03/06/2019
Por Major Manuel Bernardo Gondola
Foi por volta de 19[33]-19[35] que o termo Negritude inventado por Aimé Césaire 19[13]-20[08] foi introduzido nos circuitos literários europeus e franceses em particular.
Para Aimé Césare Negritude seria o gesto de [assumir] ser negro e ser consciente de uma história, de uma cultura e de uma identidade específica.
A ideia central da filosofia da Negritude assentava na premissa de que, os povos negro-africanos são portadores de uma herança sociocultural carregada de valores e tradições [vetustas] que é preciso revelar, fazer ressurgir e de que aqueles podem e devem tomar consciência e orgulhar-se. Neste âmbito, a revelação da Negritude implicava a recuperação da história africana, dos fenómenos culturais, como a filosofia banta, as artes plásticas, com destaque para a estatuária e a dança negro-africana ao patamar da memória colectiva.
Tratava-se de [reconceptualizar] num termo novo uma ideia que tinha já raízes profundas e que remontava, nas origens, à literatura de protesto africano-americana de finais do século XIX e início do século XX nos Estados Unidos [EU], como o Black to Africa Movimento [Movimento Negro para África] de Marcus Garvey, ou o movimento Black Renascence [Renascimento do Negro] de Langston Hughes, C. McKay, Jean Tooner.
Na Europa, a primeira literatura africanófila sob a égide dos estudantes antilhanos em Paris, especialmente a revista Legitime Defense [Defesa Legitima] e o jornal L’Étudiant Noir [Estudante Negro] com publicação a partir de 19[34], assumir-se-ia como porta-voz das ideias «negritudistas», de denúncia da assimilação europeia nos quais vão colaborar pensadores negros, mestiços e brancos como; Aimé Césaire, Senghor, Léon Damas e J.P.Sartre [filósofo francês] a que se juntará, depois da Segunda
Guerra mundial, a revista Présence Africaine [Presença Africana] como veículo comunicacional daquele movimento que proclamava a unidade cultural africana.
Foi por volta de 19[33]-19[35] que o termo Negritude inventado por Aimé Césaire 19[13]-20[08] foi introduzido nos circuitos literários europeus e franceses em particular.
Para Aimé Césare Negritude seria o gesto de [assumir] ser negro e ser consciente de uma história, de uma cultura e de uma identidade específica.
A ideia central da filosofia da Negritude assentava na premissa de que, os povos negro-africanos são portadores de uma herança sociocultural carregada de valores e tradições [vetustas] que é preciso revelar, fazer ressurgir e de que aqueles podem e devem tomar consciência e orgulhar-se. Neste âmbito, a revelação da Negritude implicava a recuperação da história africana, dos fenómenos culturais, como a filosofia banta, as artes plásticas, com destaque para a estatuária e a dança negro-africana ao patamar da memória colectiva.
Tratava-se de [reconceptualizar] num termo novo uma ideia que tinha já raízes profundas e que remontava, nas origens, à literatura de protesto africano-americana de finais do século XIX e início do século XX nos Estados Unidos [EU], como o Black to Africa Movimento [Movimento Negro para África] de Marcus Garvey, ou o movimento Black Renascence [Renascimento do Negro] de Langston Hughes, C. McKay, Jean Tooner.
Na Europa, a primeira literatura africanófila sob a égide dos estudantes antilhanos em Paris, especialmente a revista Legitime Defense [Defesa Legitima] e o jornal L’Étudiant Noir [Estudante Negro] com publicação a partir de 19[34], assumir-se-ia como porta-voz das ideias «negritudistas», de denúncia da assimilação europeia nos quais vão colaborar pensadores negros, mestiços e brancos como; Aimé Césaire, Senghor, Léon Damas e J.P.Sartre [filósofo francês] a que se juntará, depois da Segunda
Guerra mundial, a revista Présence Africaine [Presença Africana] como veículo comunicacional daquele movimento que proclamava a unidade cultural africana.
O movimento da Negritude, de que Aimé Césaire e Léopold Sédar Senghor assumem a paternidade histórica, trouxe, a partir de um conceito inicialmente [literário e antropológico], uma nova perspectiva de abordagem à dicotomia «colonizador-colonizado» que emergiria como matriz civilizacional e verdadeira ideologia política, ao defender que, a par de uma «humanidade branca», existe uma «humanidade negra», nenhuma subordinante ou subordinada à outra.
