terça-feira, 24 de julho de 2018
Canal de Opinião
Por: Matias Guente
Maputo (Canalmoz) – Não me é característico debater pessoas, principalmente quando são de uma monumental insignificância que só um País “interessante” como este lhes pode ainda dar crédito. E mais grave: crédito e um cargo numa empresa pública.
Vem isto muito a propósito do senhor Gustavo Mavie que por acaso, explicado só pelo contexto decadente em que vivemos, é antieticamente director da Agência de Informação de Moçambique (AIM) e propagandista do Governo da Frelimo fazendo uso de uma instituição do Estado.
Vamos aos factos: Gustavo Mavie, um PhD em Culambismo ao regime, escreveu no boletim da AIM que o texto que eu próprio escrevi e que fez capa no semanário Canal de Moçambique (onde trabalho com muito orgulho) está prenhe de demagogia porque o framing textual por mim dado leva à interpretação de que houve insensibilidade por parte do chefe de Estado e seus assessores ao festejarem o aniversário do Senhor Armando Guebuza com direito a oito horas de transmissão em director pela TV pública, enquanto famílias choravam, a poucos quilómetros, a desgraça de que foram vítimas, causada pelas enxurradas.
Não tenho medo de repetir aqui que houve insensibilidade, sim, e muita hipocrisia. E tenho elementos que me fazem chegar a esta asserção. Enquanto o senhor comia e bebia de borla (arte em que de resto mostrou ser perito), eu liderava uma equipa de Reportagem no terreno (na água), nas zonas da Costa do Sol, Inhagoia e Laulane, testemunhávamos o sofrimento das pessoas. Insensibilidade porque o direito privado de uma figura como a do PR não lhe abre o leque para poder dar festas pomposas, enquanto o povo, a quem jurou servir, está no auge da miséria, ainda que seja momentânea como é o caso destas enxurradas. Mais grave: o banquete enquanto durou foi transmitido com pompa e circunstância, oito horas seguidas, enquanto a população afectada enterrava os seus mortos ou chorava as outras consequências mergulhada no sofrimento: sem água, sem comida, sem cobertores. Hipocrisia porque enquanto bebiam e comiam, liam discursos de combate à pobreza para elogiar o chefe rumo à caça de mais um tacho nesses cargos, cujo critério passa por quem leva mais tempo ajoelhado aos pés de Guebuza, outros estavam a serpura e simplesmente ignorados.
Qual é o combate à pobreza de que falam, enquanto se embebedam com vinhos e comem vários acepipes quando em contracena está o povo desesperado?
Precisamos de ler mais manuais de governação e desenvolvimento para entender o que encerra o vosso conceito de luta contra a pobreza.
Não há demagogias da nossa parte, senhor Mavie. Pelo contrário, há demagogias do lado de quem fala da pobreza com uma taça de vinho e rissóis na mão, tal como o senhor. Enquanto a televisão pública transmitia em directo os “Mavie” a dançar e a comer na festa do chefe de Estado, eu estava na Polana Caniço em casa da família Mulhovo, que chorava a perda do pequeno Jorge que em vida nas conversas de sonho com os amigos dizia querer ser juiz. E o senhor Mavie sabe por acaso como morreu o pequeno Jorge? – Foi soterrado. A precária casa em que viviam desabou o lado do quarto onde Jorge estava e foi tudo parar à cratera que se abrira por causa da chuva. Saberá por que desabou o quarto do pequeno Jorge e não a casa do senhor Mavie? – Porque a casa do senhor Mavie foi bem construída. A do pequeno Jorge era de construção precária muito por culpa de um Estado que nem sequer tem um ante-projecto sério de política de habitação e vive alimentando “Maviísmos”.
Na mesma altura que os muitos “Mavie” comiam, duas senhoras lutavam no “Acolhimento Força do Povo” por causa de arroz sem caril que era distribuído lá. Era uma única refeição que cobria: matabicho, almoço e jantar. Diga-me agora o que é demagogia entre um Mavie falar de sucessos de uma luta contra a pobreza, enquanto está na fila de um buffet, e milhares de pessoas se espancam por arroz sem caril, porque perderam tudo com as enxurradas? O senhor Mavie tanto tem um tal de dicionário quanto não sabe ler o que lá está escrito…
Fala também do texto de Elísio Macamo publicado no “Notícias” que sustenta a tal demagogia que o senhor nos atribui. Ao escrever sobre a tal “demagogia”, Elísio Macamo fala da introspecção ética e moral (relativos à padrões individuais e colectivos comummente aceites), exercício que cada um devia fazer logo que recebeu o convite da festa. Esta introspecção de que fala Macamo seria para decidir se era moralmente aceite comemorar faustosamente e exibir em TV, enquanto outros estão na miséria. Isso, o bom de Mavie não percebeu. Mas também como perceber se o que importa é só escovar?
