O Aeroporto de Nacala, situado na província de Nampula, ainda não apresenta sinais de rentabilidade financeira. Os gestores daquela moderna infra-estrutura, a empresa Aeroportos de Moçambique (ADM), prevêem que só a partir do primeiro trimestre de próximo ano se comece a rentabilizar o investimento realizado.
Segundo Emanuel Chaves, presidente do Conselho de Administração da Empresa Aeroportos de Moçambique, pretende-se transformar aquela infra-estrutura numa plataforma aeroportuária giratória, onde as aeronaves de longo curso podem escalar e, a partir daquele ponto, os passageiros serem encaminhados para os mais variados destinos.
Chaves disse que se espera que no Aeroporto de Nacala seja feito o trânsito de passageiros oriundos de vários locais, como Nairobi, Adis-Abeba, Luanda, Ásia, Médio Oriente, América e Europa.
Tal como referiu, trata-se de uma ambição que não está a ser equacionada do nada. Assenta num conceito baseado em determinadas realidades, como a situação económica que Moçambique atravessa neste momento.
“O crescimento económico de Moçambique é muito importante, uma vez que dá indicadores ao empresariado de que o nosso país é apetecível para o investimento. Para virem investir precisam de transporte aéreo”, disse, tendo acrescentado que a existência de recursosminerais, como carvão, grafite, ouro, ferro, vai contribuir sobremaneira para que os investidores voem com mais frequência para Moçambique.
“O recurso gás também chama muita gente e gera muito recurso financeiro. São elementos que vão melhorar a renda per capita do país. Está previsto que Moçambique, até 2030, tenha uma renda per capita entre 2.000 e 2.300 dólares. Se isso acontecer, estaremos nas mesmas condições de muitos países que têm 18 milhões de passageiros em cada aeroporto”.
Para além da componente económica, sustentou que o potencial turístico de Moçambique também será determinante para as contas da empresa.
“Os turistas estão à procura de novos horizontes e Moçambique apresenta uma solução única de turismo, que é do laser no mar, bem como a contemplação de animais. Com esta possibilidade, temos argumentos para atrair passageiros para o nosso país e para a região”, sublinhou.
Segundo a nossa fonte, no próximo mês de Dezembro será formalizado o lançamento do Aeroporto de Nacala como destino de tráfego internacional e espera-se que entre os meses de Março e Abril de 2016, as companhias aéreas que operam para Moçambique comecem a usar aquele aeroporto.
“Prevemos ter uma grande avalancha de tráfego a partir de Março do próximo ano, quando as companhias que operam na zona Norte passarem a usar Nacala. Temos estado em contacto directo com as companhias que operam na área do gás, que nos garantiram que o ponto de entrada para eles vai ser aquele aeroporto. Também estamos a trabalhar com a LAM para que tenha uma sub-base operacional em Nacala, de modo a propiciar a distribuição dos passageiros para os destinos finais”, afirmou.
Questionado se o Aeroporto de Nacala deverá ser o único na região Norte do país a processar voos internacionais, Emanuel Chaves disse que se trata de uma pretensão que já foi submetida às entidades competentes, assim como a respectiva fundamentação.
“Os chefes de Estado africanos assinaram um tratado em Abuja, segundo o qual até ao dia 31 de Dezembro de 2015 somente os aeroportos certificados devem receber tráfego internacional. Para o nosso caso específico, contamos até aquela data certificar somente os aeroportos de Maputo e Nacala. Se o Governo decidir implementar aquele tratado, nós só temos dois aeroportos disponíveis para receber tráfego internacional. Até Março do próximo ano prevemos certificar o Aeroporto da Beira”, argumentou.
Actualmente, o mercado de transporte aéreo moçambicano circunscreve-se em um milhão e setecentos mil passageiros, o que, comparado com as Ilhas Reunião, está muito aquém do desejado.
