Escrito por Adérito Caldeira em 24 Novembro 2015 |
“Já passam quatro meses e não sai água nas torneiras e nos fontanários” conta-nos Bernardino Jone que nos explica que a fonte alternativa de água tem sido o rio Zambeze, que dista cerca de dois quilómetros do quarteirão 8 do bairro de Matundo onde reside com a sua família de oito pessoas. Este bairro está localizado há cerca de cinco quilómetros do centro da cidade de Tete, logo depois de atravessar a ponte Samora Machel. De acordo com Bernardino, com quem falámos telefonicamente, apesar do corte no fornecimento do precioso líquido, o FIPAG tem enviado as facturas de cobrança. “No mês passado as pessoas revoltaram-se com quem andava a trazer as facturas, mas nos três meses anteriores pagámos mesmo sem sair água”, desabafa. A empresa estatal responsável pelo fornecimento do precioso líquido explicou que as facturas cobram a pouca água potável que passa pelo contador neste período de restrições, “no momento em que a água sai o contador regista consumos que são suscetíveis de facturação”. Há dois anos que o nosso entrevistado é um dos 31 mil privilegiados por ser cliente do FIPAG em Tete, entre os mais de dois milhões de habitantes da província, e revela que quando a água saía só era distribuída durante a madrugada, entre “as 00 hora e as 05 horas, nunca saiu de dia”. O que Bernardino e os seus vizinhos faziam era encher os recipientes que podiam como forma de ter água potável ao longo do dia. Agora ele e os seus 1200 vizinhos, incluindo mulheres e crianças, têm de se dirigir ao rio Zambeze para encher os bidões e depois carregá-los como puderem para as suas residências.
Falta água também no bairro Mateus Sansão Muthemba
Também a enfrentar o drama da falta de água potável estão os residentes do bairro Mateus Sansão Muthemba, localizado a pouco mais de cinco quilómetros do centro do município de Tete. “Há mais de um mês e duas semanas que as torneiras jorram água”, disse-nos telefonicamente Nelito Ajuda, que é cliente do FIPAG em Tete desde 2012.Os cortes no fornecimento do precioso líquido são habituais, “às vezes sai durante 30 minutos num dia e depois ficamos três ou quatro dias sem sair”. Nelito revela-nos que a solução tem sido dirigirem-se para as margens do rio Chimadzi onde fazem poços e tiram o precioso líquido, correndo o risco de contrair doenças diarreicas ou mesmo cólera. “Quando este rio enche não é possível fazer os poços e como a água é turva temos de ir ao rio Zambeze”. Aí cerca de mil famílias disputam com os crocodilos para se abastecerem de água. Segundo as nossas fontes, o Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água não os informou sobre o que estaria a causar os cortes no fornecimento de água potável, nem quando a situação estará resolvida. Ao @Verdade o FIPAG em Tete explicou que a falta de água no bairro Matundo afecta cerca de um quarto dos seus 4.400 clientes que residem nas Unidades Cambinde, Nhamatica e Alberto Vaquina, “e deve-se ao facto de se encontrarem distantes do Centro Distribuidor e em cotas elevadas”. Situação similar verifica-se com 900 clientes no bairro Mateus Sansão Muthemba que vivem em “Unidades de cota elevada”. Em entrevista por correio electrónico o Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água, afirmou que existe “constante vandalização dos fontanários e adutoras de transporte” e explicou que “durante a época do verão a pressão dos clientes sobre os serviços de abastecimento de agua tem uma tendência ascendente resultando na redução de pressão para fazer com que o precioso liquido chegue nos pontos distantes e em alguns pontos altos dos bairro em referência”. Questionado sobre o que tem sido feito para alargar o abastecimento de água potável o FIPAG disse que está previsto para 2016 um projecto, cujo financiamento está já assegurado, com vista e solucionar definitivamente os problemas de escassez de água em alguns bairros da Cidade de Tete e da vila de Moatize. “O projecto consistirá no reforço da capacidade de produção e armazenamento com a contrução de 21 furos, dois centros distribuidores, construção de 25 quilómetros de conduta adutora, substituição e expansão da rede de distribuição em cerca de 175 quilómetros o que vai permitir a instalação de 20.000 ligações domiciliárias, reabilitação e duplicação da capacidade de tratamento em 10.000 m3/dia permitindo a expansão dos serviços para mais de 100 mil pessoas adicionais”. Contudo na província de Tete que 2007, de acordo o Censo, tinha 1,8 milhões de habitantes apenas 31 mil agregados familiares tinham em 2014 o privilégio de serem clientes do Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água. Apesar desta enorme carência no acesso a água potável, e do crescimento da população que quase duplicou, continuam a ser ínfimos os investimentos dos sucessivos Governos do partido Frelimo para inverter o drama. No primeiro Orçamento do Estado do Presidente Filipe Nyusi apenas 3.339.000,00 de meticais foram previstos para investimentos a serem realizados pela Administração regional de Águas do Zambeze. A título comparativo, só para as despesas de funcionamento do Gabinete do Governador de Tete em 2015, foi previsto um orçamento dez vezes superior, o que ilustra claramente que o acesso a água potável não é uma prioridade para o Executivo. |
"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Na terra do “El Dorado” do carvão falta água potável aos moçambicanos
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