"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 19 de outubro de 2018

"Não há informações de a Renamo ter rasgado o Memorando, mas a simpática troca de mimos, na AR, entre Margarida Talapa e Ivone Soares, dá azo a especulações"


Listen to this post. Powered by iSpeech.org
XÍCARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
O país está preso por um fio, com o receio de, a qualquer momento, quebrar e tudo ir por água-abaixo, como sói dizer-se. Cabe às pessoas que dirigem os destinos de Moçambique tomarem posição, séria e responsável, sob o risco de se deitar tudo a perder. 
Ontem, o presidente Filipe Nyusi veio dizer aos moçambicanos que as eleições autárquicas da semana passada foram limpas, limpinhas, em contra-senso ao coro de protesto vindo dos observadores nacionais, que antes, durante e depois do processo, estiveram no terreno. 
Todos eles, em uníssono, garantem que a edição deste ano foi um fiasco, e apontam dedos acusadores em diversas direcções. Há relatos de mortes, feridos até de gente a ser torturada nas celas, ainda perseguições e intimidação, num role onde os jornalistas e os padres não escapam. Mas o presidente da República não assume isso, e vai daí aplaudir tudo ter sido bem e exemplo a assinalar. 
É certo que Filipe Nyusi quís assumir o seu papel de estadista, e fê-lo bem quando, a dado momento, apela os moçambicanos à calma e a contenção. Mas daí a rotular o processo de exemplar, vai uma longa distância. Este o primeiro cenário triste. Há um segundo, não menos preocupante. 
Em agosto, Ossufo Momade foi co-autor da assinatura do Memorando de Entendimento sobre questões militares. Na primeira quinzena de outubro, na esteira das autarquias, Momade apareceu em dois momentos a pôr em causa o próprio documento que assinou dois meses atrás. Estava chateado. 
Ameaçou romper com aquele Memorando e requisitar os famigerados ‘Rangers’, para ombrearem com a polícia, disposta a fomentar agitação defronte das mesas de voto, permitindo o furto das urnas. 
Os ‘Rangers’ não foram vistos. Não há informações de a Renamo ter rasgado o Memorando, mas a simpática troca de mimos, na AR, entre Margarida Talapa e Ivone Soares, dá azo a especulações. 
Primeiro, Talapa a apelar para que a Renamo cumpra o compromisso assumido, e, a dado momento, ela dá a entender que o processo está, no mínimo, em risco. 
Depois, Ivone Soares a renovar os termos que devem ser seguidos para um Desarmamento limpo, limpinho. E toca na velha canção da despartidarização do Estado. 
Mensagens curtíssimas mas de longo alcance. Há alí qualquer coisa que não deve estar a funcionar a contento. Mais. Num curtíssimo espaço, o governo encetou mudanças que nos deixaram boquiabertos. 
Elias Dhlakama, a pedido, exonerado das FADM. Dois oficiais superiores das FADM exonerados, eles que ocupavam departamentos cruciais – inteligência militar e operações militares. 
Na ocasião, o PR manda postar o Memorando de Entendimento assinado na Beira, mais de dois meses depois. 
Enfim, são muitas as razões que nos levam a questionar se o processo DDR está a correr, ou interrompido. Os moçambicanos precisam saber.
EXPRESSO – 19.10.2018

Sem comentários:

Enviar um comentário