A interpretação do texto que nos traz Mavie é típica daquilo que para efeitos deste texto, vou chamar de Hermenêutica da fome! Consiste em interpretar factos ou textos com pendor para o lado que nos vai garantir gás, combustível, pão e um convite para próxima festa do chefe! É disso de que padeceu Mavie na sua leitura!
Na forma como faz a descrição fiel dos pratos que foram servidos na festa, mostra, não só que o senhor comeu tudo quanto esteve lá, revelando a sua categoria de faminto, como mostra que é, como já todo o mundo sabe, a comida que o move para ser mercenário.
O senhor fala tanto de Guebuza como o dono da independência. Não duvidamos que Guebuza seja “herói”. Mas porque não fala de Paulo Samuel Kankomba, de Urias Simango, com o mesmo ânimo e efervescência? Não será porque morreram ou porque lutaram menos, certamente. É porque não podem dar-lhe dinheiro agora. Porque o senhor é um vendilhão! Há muitos heróis vivos que lutaram pela independência e só não recebem hossanas nas suas delirantes crónicas porque não têm dinheiro para lhe pagar a consciência, nem estão na posição de lhe poder convidar para viajar ao exterior para ter ajudas de custo. Portanto, não venha aqui nos enganar, senhor Mavie! Conhecemo-lo da letra e consciência! Vá vender o País por outra freguesia!!...
Fala de convite presidencial como se fosse aquilo fosse o auge do jornalismo. Quanta miséria, meu Deus!! Saiba que também recebi o tal convite para ir a tal festa. Só não fui porque preferi ir trabalhar (arte de que certamente o senhor tem pavor).
Diz no seu ensaio escovista que alguém nos manda escrever as reportagens. Saiba, senhor Mavie, que contrariamente ao senhor que é mandado escrever textos para “deixar claro que o Governo está a trabalhar”, eu não sou mandado escrever. Eu escrevo! Porque tenho capacidade suficientemente intelectual para tal. Não sou da sua estirpe. Não sou mercenário. Não estou à venda, muito menos por migalhas. Não faço parte da sua facção de contrabando de consciência e de valores. Tenho dignidade e valores, coisas que certamente na sua legião é considerado heresia.
Ninguém me manda escrever nada. Temos uma pauta noticiosa semanal, que é feita e executada por uma equipa de jovens liderada actualmente por mim. Não recebo chamadas para difamar médicos que cuidam dos nossos compatriotas. Não recebo garrafas de vinho e convites para o exterior para falar mal da oposição nem do Governo.
Não pense o senhor Mavie que não tenho lido os seus delírios que só a mais afeiçoada tendência para a “escova” pode confeccionar. Temos lido os insultos e ofensas que o senhor tem dirigido contra este jornal e seus profissionais. Temos lido as suas desgraças textuais de cunho racista contra o director deste jornal e contra muitos outros cidadãos moçambicanos de raça branca. Aliás, a raça é, a par do anti-criticismo, o único expediente que o senhor sabe tramitar. Longe de ver críticas e pessoas que com seu conhecimento contribuem para fazer deste País um lugar normal, Mavie vê primeiro a cor dos críticos. Anda aos rodopios com a raça do director deste jornal e contra outros cidadãos moçambicanos de raça branca, mostrando que infelizmente estamos perante um primata sebastianista. Quer que os brancos e negros voltem a se estranharem? Quanta irresponsabilidade!
Saiba, senhor Mavie, que só não respondemos porque não nos queremos sujar com tamanha porcalhada intelectual. Saiba que o nosso silêncio perante as suas basbaquices textuais é o nosso tributo à sua imponente insignificância, que tal como diria Barbosa du Bocage: “tem o estatuto da quinquagésima potência, que o vulgo denomina NADA!”
