sexta-feira, 4 de novembro de 2016
Em Lichinga, não basta o comboio apitar!
Pensar que o facto de o comboio chegar à cidade de Lichinga já é suficiente para se sair da pobreza é pura falácia. E pior ainda, pensar que, neste momento, há produtos sufientes, na cidade de Lichinga, capazes de tornar sustentável, a médio e longo prazo, o negócio do Cê-Dê-Ene - Corredor de Desenvolvimento do Norte, a empresa concessionária da linha férrea, também é outra falácia.
É preciso que o governo comece a captar mais investimentos para a província do Niassa. É preciso que o governo comece a criar apetites para incentivar grandes investimentos. É preciso que se criem vias de acesso para trazer os produtos agrícolas à cidade de Lichinga para que possam ser escoados. Hoje, os produtos que existem na cidade de Lichinga podem ser escoados numa viagem com 20 vagões.
É preciso frisar que comboio não sobrevive com transporte de passageiros. Comboio sobrevive com transporte de mercadorias. O Cê-Dê-Ene, hoje, sobrevive graças ao transporte de mercadoria e cargas transacionadas entre Moçambique e Malawi. O transporte de passageiros é como se fosse responsabilidade social da empresa. Um comboio cheio de pessoas não paga nem o combustível gasto no troço, muito menos a manutenção da plataforma.
É imperioso, já agora, recordar que mesmo no tempo da guerra dos 16 anos o comboio sempre chegava à Lichinga. De forma intermitente, mas chegava. Nessa altura, era o Cê-Efe-Eme - Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique, uma empresa estatal quem geria a linha. O Estado se esforçava em movimentar o povo e suas cargas. Quando a linha foi concessionada a Cê-Dê-Ene houve muito esforço da empresa em manter a tradição, mas não era sustentável: não havia assim tanta demanda, principalmente a partir de Lichinga, e a plataforma clamava por uma reabilitação séria. A Cê-Dê-Ene é uma empresa privada que precisa de lucros para se manter e crescer. Não sobrevive de vivas e salamaleques.
Se não houver incremento de novos investimentos e robustos, a linha Cuamba-Lichinga não passará de uma maravilha para discursos políticos e para espalhar fotos no Facebook. É preciso desafiar a Cê-Dê-Ene a investir mais naquela via. Esse desafio faz-se tendo projectos que queiram usar a ferrovia. Tem que haver carteiras de projectos e de negócios agroflorestais e industriais e as respectivas vias de acesso em Niassa. O comboio só irá transportar batata, feijão e madeira que estiverem na estação ferroviária de Lichinga. Sem feijão na estação o comboio ficará para a história mais uma vez.
- Co'licença!
Sem comentários:
Enviar um comentário