Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Daí tanta resistência visando normalizar e democratizar.
Olhando em volta e procurando descobrir ou entender o que trava e impede que os moçambicanos se comportem como irmãos vivendo e compartilhando o seu país, várias podem ser as respostas encontradas. O assunto não é linear nem simples.
Mas, se procurarmos com olhos de ver, descobriremos que quem governava e governa apossou-se dos recursos nacionais públicos e passou a negociá-los como se lhe pertencessem.
A derrocada de valores éticos e morais acompanha a política de maneira visível e irrefutável.
Enriquecer tornou-se o verbo praticado sem olhar-se aos meios para o seu alcance.
Os escandalosos contratos assinados com as corporações multinacionais para a exploração de recursos minerais em Moçambique não são produto de falta de conhecimentos específicos.
Concessões mineiras carboníferas mudam de mãos aparentemente sem que as autoridades moçambicanas tivessem conhecimento prévio e com contrapartidas financeiras de vulto negociadas sem que ninguém do Governo soubesse. Depois de notícias correrem o mundo a partir de capitais estrangeiras, houve uma tentativa ténue de avaliar o que se tinha perdido. A “água entornada na areia não se recupera”.
É de dimensão financeiramente danosa a forma como o gás de Pande-Temane é vendido. Moçambique praticamente oferece de borla um recurso valioso que poderia estar fazendo a diferença para milhares de moçambicanos.
Quem
oferece, afinal? Se formos a verificar, são os mesmos que deveriam cuidar da
coisa pública por inerência das suas funções.
A nomenclatura que se edificou, inicialmente de cariz e origem política, tomou as rédeas do “procurement”, das consultorias e das assessorias. Mesmo sabendo que se está prejudicando o país a médio e longo prazo, aconselha-se o Governo a entrar em negócios nebulosos e de utilidade duvidosa.
Uma nomenclatura clamando o estatuto de elite, mas vivendo de “golpadas ou boiadas”, está arruinando o futuro de milhões de concidadãos, para benefício privado.
Numa situação normal e com os meios humanos e materiais existentes, o fenómeno da caça furtiva não estaria dizimando elefantes no país. Há compadrios que permitem que o crime contra a fauna e flora aconteçam, floresçam.
É preciso descobrir que as crises financeiras, políticas e outras têm causas próprias, embora politicamente sejam declaradas tabus, matéria de abordagem proibida.
Se em outros países se fala de “diamantes de sangue”, nós também temos o nosso rubi de sangue, o nosso gás de sangue, o nosso carvão de sangue.
A voracidade e o egoísmo exacerbado da nomenclatura moçambicana estão colocando compatriotas na rota da colisão.
Nomenclatura putrefacta, montada em regalias históricas em função da sua participação na gesta de libertação nacional, terá parado no tempo e não concebe um Moçambique em que as regras do jogo político sejam as mesmas para todos.
Tudo o que fazem e apregoam é a partir de posições de irredutibilidade.
No Parlamento, discursam insultuosamente, como se os seus pares da oposição não fossem moçambicanos com os mesmos direitos que eles.
Na máquina de governação estatal, ocupam posições de relevo e tratam tudo como se fosse mais uma célula do seu partido, em que cumprir as orientações da cúpula é factor primordial de promoção e sucesso na carreira.
Não vale a pena esperar que surjam milagrosamente entendimentos quando as opções apontam para a radicalização das partes. Impera um sentimento de que não se pode ceder nem um centímetro, pois isso traria como consequência o desmoronamento das suas fortunas.
Há um medo tão grande da normalidade governativa e da separação dos poderes democráticos como o “diabo da cruz”.
No fim, pode-se dizer que o país sofre de falta de liderança visionária e comprometida com os mais altos interesses da nação.
Uma liderança que coloque a agenda nacional como a prioridade das prioridades. E não há agenda nacional sem paz efectiva.
Se a nomenclatura é incapaz de se transformar em elite no seu verdadeiro sentido, continuaremos a ter problemas, porque o privado é colocado em posição cimeira. Andamos fingindo que o país se desenvolve, mas, na realidade, estamos regredindo com o aumento do fosso entre os poucos que têm tudo e a larga maioria que nada tem.
As passeatas internacionais e regionais pagas com fundos públicos alavancam negócios para os “compadres e afilhados”, mas não trazem o desenvolvimento apregoado. Há uma visão curta e de avestruz que está condenando país a uma regressão descomunal.