Tem mais: nunca me dei tempo de responder a um Mavie que é acusado pelos seus próprios subordinados de gerir de forma danosa a AIM, um bem público. Lemos em muitos jornais (que nem são da propriedade do Canal de Moçambique, nem de “brancos”) que o senhor está metido em muitos esquemas que levaram a AIM à falência técnica. São os trabalhadores da AIM que são citados nessas notícias que o denunciam. O senhor nunca desmentiu isso. Certamente que sabe em que esgoto repousa a sua consciência. Ou seja: fazendo fé naquilo que está publicado sobre a sua gestão da AIM, não chegamos a outra conclusão se não a de que: só a almofada cúmplice do regime é que ainda o mantém fora das grades. Mas tenho pena de ter que o recordar que a Justiça tarda mas não falha. Brevemente a legalidade vai bater-lhe à porta e a justiça vai de forma exemplar o colocar no lugar propício para pessoas de instinto calamitoso como o senhor!
Ainda bem que o senhor prefere-se acobardar no conforto dos seus decadentes textos. Lamba como quiser, até as partes mais desaconselháveis do regime, mas não o faça à custa do nosso trabalho honesto. Continue a delirar na sua prostituição intelectual, mas não cometa o erro de usar o meu trabalho para trepar as escadas do regime. Faça-o com os que ainda não sabem o hino à fraude jornalística que o senhor é! (Matias Guente)
OS “GATEKEEPERS”: O JORNALISTA (?) GUSTAVO MAVIE COMO ESTUDO DE CASO
Na área do jornalismo, os “gatekeepers” são as pessoas responsáveis, nas redacções de órgãos de comunicação social, pela filtragem e edição do que pode (e do que não pode) ser divulgado como notícia para consumo público. Uma espécie de polícia da redacção. Em contextos onde a imprensa pública é política ou ideologicamente controlada, os “gatekeepers” são, na versão mais politizada do termo, autênticos porteiros da censura, guardando religiosamente as cancelas entre a verdade e a opinião pública. As suas atribuições profissionais passam a ser, por excelência, ocultar, distorcer, instrumentalizar, subverter ou manipular factos e percepções dos receptores da informação veiculada pela imprensa onde trabalham.
Os “gatekeepers” politizados agem desse modo condicionados não só pelo contexto estruturante ou organizacional em que trabalham (influenciados grandemente pela linha editorial imposta pelo regime que controla os órgãos de comunicação social onde prestam serviço) como também por determinantes idiossincráticos subjectivos (o que o “gatekeeper” acha que deve ser a sua conduta profissional).
Uma leitura rápida sobre as razões que explicam a conduta ideológica dos “gatekeepers” destaca, dentre outras, a luta pela sua sobrevivência (sobretudo quando se está consciente da sua incompetência e falta de competitividade profissional) e o desespero pela notoriedade do seu trabalho junto dos seus superiores hierárquicos (a busca de visibilidade como meio para eventual nomeação, recompensa ou retribuição futura). Assim sendo, tudo o que passa pelo crivo dos “gatekeepers” (notícias, artigos de opinião, comentário político, etc) passa a ser reflexo das diligências que este faz para não morrer à fome, para não cair no descrédito institucional ou para ser sempre “nomeável” para qualquer cargo de referência junto da mesa de quem detém o poder público do dia.
Em Moçambique, como em todo o mundo, existem inúmeros exemplares desse tipo de “gatekeepers”. O jornalista (?) Gustavo Mavie é apenas um deles. Em bom rigor, um jornalista que se preze tem sempre como principio orientador normas e procedimentos éticos bem definidos e universalmente comungados junto da classe a que pertence. Por exemplo, a relevância e utilidade pública do que se divulga. O último artigo da autoria de Gustavo Mavie, intitulado “Os Espermatozóides Políticos Moçambicanos”, onde ele ataca de forma insultuosa a saída de Venâncio Mondlane e de Manuel de Araújo do MDM, bem como a sua posterior adesão à Renamo, coloca em causa a qualidade e a credibilidade da sua condição de jornalista pretensamente sénior, com larga experiência nos corredores da imprensa moçambicana. O título do texto, só por si, já espelha a categoria vil em que o referido jornalista (?) faz escola. Para além de constituir um péssimo exemplo do que um jornalista deve ser, ao apresentar de forma grotesca os seus desequilíbrios de leitura e interpretação de factos, Gustavo Mavie fere, de modo dantesco e sucessivo, os pilares elementares da objectividade, da imparcialidade, da verdade e da precisão jornalísticas. Torna-se aterrador constatar que ele já esteve a comandar, por largos anos, a maior agência de informação pública de que Moçambique dispõe. Ou que continue a merecer espaço e audiência nos maiores órgãos de comunicação social públicos do país, pagos com os impostos da classe produtiva nacional.
