"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



terça-feira, 10 de novembro de 2015

Carta Aberta ao Chefe de Estado! - por Manuel de Araújo

 


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Sua Excia Filipe Jacinto Nyussi,
Presidente da Republica de Moçambique,
Excia,
Esta e a primeira carta que me digno a escrever-lhe na minha cívica qualidade de cidadão comum, residente no Município de Quelimane, que em virtude da proclamação dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional, tenho em si, o Presidente da jovem nação!
Escrevo-lhe, para partilhar com V.Excia o que me vai na alma, e suponho, o que vai na alma de alguns, mesmo que poucos moçambicanos!
Excia, perdoe-me se o ofender, mas essa não é minha intenção, pelo contrário!
Dizia eu, Excia que apesar da forma como decorreram as eleições de 2014, sou daqueles que aceitaram a 'verdade' legal e material emanada pelo Conselho Constitucional! Assim sendo, considero-o como o mais Alto Magistrado da Nação, pai de todos os moçambicanos e aquele que deveria ter de facto e de juri 'um coração onde caberiam todos os moçambicanos'!
Infelizmente Excia, depois de ter proferido aquele que considero ter sido o melhor discurso alguma vez feito por um Chefe de Estado Moçambicano desde 1975 (sou leitor e coleccionador de discursos de Chefes de Estado), tenho notado que, salvo raras vezes, o Chefe de Estado tem-se distanciado cada vez mais desse discurso ou como os Bispos Católicos souberam colocar, notam-se 'incoerências entre o discurso e a praxis'!
Excia, no seu discurso de tomada de posse (que recomendo que o releia e convoque uma sessão de estudo do Conselho de Ministros extensivo aos Governadores Provinciais e Embaixadores de Moçambique no exterior), soube ser o pai de todos os moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do ao Indico!
Nesse histórico discurso (só para lhe reavivar a memoria, pois sei que a Sua Agenda não lhe tem dado muito tempo para rele-lo), Excia disse inter alia, o seguinte (em 10 pontos):
1-'Que naquele dia, iniciávamos uma importante etapa do nosso percurso histórico como Povo e como Nação" que levaria "Moçambique a um novo patamar de Harmonia e Desenvolvimento (e colocou as palavras harmonia e desenvolvimento em letras maiúsculas).
2-Que era com elevada honra e a maior humildade que 'assumia a Alta Magistratura do Estado e da Nação'...
3-Que saudava a todos os moçambicanos pela sua participação no sucesso da democracia e que naquele momento, pouco importava a 'opção politica, ideológica ou religiosa de cada um'. Reafirmou que assumia as funções como 'Presidente de todos os moçambicanos, disposto e disponível a escutar todos os sectores da opinião publica'. Sublinhou que 'O povo' (em minúsculas) era o seu 'patrão' (também em minúsculas) e que o seu compromisso era de servir o povo moçambicano como seu 'único e exclusivo patrão'. Disse que o seu 'compromisso é de respeitar e fazer respeitar a Constituição e as Leis de Moçambique e que estava pronto e confiante que, 'juntos, iriamos construir o bem-estar do nosso povo e um futuro risonho para as nossas crianças.
5-Afirmou Excia que representava 'uma nova geração, uma geração que recebe um legado repleto de enormes sucessos e de exaltantes desafios. Recordou-nos que repousava 'sobre todos nós, de todas as gerações a responsabilidade de preservar as conquistas alcançadas pelo nosso povo..'.
6-Sublinhou que 'a riqueza desse legado histórico' fundamentava-se em três conquistas principais:
-A Independência Nacional (...)
-A Unidade Nacional (...)
-A Paz, condição primária para a estabilidade politica, desenvolvimento económico, harmonia e equidade social.
7-Afirmou que era (...) preciso consolidar a Paz como um valor presente na vida de cada cidadão, cada família e em todos os cantos do território nacional. Que deveria ser 'inabalável a certeza de que nunca mais os moçambicanos viverão sob a ameaça do medo e o espectro das armas' e convidou a 'todos actores sociais, desde a família, as confissões religiosas, sociedade civil, os partidos políticos, as instituições de ensino e de pesquisa, a participar activamente na educação dos cidadãos e na consolidação de uma cultura nacional de dialogo e de harmonia.
8-Afirmou que como Chefe de Estado primaria pela 'abertura ao diálogo construtivo com todas as forcas politicas e organizações cívicas para promover a concórdia. Assegurou-nos que poderíamos estar certos (...) que tudo faria para que, em Moçambique, jamais, irmãos se voltassem contra irmãos fosse a que pretexto fosse.
9-Jurou defender de forma vigorosa os direitos humanos, em particular o direito a vida e as liberdades fundamentais do homem.
11-Reconheceu que (...) 'a construção de uma sociedade de inclusão exigia não apenas discursos e declarações de intenções'. Prometeu trabalhar para tornar 'mais visível e real a inclusão de que todos falamos e tanto ansiamos. Prometeu que estaria aberto a acolher propostas e ideias de outros partidos visando a promoção da tranquilidade e desenvolvimento do Moçambique. Reafirmou que as boas ideias não tinham cor partidária e que as boas ideias tinham uma única medida, que e o amor pela nossa pátria e pelo nosso destino comum (...)