Enquanto se procura dar um ar de normalidade transmitida pelos canais televisivos e jornais, o país não anda nem desanda.
Moçambique não pode ser o paraíso dos “espertalhões”, dos conectados e dos especiais.
O país requer uma terapia construída por coragem e decisão de assumirmos como cidadãos as nossas obrigações e deveres.
Faltam reservas morais e políticas, que temos, embora titubeantes e, por vezes, amordaçadas.
Não se pede perfeição, mas já é hora de se mostrar sem sombra de dúvidas que o modelo eleito pela nomenclatura moçambicana não tem pernas para andar.
Os conluios e arranjos que terão sido feitos são lesa-pátria a partir do momento em que privilegiam o açambarcamento da iniciativa nacional a favor da concretização de uma agenda de venda ao desbarato do país e dos seus recursos.
É vergonhoso que um país portentoso esteja importando alimentos básicos após 40 anos de Independência.
Experiências positivas do passado estão sendo recicladas e denominadas novidades, como se vê no sector agrário, mas o que realmente são alavancarem mecanismos de acumulação privada utilizando fundos públicos. Quando nos dizem que os silos construídos com fundos públicos não estão tendo impacto e adesão, e depois nos dizem que estão trazendo uma nova Mecanagro, é mentir aos moçambicanos, pois o que dizem é que não sustentabilidade derivada da concepção original do negócio.
Crescer e desenvolver tem os seus condicionalismos e ignorando que os beneficiários das decisões políticas devem ser os cidadãos em geral e não um grupo especial de cidadãos não é o caminho a seguir.
É preciso trazer-se coragem e temeridade para o palco principal e não se regatear o que deve ser feito por todos.
Os actores sociopolíticos existem e devem ser respeitados num quadro legal democrático.
É preciso travar-se a onda das golpadas e desmentir com factos, mais do que demagogia, uma onda de assalto aos fundamentos da convivência nacional.
Quando se fala de alinhamentos políticos favorecendo uma prévia linha de sucessão arquitectada nos corredores do antes movimento de libertação, estamos embarcando numa viagem perigosa. O problema de Moçambique não é, em si, Filipe Jacinto Nyusi como PR, mas os que impedem que ele exerça as suas funções na plenitude e de acordo com o estatuído na CRM.
Afonso Dlahkama já reconheceu que, mesmo com os monumentais elementos comprovativos de fraude eleitoral, aceita que se encontrem soluções para preservar a governabilidade dessa qualidade, pelo que se deve abandonar pretensões de seguir o exemplo angolano, onde houve uma segunda volta que jamais se realizou. Se JES está no poder hoje, foi porque a segunda volta das presidenciais com Jonas Malheiro Savimbi não se realizou, e, em Moçambique, os órgãos eleitorais aprimoraram os dados para que essa hipótese não existisse.
Por favor, compatriotas, deixar definitivamente de tomar os outros por parvos. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 12.11.2015
A nomenclatura que se edificou, inicialmente de cariz e origem política, tomou as rédeas do “procurement”, das consultorias e das assessorias. Mesmo sabendo que se está prejudicando o país a médio e longo prazo, aconselha-se o Governo a entrar em negócios nebulosos e de utilidade duvidosa.
Uma nomenclatura clamando o estatuto de elite, mas vivendo de “golpadas ou boiadas”, está arruinando o futuro de milhões de concidadãos, para benefício privado.
Numa situação normal e com os meios humanos e materiais existentes, o fenómeno da caça furtiva não estaria dizimando elefantes no país. Há compadrios que permitem que o crime contra a fauna e flora aconteçam, floresçam.
É preciso descobrir que as crises financeiras, políticas e outras têm causas próprias, embora politicamente sejam declaradas tabus, matéria de abordagem proibida.
Se em outros países se fala de “diamantes de sangue”, nós também temos o nosso rubi de sangue, o nosso gás de sangue, o nosso carvão de sangue.
A voracidade e o egoísmo exacerbado da nomenclatura moçambicana estão colocando compatriotas na rota da colisão.
Nomenclatura putrefacta, montada em regalias históricas em função da sua participação na gesta de libertação nacional, terá parado no tempo e não concebe um Moçambique em que as regras do jogo político sejam as mesmas para todos.
Tudo o que fazem e apregoam é a partir de posições de irredutibilidade.