Esta «humanidade negra», comportaria uma dimensão sincretista civilizacional negra de natureza transversal, abarcando as dimensões culturais, económica, social e política. Contudo, se inicialmente o termo cunhado por Aimé Césaire e Léopold Senghor ganhara um significado [mágico] entre alguma intelectualidade europeia e fundamentalmente africana, enquanto elemento [ontológico e messianista] de uma nova filosofia Sartre que pugnava pelo «renascimento africano» e a «reabilitação da África», constituindo-se também como instrumento de combate à assimilação colonial, não tardaria a ser [criticada] por sectores ideológicos mais radicais e [marxistas], também eles messiânicos, empenhados no anticolonialismo revolucionário, como sendo uma mistificação que, sob a forma de «neocolonialismo», ao traduzir-se numa «maneira negra de ser branco», apenas retardaria a descolonização e a independência dos povos africanos. Mais do que uma [crítica] à Negritude, observa-se em seu redor uma clara tentativa de apropriação do movimento, que, em função disto, atravessou várias fases desde o seu aparecimento.
Foi movimento conservador a um tempo e [revolucionário] a outro; foi movimento literário, filosófico, antropológico e ideológico, atravessando diversas correntes políticas, com destaque para o cristianismo progressista e o marxismo. No seu seio cedo se identificariam estas diferentes correntes e percepções do Pan-africanismo intelectual: enquanto Aimé Césaire, de formação [marxista], evidenciava os aspectos culturais, ligando-se por esta via aos movimentos de “descolonização revolucionária”, Léopold Sédar Senghor, um [católico socialista], sublinhava o conteúdo político da
Negritude traduzido num conceito de “descolonização evolutiva”, não escapando por isso ao escrutínio ideológico marxista que o associaria ao neocolonialismo.
Ocorre ainda que é possível detectar conceitos diferenciados entre os mais destacados [marxistas], como Sekou Touré, que oscilou entre o [maoísmo e a ortodoxia soviética], ou entre o [marxismo] de Aimé Césaire e o do seu antigo aluno de liceu, o psiquiatra, ensaísta e o pensador negro revolucionário natural da Martinica Frantz Fanon 19[25]-19[61], tal como Aimé Césaire, natural da Martinica, onde contactou com outras figuras importantes do Pan-africanismo como Edouard Glissant [Martinica], C.L.R. James 19[01]- 198[9] e Eric Eustace Williams 19[11]-19[81] posteriormente primeiro-ministro de Trinidad e Tobago.
O Pan-africanismo de Frantz Fanon rejeitaria o conceito de Negritude e de “descolonização evolutiva”, no seu entender implícito também em Aimé Césaire, defendendo que só a [revolução], enquanto força libertadora do nativo e do seu complexo de inferioridade e desespero, restauraria a sua auto-estima autóctone, constituindo o único meio de acabar com a repressão colonial e o trauma cultural do Terceiro Mundo.
Em Pele Negra, Mascaras Brancas de 19[52], o seu primeiro livro publicado, Frantz Fanon, partindo de uma grelha de análise [marxista-leninista], analisa o impacto do colonialismo e seus efeitos deformantes nas sociedades colonizadas, argumentando que o colonialismo branco impôs às suas vítimas negras e colonizadas uma existência falsa e degradante por, através da [assimilação], impor a conformidade do colonizado aos valores distorcidos do colonizador.
A caminhada do Terceiro Mundo observa Frantz Fanon, obedece também ao esquema da luta de classes: ele seria, a História orientada para a libertação e para o progresso. Frantz Fanon segue esta linha de pensamento até à morte, em 19[61], com sua obra Os Condenados da Terra 19[61], com prefácio de J.P. Sartre, baseado na sua experiência na Argélia durante a guerra da independência, e que seria considerado um dos [documentos] centrais do movimento para a revolução negra.
Alimentando-se de anti-europeísmo, dá enfoque maior a uma perspectiva que vê no Terceiro Mundo uma fonte de renovação, um regresso à pureza original, um meio de [romper] com o que denuncia, em Os Condenados da Terra, ser a paragem, desde há séculos sob comando europeu, da progressão entre os homens, submetidos, no seu entender, aos desígnios e à glória de uma Europa que, em nome de uma pretensa “aventura espiritual”, abafava toda a humanidade conforme Frantz Fanon.
Esta ideia colheria [adeptos] noutros pensadores como Sartre, ou em individualidades comprometidas com o Terceiro Mundo, como o suíço Jean Ziegler autor do livro Sociologias da Nova África 19[64].
Fundamentalmente, o conceito de Negritude contrapunha ao «etnocentrismo europeu» a ideia do «relativismo cultural», embora alguns autores do Pan-africanismo intelectual radicalizassem a abordagem defendendo a ideia de uma anterioridade das civilizações negras, berço da humanidade, bem como o conceito científico de «egiptologia afrocentrada», o mesmo é dizer, postulando a ideia de que a civilização-berço do Egipto Antigo mais não era que uma civilização negro-africana Cheikh Anta Diop. Mas, na sua vertente moderada, o movimento da Negritude defendia um posicionamento [anti-racista] das elites cultas de origem africana a quem caberia alimentar a luta contra a colonização europeia num quadro ideológico cultural pan-africanista, situando os novos países africanos no contexto do terceiro-mundismo, mas que não deveria excluir a [perspectiva multirracial].