Não é surpresa para ninguém que, em Moçambique, o jornalismo de propaganda tem em Gustavo Mavie o seu guru e principal fonte de inspiração, particularmente junto da cúpula mercenária que infesta a classe. Nem é de lamentar a fraude opinativa que sempre caracterizou as suas intervenções, ao longo da sua carreira. O que assusta mesmo é a imoralidade do seu legado para quem, junto da classe jornalística, também almeje chegar a dirigir uma agência de informação como a AIM, instituição de onde, aliás, o Gustavo Mavie foi exonerado por gestão danosa grave.
Com efeito, uma coisa é não concordar com as actuais dinâmicas de coesão e de desintegração em partidos políticos da oposição em Moçambique. Principalmente quando as mesmas dinâmicas não se reflectem no código de valores de militância que estruturam a condição de membro do partido no poder, onde o próprio Gustavo Mavie pertence. Outra coisa, bem distinta, é usar a capa e o legado de jornalista (?) para legitimar e impor à opinião pública matérias políticas encomendadas com finalidades claramente pejorativas e atentatórias ao bom nome e imagem dos visados no seu último artigo (como os de vários outros actores políticos por si vilipendiados ao longo da sua carreira). Dizer, por exemplo, que “só os incautos ou menos informados é que poderão votar mais por estes senhores (o Venâncio Mondlane e o Manuel de Araújo), porque está mais do que claro que eles não são movidos pela vontade de servir o povo como apregoam, mas de se servirem a si próprios e aos seus”, como a dado momento justifica o referido artigo assinado pelo Gustavo Mavie, é tão tendencioso que se chega a questionar se o próprio articulista vive mesmo em Moçambique… Manuel de Araújo, por exemplo, ainda não teve um único caso de corrupção movido contra a sua gestão no Município de Quelimane. Venâncio Mondlane idem, tanto na sua carreira profissional no Banco de Moçambique como na sua experiência política como membro da Assembleia Municipal de Maputo e como deputado da Assembleia da República (onde, de forma inusitada, abdicou das regalias, benesses e privilégios dessa condição para voltar a ser um cidadão comum e candidatar-se como cabeça-de-lista pela Renamo). Muito ao contrário da conduta de diversos Edis, entre passados e actuais, oriundos do partido de que Gustavo Mavie é membro.
Mais ainda, questionar “quando e onde foram (o Venâncio Mondlane e o Manuel de Araújo) eleitos como cabeças de lista?” só revela a grosseira distracção em que se movimenta este jornalista (?) sénior… O dia, a hora e o local em que estes concorreram e foram eleitos foram massiva e amplamente publicitados na própria imprensa de que o Gustavo Mavie foi (ou ainda é) um dos seus mais destacados polícias ideológicos. E todos os eventos tiveram cobertura recorde de imprensa, tanto dos órgãos de comunicação social públicos como dos privados, nacional e internacionalmente. Outrossim, a tentativa de dar a entender aos seus leitores que a “nomeação forçada (do Venâncio Mondlane e do Manuel de Araújo) irá certamente alargar ainda mais as fissuras políticas no seio da própria RENAMO” e antever o “recrudescimento do descontentamento entre os seus membros”, tal como Gustavo Mavie diz no seu artigo, pontapeia desavergonhadamente o compromisso para com a verdade e a precisão jornalística com que que ele deveria se orientar, se fosse efectivamente um jornalista digno desse nome. Com efeito, tanto o Venâncio Mondlane como o Manuel de Araújo foram efusiva e vigorosamente saudados pelos membros da Renamo, em Maputo e em Quelimane, respectivamente, tanto no dia da sua apresentação como no dia da sua eleição como cabeças-de-lista desse partido. E se assim o foram se deve, inequivocamente, ao facto de se constituírem como uma mais-valia para o partido e uma vantagem comparativa e competitiva de peso, nos seus círculos eleitorais, mais do que de qualquer outro membro novato ou veterano. Não há rigorosamente nada de errado nisso, para além de ser uma cartada política suis generis e que, potencialmente, servirá inteira e exclusivamente aos interesses da Renamo. Ninguém, fora da Renamo, tem ou pode ter opinião que vincule ou represente os seus membros. Pior o Gustavo Mavie.
