e ampliar mimos aos seus amigos, como se eles fossem de uma categoria especial.
São gatunos e presunção de inocência nenhuma limpar-lhes-á esta nódoa. É indelével. É como se fosse uma marca de ferro em brasa.
Alguns roubam ao Estado alardeando que o País lhes deve gratidão por terem participado na dita epopeia da independência nacional, como se pelo facto o povo lhes devesse servidão eterna. Demonizam o pobre do Laurindos porque não reza segundo a sua cartilha, mas uma coisa é certa:
chegará o dia em que este povo não precisará de um herói para fazer a sua revolução.
O povo pode perdoar, mas não esquece!
DN – 09.12.2016