Excia, como pode ver estas palavras não são minhas! São de Vossa Excia e nao as disse em surdina, mas sim na cerimónia mais importante da vida de Vossa Excia e na presença não só de milhares de moçambicanos mas também de a dos órgãos de soberania, e de altas figuras de outros países, portanto estas palavras Excia, fazem parte do juramento que solenemente fez e testemunhamos, por isso, tem a obrigação de cumpri-lo a risca! Ouvimo-lo ler este discurso e saudamos vossa Excia pela coragem! Que saibamos, ninguém obrigou vossa Excia a ler este discurso! Tendo já ganho as eleições, poderia não ter lido discurso nenhum ou até poderia ter lido um discurso contrário ao que leu! O que não aceitamos e que nos venda raposa por lebre, porque não fui eu quem disse que 'estava pronto' para o desafio! Senão vejamos:
Excia disse que o povo era seu patrão e que no seu coração cabiam todos os moçambicanos! hoje vemos que afinal de contas o seu coração e tao pequeno que so cabem os seus amigos e filhos e filhas deles, os amigos e familiares da sua estimada esposa, os amigos dos CFM para alem dos amigos do velho Chipande!
Prometeu inclusão, e o que temos e exclusão! O seu governo e uma prova do que acabo de dizer!
Prometeu respeitar os direitos humanos especialmente o direito a vida, mas parece que há moçambicanos da primeira com direitos e da segunda sem esses direitos! Os vídeos que a TIM e a STV nos tem mostrado sob o cúmplice silêncio da Comissão Nacional dos Direitos Humanos são disso prova!
Apos os incidentes de Manica dia 7 de Setembro e 25 de setembro e da Beira a 9 de Outubro de 2015, esperávamos ver o seu coração a lacrimejar pelas vidas ceifadas e que jurou poupar mas ouvimos apenas o rajar do seu silêncio ensurdecedor!
Disse que se ajoelharia para manter a paz mas na reunião com os Bispos fez lembrar que como Presidente queria que fossem os outros a se ajoelharem perante si!
E finalmente quando a conferência episcopal lhe mostrou o que ia mal, ao invés de escutar e agradecer como prometera no seu discurso inaugural, ripostou dizendo que sabia o que estava mal e queria eram os caminhos para a solução dos problemas!
Excia, por mais falhas humanas que tenhamos, registe-se que a Diplomacia Católica e a mais velha instituição diplomática vigente! Cumpre-nos como humanos, sabermos ouvir os seus recados e antes de respondermos as irritações cutâneas de momento urge que saibamos consultar os nossos Conselheiros, Assessores e Assistentes pois eles são pagos para isso mesmo: para o Aconselharem, Assessorarem-no e Assisti-lo para que possa cumprir com aquilo que eles escreveram e 'mandaram' ler no dia da Tomada de Posse!
A PAZ não se preserva e nem se busca em televisões publicas! O PR foi a reunião com os Bispos 'despreparado'! Não leu os dossiers que Chissano e a '10 de Novembro' tem sobre o papel da conferência Episcopal na busca da Paz em Moçambique, não leu as Cartas dos Bispos dos últimos 40 anos e não se apercebeu da presença de Dom Jaime entre os presentes! Os seus conselheiros não fizeram o TPC, não lhe explicaram o contexto e muito menos o prepararam para o embate que viria! O resultado foi o circo que se viu, com o PR a mandar recados via imprensa, e pior a contradizer-se em duas ocasiões num mesmo discurso (há duas semanas dissera ele próprio que as conversações estavam bem encaminhadas, ontem veio dizer que falava com crianças do lado da Renamo e a Chefe de Bancada da Renamo já o havia tirado o tapete dias antes! Como e que um Chefe de Estado 'desdiz-se'? Afinal há dialogo ou não há senhor Presidente?
O Chefe de Estado e seus Conselheiros não perceberam que os Bispos vinham dizer que nos podemos ajudar? Que se não consegue falar com Dhlakama nós conseguimos? Ou seja que a solução passava pelo envolvimento de mediadores sérios e capazes e que esses mediadores estavam ali mesmo naquela majestosa sala a dois metros do Chefe de Estado. O chefe de Estado não viu a solução, ou não quer?
NB. Qual e a imperiosidade de ir a Angola quando o país esta para arder? A coincidência desta visita com a Declaração Oficial de Guerra feita pelo Ministro do Interior no Parlamento e repetida várias vezes pelo Comandante Geral da PRM, significa que a opção da estratégia Savimbi vincou? E mais, onde esta a nossa auto-estima? Nos nossos 40 anos de Independência, Angola mandou o seu vice-Presidente! Será que o nosso PR se equivale ao Vice Presidente de Angola? E que em diplomacia reina o principio da reciprocidade! Não avisaram ao Chefão? O Ministro do Interior e o comandante da PRM cumprem ordens do PR ou do PR Sombra? Será esta a prova material que faltava no discurso dos bispos sobre a 'incoerência entre discursos e ações praticas'
Ainda tenho esperança de que V. Excia recuperara a prática e o espírito do Discurso de Tomada de Posse e saberá aproveitar a oportunidade oferecida pela Conferência Episcopal de Moçambique.
Sem magoas,
Atenciosamente,
Manuel de Araújo
Cidadão Comum Residente no Município de Quelimane
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