A conduta promíscua de Gustavo Mavie como “gatekeeper” ideológico dos interesses de quem lhe paga os salários e o status de jornalista (?) sénior na praça, disseminando informações falsas, caluniosas e inverosímeis, enquadra-se no que, na era da Internet, se convencionou chamar de Fake News. Não há, claramente, nada de errado em se ser um jornalista horrível, como o Gustavo Mavie. É natural ser um pau mandado, sobretudo no contexto moçambicano. O que é mesmo de lamentar é o facto de o mesmo acontecer por toda sua a vida, como a principal qualidade de toda a carreira jornalística dele. E o facto de, mesmo na idade cronológica largamente avançada do Gustavo Mavie, continuar a ser um jornalista medíocre constituir a sua mais mediatizada competência.
Que vergonha, vovô Gustavo!
Na área do jornalismo, os “gatekeepers” são as pessoas responsáveis, nas redacções de órgãos de comunicação social, pela filtragem e edição do que pode (e do que não pode) ser divulgado como notícia para consumo público. Uma espécie de polícia da redacção. Em contextos onde a imprensa pública é política ou ideologicamente controlada, os “gatekeepers” são, na versão mais politizada do termo, autênticos porteiros da censura, guardando religiosamente as cancelas entre a verdade e a opinião pública. As suas atribuições profissionais passam a ser, por excelência, ocultar, distorcer, instrumentalizar, subverter ou manipular factos e percepções dos receptores da informação veiculada pela imprensa onde trabalham.
Os “gatekeepers” politizados agem desse modo condicionados não só pelo contexto estruturante ou organizacional em que trabalham (influenciados grandemente pela linha editorial imposta pelo regime que controla os órgãos de comunicação social onde prestam serviço) como também por determinantes idiossincráticos subjectivos (o que o “gatekeeper” acha que deve ser a sua conduta profissional).
Uma leitura rápida sobre as razões que explicam a conduta ideológica dos “gatekeepers” destaca, dentre outras, a luta pela sua sobrevivência (sobretudo quando se está consciente da sua incompetência e falta de competitividade profissional) e o desespero pela notoriedade do seu trabalho junto dos seus superiores hierárquicos (a busca de visibilidade como meio para eventual nomeação, recompensa ou retribuição futura). Assim sendo, tudo o que passa pelo crivo dos “gatekeepers” (notícias, artigos de opinião, comentário político, etc) passa a ser reflexo das diligências que este faz para não morrer à fome, para não cair no descrédito institucional ou para ser sempre “nomeável” para qualquer cargo de referência junto da mesa de quem detém o poder público do dia.
Em Moçambique, como em todo o mundo, existem inúmeros exemplares desse tipo de “gatekeepers”. O jornalista (?) Gustavo Mavie é apenas um deles. Em bom rigor, um jornalista que se preze tem sempre como principio orientador normas e procedimentos éticos bem definidos e universalmente comungados junto da classe a que pertence. Por exemplo, a relevância e utilidade pública do que se divulga. O último artigo da autoria de Gustavo Mavie, intitulado “Os Espermatozóides Políticos Moçambicanos”, onde ele ataca de forma insultuosa a saída de Venâncio Mondlane e de Manuel de Araújo do MDM, bem como a sua posterior adesão à Renamo, coloca em causa a qualidade e a credibilidade da sua condição de jornalista pretensamente sénior, com larga experiência nos corredores da imprensa moçambicana. O título do texto, só por si, já espelha a categoria vil em que o referido jornalista (?) faz escola. Para além de constituir um péssimo exemplo do que um jornalista deve ser, ao apresentar de forma grotesca os seus desequilíbrios de leitura e interpretação de factos, Gustavo Mavie fere, de modo dantesco e sucessivo, os pilares elementares da objectividade, da imparcialidade, da verdade e da precisão jornalísticas. Torna-se aterrador constatar que ele já esteve a comandar, por largos anos, a maior agência de informação pública de que Moçambique dispõe. Ou que continue a merecer espaço e audiência nos maiores órgãos de comunicação social públicos do país, pagos com os impostos da classe produtiva nacional.
Não é surpresa para ninguém que, em Moçambique, o jornalismo de propaganda tem em Gustavo Mavie o seu guru e principal fonte de inspiração, particularmente junto da cúpula mercenária que infesta a classe. Nem é de lamentar a fraude opinativa que sempre caracterizou as suas intervenções, ao longo da sua carreira. O que assusta mesmo é a imoralidade do seu legado para quem, junto da classe jornalística, também almeje chegar a dirigir uma agência de informação como a AIM, instituição de onde, aliás, o Gustavo Mavie foi exonerado por gestão danosa grave.
