quarta-feira, 18 de julho de 2018
Fazer avançar Samora Jr. sem machucar Comiche
Agora que a Renamo carimbou sua aposta no Eng. Venâncio Mondlane, a liderança da Frelimo deve se desfazer de suas picardias domésticas e aprovar a candidatura de Samora Machel Jr. para a cidade de Maputo. Eneias Comiche era uma proposta compreensível no meio daquele emaranhado de candidaturas internas sem expressão na sociedade. Mas entre Samora e Comiche, quem tem condições para combater contra Venâncio é o primeiro. Comiche é uma reserva moral na gestão da cidade e devia seguir como tal.
Tem boa reputação no seio de boas franjas da sociedade urbana de Maputo. Foi o melhor presidente de camara da cidade desde a independência mas, com quase 80 anos, é improvável que ele consiga mobilizar o grosso do eleitorado jovem. Sua cruzada contra a corrupção foi de tal modo audaz que, ao invés de criar bolhas de integridade, atraiu a raiva dos pequenos caciques da Frelimo nos bairros, cuja acumulação estava atrelada na especulação da terra urbana. Há dois episódios marcantes do seu combate. A reprovação do certificado de habitabilidade do Maputo Shopping Center, da família MBS (desafiando uma família poderosa que financia a Frelimo), e o chumbo da construção do templo da IURD na Avenida Julius Nyerere, em 2004.
Comiche estava destinado a um segundo mandato. Mas foi encostado por Armando Guebuza. Sua escolha recente pela Comissão Politica, ignorando a directiva sobre as eleições internas, foi uma intromissão no processo normal na Frelimo. Um sinal de desnorte. Comiche não tem o apoio da bases e aceitou dar cara a essa intromissão. Samora Machel tem o suporte de cinco distritos urbanos, da OJM, da OMM e dos Combatentes. Mas há um problema: ele não tem a chancela da liderança do partido. Porque?
Porque, em 2014, quando o anterior SG da Frelimo Filipe Paunde declarou que havia três nomes (Nyusi, Pacheco e Vaquina) para suceder Guebuza como candidato presidencial do partido, Graça Machel fez parte de um movimento da Frelimo “lite” que escreveu um abaixo-assinado exigindo a abertura das eleições a mais candidatos. Luísa Diogo e Ayres Ali entraram no despique. Luísa Diogo passou para uma segunda volta contra Nyusi. E Graça deixou claro seu apoio a Luísa.
Este episódio está determinando uma certa relutância no apoio a Samora por parte da liderança, que é projecto para as eleições presidenciais de 2025. Sua passagem pela municipalidade de Maputo seria um trampolim para esse desiderato.
Mas o processo tem sido intricado. Samora atraiu algumas feras internas. Recentemente, uma mensagem superior lançada para as bases alertava para estas terem o cuidado e evitarem eleger candidatos com processos judiciais anticorrupção. Dias depois lá estava ele a ser chamado para o GCCC para ser ouvido sem razão aparente. Ele é socio minoritário duma empresa em conflito com o INSS mas, por regra, quem responde pelos actos de gestão são os gestores e não os accionistas. Foi bizarro ver o GCCC entrar nesse expediente. Samora saiu de cabeça erguida.
Agora que ele está na shortlist com Comiche, começou o escrutínio necessário à sua personalidade. Há quem poderá tentar ligá-lo aos trabalhos menos bons da GemFields, a rubi mining de Montepuez, em Cabo Delgado, mas Samora é apenas um Administrador não executivo. Ao longo dos anos sua postura tem sido discreta, preservando uma imagem imaculada, distante de negociatas e longe da demagogia. A 2 de Maio de 2012 ele deu uma entrevista ao SAVANA onde mostra seu pensamento político e sua visão de Moçambique, levando o sociólogo
Carlos Serra a apelidá-lo de herdeiro político de Machel. Quem convive com ele diz que Samora tem a meiguice de Josina (sua mãe) e a impulsão do pai. Ele não é um fracote. É um conciliador. Sereno mas bate no martelo quando se defronta com uma injustiça. Nas últimas semanas, ele tem estado a perceber com as diversas vereações qual é o estado clínico da cidade. Se ele chegar à edilidade, Maputo ganharia um presidente de camara com experiencia de gestão no sector privado, essencial para melhorar sua performance.
Na próxima semana, a Frelimo vai decidir. Se a imposição de Comiche vingar, a Frelimo terá menores chances de manter a edilidade. O despique esperado para as eleições de Maputo é entre dois jovens: Samora Machel Jr versus Venâncio Mondlane. Há uma percepção popular segundo a qual sangue novo é necessário. Comiche teria menos hipóteses que Samora.
Mas então como descalçar a bota desta imposição? É simples: a liderança da Frelimo e a Comissão Política tem de baixar seu super-ego. Para Comiche não sair machucado neste processo, ele devia endossar Samora Machel Jr. e apresentar-se como seu tutor. Uma espécie de casamento entre os dois nomes. Comiche apelando a seus eleitores e Samora buscando o voto maioritário da juventude. A pior humilhação para a liderança da Frelimo seria insistir em Comiche e entregar a cidade de Maputo de mãos beijadas à Renamo.
Sem comentários:
Enviar um comentário