“Nós não temos o tráfego que poderíamos ter, exactamente porque a nossa estruturaaeroportuária e a designação de aeroportos internacionais mata o mercado doméstico. Com todo o potencial que nós temos no mercado doméstico, se tivermos uma escala maior, termos mais passageiros a virem directamente para o país e a fazerem ligações para o destino final a partir dos aeroportos nacionais, vamos dar melhor conveniência e maior frequência aos passageiros, o que vai permitir atingirmos a economia de escala e, consequentemente, reduzir os preços das passagens aéreas”, frisou.
REINVENTAR O MERCADO
No dizer de Chaves, há que reinventar o mercado de transporte aéreo, uma vez que, “se continuarmos como estamos”, com os aeroportos a “canibalizarem-se uns aos outros”, todos abertos ao tráfego internacional, “não poderemos ter um número grande de passageiros que se possa tornar atractivo”.
Falando acerca do retorno do investimento realizado no Aeroporto de Maputo, Emanuel Chaves disse que estão a verificar-se grandes benefícios e que a empresa Aeroportos de Moçambique regista um crescimento de receitas acima dos 10 por cento.
Referiu que no actual Aeroporto de Maputo existem muitos espaços comerciais para vender e infra-estruturas mais atractivas, sendo certo que nas previsões feitas na fase da sua construção esperava-se um crescimento de menos de 10 por cento em termos de receitas.
Nacala está entre Nairobi e Joanesburgo, que são os concorrentes directos. Nós podemos conseguir o mercado servindo países como Madagáscar, Maurícias, Malawi e Zâmbia, que não são bem servidos pelos aeroportos de Nairobi e de Joanesburgo. Em altura própria, os outros países reduziram os pontos de entrada, como é o caso do Quénia, destacou.
Chaves citou como exemplo o aeroporto de Adis-Abeba, na Etiópia, que saiu de níveis de dois milhões de passageiros há quase dez anos para a casa dos oito milhões por ano actualmente.
De notar que a construção, de raiz, do Aeroporto de Nacala representou um custo de 220 milhões de dólares norte-americanos.
CIDADE AEROPORTUÁRIA
A empresa Aeroportos de Moçambique pretende, paralelamente, levar a cabo um ambicioso projecto de edificação de uma Cidade Aeroportuária em Nacala, cujo arranque das obras deverá ser anunciado em Dezembro próximo.
“Estamos a trabalhar com instituições públicas baseadas em Maputo que pretendem ter a sua sede regional em Nacala ou no Norte, porque lá é onde há negócio, onde há-de haver uma expansão na área logística. Temos estado a receber solicitações e têm havido visitas para a identificação de espaços. A cidade aeroportuária será uma das alavancas para propiciar que o Aeroporto de Nacala seja a placa giratória por excelência”, referiu.
O presidente da ADM acrescentou que existem vários projectos no sentido de fazer um aproveitamento dos espaços ociosos em diversos aeroportos domésticos nacionais.
Conforme afirmou, foi feito o lançamento de um projecto de aproveitamento do espaço ocioso do Aeroporto de Nampula, havendo projectos para o Aeroporto de Mavalane, em Maputo. Prevê-se, naquele quadro, que sejam elaborados projectos para o Aeroporto de Pemba, em Cabo Delgado, bem como nos outros terminais aeroportuários.
Aeroporto da Beira vai ser modernizado
O Aeroporto da Beira, na capital da província de Sofala, vai ser modernizado a partir do próximo ano, no quadro de um projecto ambicioso desenhado pela empresa Aeroportos de Moçambique.
As obras de intervenção visando tal desiderato vão incidir sobre o terminal de passageiros, uma vez que os sistemas de navegação, de iluminação e as áreas de manobra foram actualizados em 2010.
Pretende-se, com a referida intervenção, dar uma melhor imagem daquele terminal aeroportuário, oferecendo melhores condições aos utentes, dentro de uma estratégia do mercado de transporte aéreo.
Benjamim Wilson
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