O aparecimento da revista Présence Africaine 19[47] constituiu nesta matéria um marco, ao declarar-se aberta à colaboração multirracial de brancos, mestiços e negros, posição que se traduziria na revitalização do Pan-africanismo intelectual em que tomariam parte intelectuais luso-africanos de expressão portuguesa.
Por outro lado, o fenómeno da Negritude atravessou outras sociedades e países europeus com tradição e passado imperial e colonial, como Espanha, Itália, Grã- Bretanha, Brasil e Portugal, onde se destacaram o santomense Francisco Tenreiro, os angolanos Mário Pinto de Andrade e Agostinho Neto e os moçambicanos
Marcelino dos Santos e Castro Soromenho este último com maior ligação aos sincretismos culturais de Angola, onde viveu.
Francisco Tenreiro terá sido o [precursor] do movimento da Negritude em Portugal 19[42] com o seu livro de poesia Ilha do Nome Santo. Em 19[53], com Mário Pinto de Andrade, publica uma colectânea de poesias representativas da Negritude Primeiro Caderno de Poesia Negra de Expressão Portuguesa, que Mário Pinto de Andrade ampliaria em Paris 19[58] com o título de Antologia da Poesia Negra de Expressão portuguesa.
Outro autor da Negritude de expressão portuguesa é Alfredo Margarido, nascido em Portugal mas emigrado para São Tomé e Príncipe e posteriormente para Angola, que cedo captou a [hostilidade] do Governo-geral de Angola, que determinou a sua [expulsão], acabando por se fixar em Paris, onde se integraria nos movimentos de extrema-esquerda dedicando-se aos problemas africanos e da sociologia da literatura. A ele se deve o ensaio Negritude e Humanismo 19[64] publicado, no ano da sua [expulsão], em Portugal pela Casa dos Estudantes do Império, alfobre de futuros.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, 02 de Junho 2019
Esta «humanidade negra», comportaria uma dimensão sincretista civilizacional negra de natureza transversal, abarcando as dimensões culturais, económica, social e política. Contudo, se inicialmente o termo cunhado por Aimé Césaire e Léopold Senghor ganhara um significado [mágico] entre alguma intelectualidade europeia e fundamentalmente africana, enquanto elemento [ontológico e messianista] de uma nova filosofia Sartre que pugnava pelo «renascimento africano» e a «reabilitação da África», constituindo-se também como instrumento de combate à assimilação colonial, não tardaria a ser [criticada] por sectores ideológicos mais radicais e [marxistas], também eles messiânicos, empenhados no anticolonialismo revolucionário, como sendo uma mistificação que, sob a forma de «neocolonialismo», ao traduzir-se numa «maneira negra de ser branco», apenas retardaria a descolonização e a independência dos povos africanos. Mais do que uma [crítica] à Negritude, observa-se em seu redor uma clara tentativa de apropriação do movimento, que, em função disto, atravessou várias fases desde o seu aparecimento.
Foi movimento conservador a um tempo e [revolucionário] a outro; foi movimento literário, filosófico, antropológico e ideológico, atravessando diversas correntes políticas, com destaque para o cristianismo progressista e o marxismo. No seu seio cedo se identificariam estas diferentes correntes e percepções do Pan-africanismo intelectual: enquanto Aimé Césaire, de formação [marxista], evidenciava os aspectos culturais, ligando-se por esta via aos movimentos de “descolonização revolucionária”, Léopold Sédar Senghor, um [católico socialista], sublinhava o conteúdo político da
Negritude traduzido num conceito de “descolonização evolutiva”, não escapando por isso ao escrutínio ideológico marxista que o associaria ao neocolonialismo.
Ocorre ainda que é possível detectar conceitos diferenciados entre os mais destacados [marxistas], como Sekou Touré, que oscilou entre o [maoísmo e a ortodoxia soviética], ou entre o [marxismo] de Aimé Césaire e o do seu antigo aluno de liceu, o psiquiatra, ensaísta e o pensador negro revolucionário natural da Martinica Frantz Fanon 19[25]-19[61], tal como Aimé Césaire, natural da Martinica, onde contactou com outras figuras importantes do Pan-africanismo como Edouard Glissant [Martinica], C.L.R. James 19[01]- 198[9] e Eric Eustace Williams 19[11]-19[81] posteriormente primeiro-ministro de Trinidad e Tobago.
