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Escrito por Adérito Caldeira em 03 Novembro 2016 |
Moçambique está mergulhado em crise, embora timidamente o Executivo de Filipe Nyusi está implementar alguns cortes em vários investimentos públicos. Muitas escolas ficaram por ser construídas este ano e outras tantas não serão no ano que vem; profissionais de saúde, médicos, professores e extensionistas rurais continuam em défice e ficaram por contratar; o orçamento para programas de Protecção Social Básica foi cortado... todavia o jornal estatal divulga na sua edição desta quarta-feira(02) a adjudicação à empresa Startimes do concurso público para a implementação da Migração da Radiodifusão Analógica para Digital no valor de 156 milhões de dólares norte-americanos. Para além do absurdo que é priorizar a Migração Digital em detrimento de outros investimentos mais prementes para o povo este é apenas mais um capítulo em torno de um negócio que está fechado desde 2010 entre os Governos de Moçambique e da China e que envolve empresas privadas de ambos países, do lado moçambicano está uma empresa onde o antigo Chefe de Estado, Armando Guebuza, tem interesses comerciais, e do lado chinês o gigante Grupo StarTimes. Em Junho de 2010 o então primeiro-ministro de Moçambique, Aires Aly, reuniu-se na capital da China com o presidente do Grupo StarTimes, Xin Xing Pang, e terá nessa altura decidido o futuro da Migração Digital para o nosso País. Aliás na mesma viagem o governante reuniu-se com responsáveis do Banco de Exportação e Importação(EXIM Bank) da China que mostraram-se disponíveis “a financiar o projecto de digitalização da televisão e rádio em Moçambique, sob execução de... uma empresa chinesa”. À data não existia ainda nenhuma estratégia nacional para o processo acontecer, só foi aprovada em 2014, e nem legislação. Entretanto o Grupo StarTimes registou-se em Moçambique e obteve uma licença lançar um serviço de televisão digital pré-paga. Paralelamente o Executivo de Armando Guebuza incluiu no seu Plano Económico e Social para o ano de 2011 a migração do Sistema de televisão analógica para Digital que tinha como meta o “Sistema de Televisão Digital Instalado a nível Nacional” que deveria estar operacional em 2015.
Concurso público para legalizar negócio há muito fechado em Pequim
Os custos totais da Migração Digital não são conhecidos e são poucos transparentes. Todavia é público que a 2 de Abril de 2014 o Grupo StarTimes formalizou junto do EXIM Bank o pedido de um empréstimo no valor de 133 milhões de dólares norte-americanos com a Garantia do Estado moçambicano chancelada pelo então ministro dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthisse, que na altura projectou que o processo iria custar 300 milhões de dólares norte-americanos.Porém, e sem nenhuma explicação, a 29 de Junho do corrente ano o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique lançou um concurso público para a “Implementação da Migração da Radiodifusão Analógica para Digital em Moçambique”. Através do presidente do Conselho de Administração do operador público(entretanto criado) da rede de televisão digital(TMT), Victor Mbebe, ficamos a saber que tinha havido uma “reavaliação” do projecto com a StarTimes. Falando em Pequim Victor Mbebe explicou que, apesar das questões que motivaram a reavaliação do projecto inicial, o processo da migração de analógico para digital nunca parou, sendo por essa razão que em Dezembro último o país testemunhou, em Maputo, o arranque do projecto-piloto. Contudo em Março, cerca de dois meses antes, o actual titular das Comunicações nacionais, Carlos Mesquita, após deslocar-se a China para acelerar este processo da Migração Digital afirmou que o EXIM Bank estava a apreciar um pedido de empréstimo no valor de 156 milhões de dólares norte-americanos solicitado por Moçambique para acelerar o processo de migração digital. O ministro disse ainda que a empresa chinesa StarTimes, a quem foi adjudicado o contracto, havia aprovado o desembolso de 30 milhões de dólares, a serem aplicados na encomenda de equipamentos digitais específicos para Moçambique. “A China disponibilizou-se, a StarTimes em particular, em avançar com Moçambique nesse grande desafio”, disse o ministro Mesquita na altura. Portanto desde 2010 que está acordado que o Banco de Exportação e Importação da China iria emprestar o dinheiro que Moçambique precisasse para materializar a Migração Digital desde que esse negócio acontecesse com a empresa chinesa StarTimes. Está ainda evidente que os políticos do partido Frelimo vêm neste negócio mais do que um eventual interesse nacional, que claramente não é o mais urgente, mais uma oportunidade para ganharem dinheiro. A Migração Digital é apresentada como um imperativo global pelos políticos mas comparando com a necessidade por comida, água potável, hospitais, escolas... é óbvio que o que é mais importante para o povo moçambicano não é prioritário para o Governo de Filipe Jacinto Nyusi. |
EY: Esta é uma oportunidade para os moçambicanos dar lição a Frelimo e Guebas/Nyusi. Decidir por não aderir essa brincadeira. Que todos moçambicanos arrumem a televisão e a radio por uma semana ou mais para ver se eles não vão recuar.
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