06/07/2019
Filipe Nyusi está a ser alvo de chacota e críticas por causa da entrevista que deu em Portugal, que evidenciou fragilidades comunicativas. Mas também há quem seja contra o apontar de dedos e apresente argumentos.
Parte da entrevista que o Presidente de Moçambique concedeu a imprensa pública portuguesa nesta quinta-feira (04.07.) está a ser avaliada como desastrosa em termos de linguagem: dificuldades na construção frásica de composições simples, linguagem pouco cuidada, expressão facial, etc.
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O que terá determinado estas fragilidades, algum distúrbio de fala, nervosismo ou deficiente assessoria?
"É uma revelação muito óbvia da maneira como tratamos a comunicação política, que muitas vezes se demarca pela preservação das lideranças e muitas vezes pelo não confronto das ideias. Muitas vezes o Presidente aparece com discursos diretos e não de confronto como é feito nas entrevistas e isso não lhe permite um ensaio perfeito para lidar com espaços de debate. E era natural que numa situação dessas, em que o Presidente é confrontado com questões caóticas ter esse susto e que não conseguiu, em minha análise, retê-lo", opina o docente e especialista em comunicação, Ernesto Nhanale.
O especialista não vê com bons olhos a deficiência do "empregado do povo": "Penso que é uma prova negativa, se consideramos que um preparo sob o ponto de vista comunicacional é importante para um político, porque trabalha com a comunicação, este é um instrumento fundamental da política. E sendo Presidente da República esperamos que ele aperfeiçoe a técnica de comunicação por forma a fazer passar a sua mensagem."
Comunicação expontâneo e fragilidades de comunicação
Embora seja considerado um comunicador expontâneo, frontal e com discurso próximo das massas, em quase cinco anos de Presidência Filipe Nyusi também habituou o público a uma fragilidade comunicacional, mas nunca tinha atingido este expoente.
Convidado a avaliar a entrevista que concedeu em Portugal, o analista Vicente Manjate lembra que "o português não é língua materna [da maioria], os nossos pais não nasceram e nem cresceram a falar português. E ele, eventualmente por ter nascido em Cabo Delgado, deve ter socializado numa língua local e estudou fora e pode ter aprendido a falar uma outra língua."
E sai em salvação do Presidente: "Nós temos estado a ser expostos a língua portuguesa em ambientes de trabalho e é difícil termos as construções frásicas puramente em português. Então, não é algo para se satirizar ou martirizar o Presidente, está a criar-se uma sátira por isso, mas é a nossa realidade."
Entretanto, este questionamento não tem o intuito de "elitizar" a língua portuguesa, através da promoção da discriminação, e nem de o distanciar negativamente dos padrões discursivos impostos.
Elitismo vs clareza do discurso
O objetivo é questionar apenas a falta de clareza no seu discurso. É que mesmo em termos de conteúdo Filipe Nyusi também não terá sido bem sucedido. Numa clara tentativa de se defender quando questionado sobre assuntos polémicos do seu país, pautou-se por uma postura muito além de contundente, que roçava a agressividade.
Vicente Manjate tem uma justificação: "Acho que lhe fizeram perguntas embaraçosas, que em certa medida, em termos éticos, deveriam ter sido feitas de forma diferente. Sendo Presidente da República penso que ficou embaraçado com as perguntas que lhe forma colocadas."
De qualquer modo, a postura do Presidente deixa subjacente a ideia de uma insatisfação em relação a uma "mão externa" e a imprensa, neste caso internacional, que estaria a servir a esses interesses "obscuros". Motivos, como líder de uma nação, há-de ter...
DW – 05.07.2019
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