O Pan-africanismo de Frantz Fanon rejeitaria o conceito de Negritude e de “descolonização evolutiva”, no seu entender implícito também em Aimé Césaire, defendendo que só a [revolução], enquanto força libertadora do nativo e do seu complexo de inferioridade e desespero, restauraria a sua auto-estima autóctone, constituindo o único meio de acabar com a repressão colonial e o trauma cultural do Terceiro Mundo.
Em Pele Negra, Mascaras Brancas de 19[52], o seu primeiro livro publicado, Frantz Fanon, partindo de uma grelha de análise [marxista-leninista], analisa o impacto do colonialismo e seus efeitos deformantes nas sociedades colonizadas, argumentando que o colonialismo branco impôs às suas vítimas negras e colonizadas uma existência falsa e degradante por, através da [assimilação], impor a conformidade do colonizado aos valores distorcidos do colonizador.
A caminhada do Terceiro Mundo observa Frantz Fanon, obedece também ao esquema da luta de classes: ele seria, a História orientada para a libertação e para o progresso. Frantz Fanon segue esta linha de pensamento até à morte, em 19[61], com sua obra Os Condenados da Terra 19[61], com prefácio de J.P. Sartre, baseado na sua experiência na Argélia durante a guerra da independência, e que seria considerado um dos [documentos] centrais do movimento para a revolução negra.
Alimentando-se de anti-europeísmo, dá enfoque maior a uma perspectiva que vê no Terceiro Mundo uma fonte de renovação, um regresso à pureza original, um meio de [romper] com o que denuncia, em Os Condenados da Terra, ser a paragem, desde há séculos sob comando europeu, da progressão entre os homens, submetidos, no seu entender, aos desígnios e à glória de uma Europa que, em nome de uma pretensa “aventura espiritual”, abafava toda a humanidade conforme Frantz Fanon.
Esta ideia colheria [adeptos] noutros pensadores como Sartre, ou em individualidades comprometidas com o Terceiro Mundo, como o suíço Jean Ziegler autor do livro Sociologias da Nova África 19[64].
Fundamentalmente, o conceito de Negritude contrapunha ao «etnocentrismo europeu» a ideia do «relativismo cultural», embora alguns autores do Pan-africanismo intelectual radicalizassem a abordagem defendendo a ideia de uma anterioridade das civilizações negras, berço da humanidade, bem como o conceito científico de «egiptologia afrocentrada», o mesmo é dizer, postulando a ideia de que a civilização-berço do Egipto Antigo mais não era que uma civilização negro-africana Cheikh Anta Diop. Mas, na sua vertente moderada, o movimento da Negritude defendia um posicionamento [anti-racista] das elites cultas de origem africana a quem caberia alimentar a luta contra a colonização europeia num quadro ideológico cultural pan-africanista, situando os novos países africanos no contexto do terceiro-mundismo, mas que não deveria excluir a [perspectiva multirracial].
O aparecimento da revista Présence Africaine 19[47] constituiu nesta matéria um marco, ao declarar-se aberta à colaboração multirracial de brancos, mestiços e negros, posição que se traduziria na revitalização do Pan-africanismo intelectual em que tomariam parte intelectuais luso-africanos de expressão portuguesa.
Por outro lado, o fenómeno da Negritude atravessou outras sociedades e países europeus com tradição e passado imperial e colonial, como Espanha, Itália, Grã- Bretanha, Brasil e Portugal, onde se destacaram o santomense Francisco Tenreiro, os angolanos Mário Pinto de Andrade e Agostinho Neto e os moçambicanos
Marcelino dos Santos e Castro Soromenho este último com maior ligação aos sincretismos culturais de Angola, onde viveu.
Francisco Tenreiro terá sido o [precursor] do movimento da Negritude em Portugal 19[42] com o seu livro de poesia Ilha do Nome Santo. Em 19[53], com Mário Pinto de Andrade, publica uma colectânea de poesias representativas da Negritude Primeiro Caderno de Poesia Negra de Expressão Portuguesa, que Mário Pinto de Andrade ampliaria em Paris 19[58] com o título de Antologia da Poesia Negra de Expressão portuguesa.
Outro autor da Negritude de expressão portuguesa é Alfredo Margarido, nascido em Portugal mas emigrado para São Tomé e Príncipe e posteriormente para Angola, que cedo captou a [hostilidade] do Governo-geral de Angola, que determinou a sua [expulsão], acabando por se fixar em Paris, onde se integraria nos movimentos de extrema-esquerda dedicando-se aos problemas africanos e da sociologia da literatura. A ele se deve o ensaio Negritude e Humanismo 19[64] publicado, no ano da sua [expulsão], em Portugal pela Casa dos Estudantes do Império, alfobre de futuros.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, 02 de Junho 2019
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