Com efeito, uma coisa é não concordar com as actuais dinâmicas de coesão e de desintegração em partidos políticos da oposição em Moçambique. Principalmente quando as mesmas dinâmicas não se reflectem no código de valores de militância que estruturam a condição de membro do partido no poder, onde o próprio Gustavo Mavie pertence. Outra coisa, bem distinta, é usar a capa e o legado de jornalista (?) para legitimar e impor à opinião pública matérias políticas encomendadas com finalidades claramente pejorativas e atentatórias ao bom nome e imagem dos visados no seu último artigo (como os de vários outros actores políticos por si vilipendiados ao longo da sua carreira). Dizer, por exemplo, que “só os incautos ou menos informados é que poderão votar mais por estes senhores (o Venâncio Mondlane e o Manuel de Araújo), porque está mais do que claro que eles não são movidos pela vontade de servir o povo como apregoam, mas de se servirem a si próprios e aos seus”, como a dado momento justifica o referido artigo assinado pelo Gustavo Mavie, é tão tendencioso que se chega a questionar se o próprio articulista vive mesmo em Moçambique… Manuel de Araújo, por exemplo, ainda não teve um único caso de corrupção movido contra a sua gestão no Município de Quelimane. Venâncio Mondlane idem, tanto na sua carreira profissional no Banco de Moçambique como na sua experiência política como membro da Assembleia Municipal de Maputo e como deputado da Assembleia da República (onde, de forma inusitada, abdicou das regalias, benesses e privilégios dessa condição para voltar a ser um cidadão comum e candidatar-se como cabeça-de-lista pela Renamo). Muito ao contrário da conduta de diversos Edis, entre passados e actuais, oriundos do partido de que Gustavo Mavie é membro.
Mais ainda, questionar “quando e onde foram (o Venâncio Mondlane e o Manuel de Araújo) eleitos como cabeças de lista?” só revela a grosseira distracção em que se movimenta este jornalista (?) sénior… O dia, a hora e o local em que estes concorreram e foram eleitos foram massiva e amplamente publicitados na própria imprensa de que o Gustavo Mavie foi (ou ainda é) um dos seus mais destacados polícias ideológicos. E todos os eventos tiveram cobertura recorde de imprensa, tanto dos órgãos de comunicação social públicos como dos privados, nacional e internacionalmente. Outrossim, a tentativa de dar a entender aos seus leitores que a “nomeação forçada (do Venâncio Mondlane e do Manuel de Araújo) irá certamente alargar ainda mais as fissuras políticas no seio da própria RENAMO” e antever o “recrudescimento do descontentamento entre os seus membros”, tal como Gustavo Mavie diz no seu artigo, pontapeia desavergonhadamente o compromisso para com a verdade e a precisão jornalística com que que ele deveria se orientar, se fosse efectivamente um jornalista digno desse nome. Com efeito, tanto o Venâncio Mondlane como o Manuel de Araújo foram efusiva e vigorosamente saudados pelos membros da Renamo, em Maputo e em Quelimane, respectivamente, tanto no dia da sua apresentação como no dia da sua eleição como cabeças-de-lista desse partido. E se assim o foram se deve, inequivocamente, ao facto de se constituírem como uma mais-valia para o partido e uma vantagem comparativa e competitiva de peso, nos seus círculos eleitorais, mais do que de qualquer outro membro novato ou veterano. Não há rigorosamente nada de errado nisso, para além de ser uma cartada política suis generis e que, potencialmente, servirá inteira e exclusivamente aos interesses da Renamo. Ninguém, fora da Renamo, tem ou pode ter opinião que vincule ou represente os seus membros. Pior o Gustavo Mavie.
A conduta promíscua de Gustavo Mavie como “gatekeeper” ideológico dos interesses de quem lhe paga os salários e o status de jornalista (?) sénior na praça, disseminando informações falsas, caluniosas e inverosímeis, enquadra-se no que, na era da Internet, se convencionou chamar de Fake News. Não há, claramente, nada de errado em se ser um jornalista horrível, como o Gustavo Mavie. É natural ser um pau mandado, sobretudo no contexto moçambicano. O que é mesmo de lamentar é o facto de o mesmo acontecer por toda sua a vida, como a principal qualidade de toda a carreira jornalística dele. E o facto de, mesmo na idade cronológica largamente avançada do Gustavo Mavie, continuar a ser um jornalista medíocre constituir a sua mais mediatizada competência.
Que vergonha, vovô Gustavo!
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