No Parlamento, discursam insultuosamente, como se os seus pares da oposição não fossem moçambicanos com os mesmos direitos que eles.
Na máquina de governação estatal, ocupam posições de relevo e tratam tudo como se fosse mais uma célula do seu partido, em que cumprir as orientações da cúpula é factor primordial de promoção e sucesso na carreira.
Não vale a pena esperar que surjam milagrosamente entendimentos quando as opções apontam para a radicalização das partes. Impera um sentimento de que não se pode ceder nem um centímetro, pois isso traria como consequência o desmoronamento das suas fortunas.
Há um medo tão grande da normalidade governativa e da separação dos poderes democráticos como o “diabo da cruz”.
No fim, pode-se dizer que o país sofre de falta de liderança visionária e comprometida com os mais altos interesses da nação.
Uma liderança que coloque a agenda nacional como a prioridade das prioridades. E não há agenda nacional sem paz efectiva.
Se a nomenclatura é incapaz de se transformar em elite no seu verdadeiro sentido, continuaremos a ter problemas, porque o privado é colocado em posição cimeira. Andamos fingindo que o país se desenvolve, mas, na realidade, estamos regredindo com o aumento do fosso entre os poucos que têm tudo e a larga maioria que nada tem.
As passeatas internacionais e regionais pagas com fundos públicos alavancam negócios para os “compadres e afilhados”, mas não trazem o desenvolvimento apregoado. Há uma visão curta e de avestruz que está condenando país a uma regressão descomunal.
Enquanto se procura dar um ar de normalidade transmitida pelos canais televisivos e jornais, o país não anda nem desanda.
Moçambique não pode ser o paraíso dos “espertalhões”, dos conectados e dos especiais.
O país requer uma terapia construída por coragem e decisão de assumirmos como cidadãos as nossas obrigações e deveres.
Faltam reservas morais e políticas, que temos, embora titubeantes e, por vezes, amordaçadas.
Não se pede perfeição, mas já é hora de se mostrar sem sombra de dúvidas que o modelo eleito pela nomenclatura moçambicana não tem pernas para andar.
Os conluios e arranjos que terão sido feitos são lesa-pátria a partir do momento em que privilegiam o açambarcamento da iniciativa nacional a favor da concretização de uma agenda de venda ao desbarato do país e dos seus recursos.
É vergonhoso que um país portentoso esteja importando alimentos básicos após 40 anos de Independência.
Experiências positivas do passado estão sendo recicladas e denominadas novidades, como se vê no sector agrário, mas o que realmente são alavancarem mecanismos de acumulação privada utilizando fundos públicos. Quando nos dizem que os silos construídos com fundos públicos não estão tendo impacto e adesão, e depois nos dizem que estão trazendo uma nova Mecanagro, é mentir aos moçambicanos, pois o que dizem é que não sustentabilidade derivada da concepção original do negócio.
Crescer e desenvolver tem os seus condicionalismos e ignorando que os beneficiários das decisões políticas devem ser os cidadãos em geral e não um grupo especial de cidadãos não é o caminho a seguir.
É preciso trazer-se coragem e temeridade para o palco principal e não se regatear o que deve ser feito por todos.
Os actores sociopolíticos existem e devem ser respeitados num quadro legal democrático.
É preciso travar-se a onda das golpadas e desmentir com factos, mais do que demagogia, uma onda de assalto aos fundamentos da convivência nacional.
Quando se fala de alinhamentos políticos favorecendo uma prévia linha de sucessão arquitectada nos corredores do antes movimento de libertação, estamos embarcando numa viagem perigosa. O problema de Moçambique não é, em si, Filipe Jacinto Nyusi como PR, mas os que impedem que ele exerça as suas funções na plenitude e de acordo com o estatuído na CRM.
Afonso Dlahkama já reconheceu que, mesmo com os monumentais elementos comprovativos de fraude eleitoral, aceita que se encontrem soluções para preservar a governabilidade dessa qualidade, pelo que se deve abandonar pretensões de seguir o exemplo angolano, onde houve uma segunda volta que jamais se realizou. Se JES está no poder hoje, foi porque a segunda volta das presidenciais com Jonas Malheiro Savimbi não se realizou, e, em Moçambique, os órgãos eleitorais aprimoraram os dados para que essa hipótese não existisse.
Por favor, compatriotas, deixar definitivamente de tomar os outros por parvos. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 12.11.2015
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